A alegria e a “fraqueza” de Deus para com os pecadores reencontrados

Na homilia em Santa Marta, Papa Francisco recorda a solicitude do Bom Pastor para com a ovelha perdida que triunfa sobre a “murmuração hipócrita” dos homens

Por Luca Marcolivio

ROMA, 07 de Novembro de 2013 (Zenit.org) – Jesus, os fariseus e os publicanos, o pecado e a hipocrisia, a ovelha perdida. Esta manhã, durante a homilia na Santa Marta, Papa Francisco voltou com uma das ‘chaves de leitura’ de sua pregação: a misericórdia de Deus que triunfa sobre o mal e a mesquinhez dos homens.

O Evangelho de hoje (cf. Lc 15,1-10), explicou o Papa, mostra o espanto dos escribas e fariseus em relação a Jesus, percebido como uma “ameaça” por sua proximidade com os pecadores e que, por essa razão, “ofende a Deus” e “contamina o ministério do profeta”.

Mas Jesus tacha a “música da hipocrisia” de seus adversários e a “murmuração hipócrita” deles, e responde com uma “alegre parábola” em que destaca a “alegria de Deus” diante da ação de seu Filho que perdoa os pecadores.

De fato, Deus “não gosta de perder”, então, vai em busca “daqueles que estão longe dEle. Como o pastor que vai em busca da ovelha perdida”. Seu “trabalho” é buscar qualquer criatura e “convidar para a festa de todos, bons e maus”.

Deus não quer perder nenhum dos seus, assim como Jesus revela na oração da Quinta-feira Santa: “Pai, que não se perda nenhum daqueles que tu me deste”.

Em sua busca pelos homens, Deus ” tem uma certa fraqueza de amor para com aqueles que estão mais distantes, que estão perdidos”, disse o Papa. Esta busca não para, como o pastor do Evangelho de hoje, que procura incansavelmente sua ovelha ou como a mulher da parábola ” que quando perde uma moeda acende a luz, varre a casa e procura cuidadosamente”.

O reencontro da ovelha perdida, no entanto, não diz respeito apenas a ela e ao pastor, mas deve envolver as noventa e nove restantes que permaneceram no campo, e ninguém lhe pode dizer mas “tu és uma de nós” para que volte a ganhar a “dignidade”. Sem distinção, “Deus coloca tudo nos seus lugares” e ao fazê-lo “se alegra” sempre.

“A alegria de Deus não é a morte do pecador, mas a sua vida”, acrescentou o Santo Padre, destacando o comportamento daqueles que “murmuravam contra Jesus”: pessoas “distantes do coração de Deus”, que “não o conheciam”, que identificavam o ser religioso pela boa educação. Esta atitude, no entanto, não tem nada a ver com a fé, mas apenas com a “hipocrisia de murmurar”.

A alegria de Deus é “aquela do amor” que vai infinitamente além de nossa vergonha, e do nosso senso de indignidade. Se um homem diz: “Eu sou um pecador “, a resposta de Deus será sempre: “Eu te amo do mesmo jeito e eu vou encontrá-lo e levá-lo para casa”.

Todos os pecadores precisam do perdão de Deus: mesmo o papa se confessa a cada 15 dias

Audiência geral: Francisco lembra que a Igreja é a serva do ministério da misericórdia e convida os sacerdotes a não “maltratar” os fiéis na confissão.

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 20 de Novembro de 2013 (Zenit.org) – Padres, bispos e até mesmo papas têm ao menos uma coisa em comum: todos são pecadores necessitados do perdão de Deus, que só pode ser experimentado através do sacramento da reconciliação.

Na audiência geral de hoje, o papa Francisco voltou a reafirmar um dos seus conceitos mais queridos: a infinita misericórdia de Deus, que não se cansa de oferecer aquele perdão de que, como cristãos, todos nós precisamos constantemente. Até mesmo o papa, chefe da Igreja universal, precisa receber o abraço reconciliador de Deus. “O papa também se confessa a cada duas semanas, porque o papa também é um pecador”, disse Bergoglio.

Retomando o tema da última quarta-feira, sobre o perdão dos pecados no batismo, o Santo Padre acrescentou hoje outro assunto: o “poder das chaves”, símbolo bíblico da missão que Jesus deu aos Apóstolos. “Em primeiro lugar, temos que nos lembrar de que o protagonista do perdão dos pecados é o Espírito Santo”, enfatiza Bergoglio, recordando que o Cristo Ressuscitado, na Última Ceia, soprou sobre os Apóstolos e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; a quem os não perdoardes, ser-lhes-ão retidos”. Jesus, transfigurado em seu corpo, disse o papa, já é o homem novo, que nos oferece os dons da Páscoa, o fruto da sua morte e ressurreição: a paz, a alegria, o perdão dos pecados, a missão, mas, acima de tudo, o Espírito Santo, que é a fonte de tudo isso”.

O sopro de Jesus, prossegue o Santo Padre, transmite “a vida nova regenerada pelo perdão”. O Messias, no entanto, realiza antes outro gesto: “mostra as feridas nas suas mãos e no seu lado”, feridas que “representam o preço da nossa salvação”. É através das chagas de Cristo que o Espírito Santo traz o perdão de Deus, diz o papa. A partir daí, esse poder passa para os Apóstolos.

Por este motivo, é dito que a Igreja é “a depositária do poder das chaves”. Depositária e não dona, precisa Francisco, no sentido de que a Igreja “é a serva do ministério da misericórdia e se alegra todas as vezes que pode oferecer esse presente divino”. Desta forma, “Jesus nos chama a viver a reconciliação na dimensão eclesial, comunitária”. A Igreja, portanto, “que é santa e sempre necessitada de penitência”, nos acompanha no nosso caminho de conversão durante toda a vida.

Mas nem todos percebem hoje essa “dimensão eclesial do perdão”, observa o Sucessor de Pedro, porque estão cegados pelo “individualismo” e pelo “subjetivismo” que assola os próprios cristãos. É verdade: o perdão de Deus a cada pecador arrependido ocorre em uma dimensão íntima e pessoal, “mas o cristão está ligado a Cristo e Cristo está unido à Igreja”. Assim, para os cristãos, há “um presente a mais”, e, ao mesmo tempo, um “esforço a mais”: o de passar “humildemente pelo ministério da Igreja”.

Neste sentido, o sacerdote se torna uma “ferramenta para o perdão dos pecados”. O padre confessor que, como todos os outros, “é um homem que precisa de misericórdia”, se torna verdadeiramente um “instrumento da misericórdia” que nos é dada pelo “amor sem limites de Deus Pai”. Não tem fundamento a teoria daqueles que evitam o sacramento da reconciliação porque se confessam “diretamente com Deus”: “Deus sempre escuta”, diz o papa, mas é no confessionário que “ele envia um irmão para trazer o perdão em nome da Igreja”.

Por isso mesmo, o papa também precisa recorrer à confissão com frequência. O confessor “ouve as coisas que eu lhe digo, me aconselha e me perdoa, porque todos nós precisamos desse perdão”.

Por outro lado, o sacerdote é chamado ainda a perdoar os pecados, isto é, a realizar um “serviço” como “ministro de Deus”. Uma tarefa extremamente “delicada”, observa o papa, que “exige que o seu coração esteja em paz, que ele não maltrate os fiéis, mas seja leve, benevolente e misericordioso, que saiba semear esperança no coração”. Acima de tudo, ele deve ser “consciente de que o irmão ou irmã que se aproxima do sacramento da reconciliação está procurando o perdão e é como se estivesse se aproximando de Jesus para que Ele o cure”. Se um padre não tem “esse estado de espírito”, afirmou o papa,”é melhor que ele não administre este sacramento até corrigi-lo”, porque “os fiéis têm o direito de encontrar nos sacerdotes os servos do perdão de Deus”.

Não há pecado que possa cancelar da memória e do coração de Deus um filho

Papa Francisco recorda que Jesus é misericordioso e nunca se cansa de perdoar

CIDADE DO VATICANO, 03 de Novembro de 2013 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de Lucas deste domingo nos mostra Jesus que, em seu caminho rumo a Jerusalém, entra na cidade de Jericó. Esta é a última etapa de uma viagem que resume em si o sentido de toda a vida de Jesus, dedicada a procurar e salvar as ovelhas perdidas da casa de Israel. Mas quanto mais no caminho aproxima-se da meta, mais em torno de Jesus forma-se um círculo de hostilidade.

No entanto, em Jericó, acontece um dos eventos mais alegres narrados por São Lucas: a conversão de Zaqueu. Este homem é uma ovelha perdida, é desprezado, é um “excomungado”, porque é um publicano, antes, é o chefe dos cobradores de impostos da cidade, amigo dos odiados ocupantes romanos, é um ladrão e um explorador. Bela figura, não é? É assim.

Impedido de aproximar-se de Jesus, provavelmente por motivo de sua má fama, e sendo baixo de estatura, Zaqueu sobe em uma árvore para poder ver o Mestre que passa. Este gesto exterior, um pouco ridículo, exprime, porém, o ato interior do homem que procura colocar-se sobre a multidão para ter um contato com Jesus. O próprio Zaqueu não sabe o sentido profundo de seu gesto; não sabe por que faz isto, mas o faz; nem sequer ousa esperar que possa ser superada a distância que o separa do Senhor; conforma-se em vê-Lo somente de passagem. Mas Jesus, quando chega próximo àquela árvore, chama-o pelo nome: “Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa” (Lc 19, 5). Aquele homem baixo de estatura, rejeitado por todos e distante de Jesus é como perdido no anonimato; mas Jesus chama-o, e aquele nome Zaqueu, naquelas línguas daquele tempo, tem um belo significado cheio de alusões: “Zaqueu” de fato quer dizer “Deus recorda”. É belo: “Deus recorda”.

E Jesus vai àquela casa de Zaqueu, suscitando as críticas de todo o povo de Jericó. Porque também naquele tempo se fofoca muito, né? E o povo dizia: “Mas como? Com todas as bravas pessoas que há na cidade, vai hospedar-se justamente na casa de um publicano?” Sim, porque ele estava perdido; e Jesus diz: “Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão” (Lc 19, 9). Na casa de Zaqueu, a partir daquele dia, entrou a alegria, entrou a paz, entrou a salvação, entrou Jesus.

Não existe profissão ou condição social, não há pecado ou crime de qualquer gênero que possa cancelar da memória e do coração de Deus um filho sequer. “Deus recorda”, sempre, não esquece nenhum daqueles que criou; Ele é Pai, sempre à espera vigilante e amorosa de ver renascer no coração do filho o desejo de retornar à casa. E quando reconhece este desejo, mesmo que simplesmente manifestado, e tantas vezes quase inconsciente, imediatamente põe-se a seu lado, e com o seu perdão lhe torna mais leve o caminho da conversão e do retorno. Mas olhemos para Zaqueu hoje na árvore: é ridículo, mas é um gesto de salvação. E eu digo a você: se você tem um peso na consciência, se você tem vergonha de tantas coisas que cometeu, pare um pouco, não se desespere, pense que Um te espera, porque nunca deixou de se lembrar de você, de pensar em você. E este é o teu Pai, é Deus, é Jesus que te espera! Suba, como fez Zaqueu; sai sobre a árvore da vontade de ser perdoado. Eu te asseguro que não te decepcionarás. Jesus é misericordioso e nunca se cansa de perdoar. Lembre-se bem, sim? Assim é Jesus.

Irmãos e irmãs, deixemo-nos também nós sermos chamados pelo nome por Jesus! No fundo do coração, escutemos a sua voz que nos diz: “Hoje devo parar na tua casa; eu quero parar na tua casa e no teu coração”, isso é, na tua vida. E vamos acolhê-Lo com alegria: Ele pode mudar-nos, pode transformar o nosso coração de pedra em coração de carne, pode livrar-nos do egoísmo e fazer da nossa vida um dom de amor. Jesus pode fazê-lo. Deixe-se olhar por Jesus.

(Trad.: Jéssica Marçal/CN noticias)