A alegria e a “fraqueza” de Deus para com os pecadores reencontrados

Na homilia em Santa Marta, Papa Francisco recorda a solicitude do Bom Pastor para com a ovelha perdida que triunfa sobre a “murmuração hipócrita” dos homens

Por Luca Marcolivio

ROMA, 07 de Novembro de 2013 (Zenit.org) – Jesus, os fariseus e os publicanos, o pecado e a hipocrisia, a ovelha perdida. Esta manhã, durante a homilia na Santa Marta, Papa Francisco voltou com uma das ‘chaves de leitura’ de sua pregação: a misericórdia de Deus que triunfa sobre o mal e a mesquinhez dos homens.

O Evangelho de hoje (cf. Lc 15,1-10), explicou o Papa, mostra o espanto dos escribas e fariseus em relação a Jesus, percebido como uma “ameaça” por sua proximidade com os pecadores e que, por essa razão, “ofende a Deus” e “contamina o ministério do profeta”.

Mas Jesus tacha a “música da hipocrisia” de seus adversários e a “murmuração hipócrita” deles, e responde com uma “alegre parábola” em que destaca a “alegria de Deus” diante da ação de seu Filho que perdoa os pecadores.

De fato, Deus “não gosta de perder”, então, vai em busca “daqueles que estão longe dEle. Como o pastor que vai em busca da ovelha perdida”. Seu “trabalho” é buscar qualquer criatura e “convidar para a festa de todos, bons e maus”.

Deus não quer perder nenhum dos seus, assim como Jesus revela na oração da Quinta-feira Santa: “Pai, que não se perda nenhum daqueles que tu me deste”.

Em sua busca pelos homens, Deus ” tem uma certa fraqueza de amor para com aqueles que estão mais distantes, que estão perdidos”, disse o Papa. Esta busca não para, como o pastor do Evangelho de hoje, que procura incansavelmente sua ovelha ou como a mulher da parábola ” que quando perde uma moeda acende a luz, varre a casa e procura cuidadosamente”.

O reencontro da ovelha perdida, no entanto, não diz respeito apenas a ela e ao pastor, mas deve envolver as noventa e nove restantes que permaneceram no campo, e ninguém lhe pode dizer mas “tu és uma de nós” para que volte a ganhar a “dignidade”. Sem distinção, “Deus coloca tudo nos seus lugares” e ao fazê-lo “se alegra” sempre.

“A alegria de Deus não é a morte do pecador, mas a sua vida”, acrescentou o Santo Padre, destacando o comportamento daqueles que “murmuravam contra Jesus”: pessoas “distantes do coração de Deus”, que “não o conheciam”, que identificavam o ser religioso pela boa educação. Esta atitude, no entanto, não tem nada a ver com a fé, mas apenas com a “hipocrisia de murmurar”.

A alegria de Deus é “aquela do amor” que vai infinitamente além de nossa vergonha, e do nosso senso de indignidade. Se um homem diz: “Eu sou um pecador “, a resposta de Deus será sempre: “Eu te amo do mesmo jeito e eu vou encontrá-lo e levá-lo para casa”.

O demônio existe, lembra o Papa

Em sua homilia matinal, o Santo Padre recordou a existência do demônio e pediu para os cristãos não “relativizarem” a luta contra o mal

Em homilia hoje na Casa Santa Marta, o Papa Francisco lembrou a existência do diabo e pediu que os fiéis não “relativizassem” a luta contra as potências do mal.

O Evangelho da Missa narra que “Jesus estava expulsando um demônio” (Lc 11, 14). O Santo Padre comentou: “Há alguns padres que quando leem esta passagem do Evangelho, esta e outras, dizem: ‘Mas Jesus apenas curou uma pessoa que tinha uma doença psíquica’. Não leram isso aqui, não é? É verdade que naquele tempo podia confundir-se a epilepsia com a possessão do demônio; mas também é verdade que havia o demônio!”

O Papa disse que “não temos o direito de simplificar tanto as coisas”. E frisou: “A presença do demônio está na primeira página da Bíblia e a Bíblia acaba também com a presença do demônio, com a vitória de Deus sobre o demônio”.

Mais adiante, São Lucas escreve: “Quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou” (11, 22). Francisco pediu aos cristãos que se examinassem. “Podemos perguntar-nos: ‘Eu vigio-me, vigio o meu coração, os meus sentimentos, os meus pensamentos? Guardo o tesouro da graça? Guardo a presença do Espírito Santo em mim? Ou deixo-o assim, seguro, com a certeza que está tudo bem?'”.

Sua Santidade lembrou a importância de “vigiar o nosso coração, porque o demônio é astuto”. Ele “nunca é expulso para sempre! Só no último dia o será”.

Ainda no Evangelho de hoje, Jesus fala: “Quem não está comigo está contra mim. E quem não recolhe comigo dispersa” (11, 23). O Santo Padre repetiu o ensinamento de Cristo e advertiu: “Não se pode ficar a meio caminho”.

O Papa invocou a Deus a graça de levar a sério estas coisas. “‘Mas, Padre, o senhor é bocado antiquado, está a assustar-nos com estas coisas…’ Não, eu não! É o Evangelho! E isto não são mentiras, é a Palavra do Senhor! (…) Ele veio lutar pela nossa salvação. Ele venceu o demônio! Por favor, não façamos negócios com o demônio! Ele tenta voltar para casa e tomar de posse de nós… Não relativizar, vigiar! E sempre com Jesus!”

Por Equipe Christo Nihil Praeponere | Fonte: Rádio Vaticano

“Contemplar o sofrimento de Jesus é o único caminho para o perdão”

Durante a homilia em Santa Marta, papa Francisco exorta a imitar a “graça da humildade de Maria

Por Luca Marcolivio

ROMA, 12 de Setembro de 2013 (Zenit.org) – O perdão cristão é exercitado contemplando a paixão e humanidade de Jesus, imitando o comportamento de sua mãe. A partir disso, o Papa Francisco articulou sua homilia durante a missa desta manhã em Santa Marta, na festa do Santo Nome de Maria.

A liturgia de hoje, afirmou o Papa, já foi chamada de “doce nome de Maria”, mas também hoje, embora com um nome diferente”, permanece a doçura do seu nome”.

A doçura de Maria, continuou o Santo Padre, é necessária para “entender essas coisas que Jesus nos pede”, ou seja, “amai os vossos inimigos, fazei o bem, emprestai sem esperar nada”. Todas as “coisa fortes” que Maria também viveu com a “graça da mansidão” e “a graça da humildade”.

As mesmas virtudes são invocadas por São Paulo na primeira leitura (Col 3,12-17) de hoje, quando o apóstolo dos gentios fala de “sentimentos de ternura, bondade, humildade, mansidão”. Uma disposição deste tipo não só é longe de ser óbvia, mas é impossível alcançá-la “apenas com o nosso esforço; somente a “graça” pode nos ajudar neste processo.

Esta graça passa pelo “pensar em Jesus somente ” ou através de sua contemplação: se com o coração e a mente nos unimos a Ele, que venceu a morte, o pecado, o diabo”, será possível conseguir o que nos pede Jesus e, da mesma maneira, São Paulo.

Nosso esforço será o de “pensar sobre o seu silêncio manso” e Jesus “fará tudo o que falta”. A vida do homem está escondida “em Deus com Cristo”. Não há outro caminho fora da “contemplação da humanidade de Jesus, da humanidade sofredora”, continuou o Papa.

Contemplar o sofrimento de Jesus é o único caminho possível para sermos “bons cristãos”, para “não odiar o próximo”, para “não falar contra o próximo”, concluiu.

“O coração da mensagem de Deus é a misericórdia”

Homilia do papa Francisco na missa desta sexta-feira, concelebrada com cardeal venezuelano

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 05 de Julho de 2013 (Zenit.org) – “O coração da mensagem de Deus é a misericórdia”, destacou hoje o papa Francisco na missa da Casa Santa Marta, comentando o evangelho sobre a vocação de Mateus. Concelebrou com ele o cardeal Jorge Liberato Urosa, arcebispo de Caracas, no dia da festa nacional da Venezuela. Assistiu à missa um grupo de funcionários do Vaticano.

“Eu quero misericórdia e não sacrifício”: o papa repete as palavras de Jesus aos fariseus, que o criticam por comer com os pecadores. Os publicanos, explica o papa, “eram duplamente pecaminosos, porque estavam apegados ao dinheiro e porque eram traidores da pátria”, já que recolhiam os impostos do seu próprio povo para entregar aos romanos. Jesus vê Mateus, o arrecadador de impostos, e olha para ele com misericórdia:

“Jesus olha para aquele homem, sentado na banca de impostos, e aquele homem sente algo no olhar de Jesus, fica maravilhado no espírito, e escuta o convite de Jesus: ‘Segue-me! Segue-me!’. E naquele momento, ele se torna um homem cheio de alegria, mas também fica um pouco em dúvida, porque é muito apegado ao dinheiro. E basta um momento a sós, que nós sabemos como Caravaggio conseguiu expressar: aquele homem que olhava, mas que também, com as mãos, segurava o dinheiro… basta um momento a sós com Jesus para que Mateus diga ‘sim’, abandone tudo e vá atrás do Senhor. É o momento da misericórdia recebida e acolhida: ‘Sim, eu vou contigo!’. É o primeiro momento do encontro, uma experiência espiritual profunda”.

“Depois vem um segundo momento: a festa. Jesus faz festa com os pecadores”: celebra a misericórdia de Deus, que “muda a vida”. Depois desses dois momentos, o estupor do encontro e a festa, vem “o trabalho diário”, o anúncio do evangelho:

“Esse trabalho tem que ser alimentado com a lembrança daquele primeiro encontro, daquela festa. E isso não é apenas um momento, é um tempo: até o fim da vida. A lembrança. Lembrança de quê? Daqueles fatos! Daquele encontro com Jesus que mudou a minha vida! Quando Ele teve misericórdia! Quando Ele foi tão bom comigo e me disse: ‘Convida os teus amigos pecadores, para fazermos uma festa!’. Essa lembrança dá forças a Mateus para seguir em frente. ‘Jesus mudou a minha vida! Eu encontrei o Senhor’. Recordar sempre. É como soprar as brasas daquela lembrança, não é mesmo? Soprar para manter o fogo sempre aceso”.

Nas parábolas evangélicas, fala-se da recusa de muitos convidados à festa do Senhor. Por isso, Jesus foi “buscar os pobres, os doentes, e fez a festa com eles”.

“E Jesus, continuando com esse costume, celebra com os pecadores e oferece aos pecadores a graça. ‘Eu quero misericórdia, e não sacrifícios. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores’. Ele veio por nós, pecadores, e é isto o que é bonito. Deixemo-nos olhar pela misericórdia de Jesus, façamos festa e guardemos a lembrança desta salvação!”

“Filho de Deus”: uma carteira de identidade que ninguém pode nos tirar

Homilia em Santa Marta: Papa Francisco nos lembra que, graças ao sacrifício amoroso de Cristo, ganhamos a filiação divina e o perdão dos pecados

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 04 de Julho de 2013 (Zenit.org) –  “Nome? Filho de Deus. Estado Civil? Livre!”. Se podemos nos orgulhar desses dados em nossa “carteira de identidade” de cristãos, é graças a Jesus Cristo, que nos salvou. A homilia do papa Francisco na missa de hoje se destaca pela originalidade com que ele transmite a mensagem que, basicamente, é a mesma de todos os dias: a infinita misericórdia de Deus.

Na missa concelebrada com o cardeal indiano Telesphore Placidus Toppo, arcebispo de Ranchi, o Santo Padre focou no evangelho do dia, que narra a cura milagrosa de um paralítico por Jesus. Em particular, as palavras iniciais de Cristo, de acordo com o pontífice, são a chave de toda a passagem: “Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados”.

A frase irrita os escribas, que se queixam e o acusam de blasfêmia, “porque só Deus pode perdoar os pecados”. Talvez, até mesmo o paralítico, disse o papa, continua “desconcertado”, porque o que ele desejava “era ser curado fisicamente”. Jesus, porém, realiza de fato o milagre e cura o homem também no corpo. Mas, no fundo, “as curas, o ensinamento, as palavras fortes contra a hipocrisia, eram apenas um sinal de algo mais que Jesus estava fazendo”: perdoar os pecados.

Este é o “milagre mais profundo”, disse Francisco: “Essa reconciliação é a recriação do mundo. Esta é a missão mais profunda de Jesus. A redenção de todos nós, pecadores…”. Cristo faz esse milagre não “com as palavras”, nem “com gestos”, nem “caminhando pela estrada”, disse Bergoglio. Ele “faz isto com a sua carne. É Ele, Deus, quem se torna um de nós, homem, para nos curar por dentro, a nós, pecadores”. Ele nos liberta do pecado tomando sobre si próprio “todo o pecado”, afirmou.

Jesus “desce da sua glória e se abaixa até a morte e morte de cruz”. Mas é precisamente esta “a sua glória” e, ao mesmo tempo, “a nossa salvação”. “Este é o maior milagre”, disse o pontífice, através do qual Jesus “nos torna filhos, com a liberdade dos filhos”.

Em virtude desse gesto de amor divino infinito, “nós podemos dizer ‘Pai’”, e dizê-lo “com uma atitude tão boa e tão bela, com liberdade!”. “Nós, escravos do pecado”, ressaltou o papa, estamos livres graças a Jesus Cristo. Fomos curados “no profundo da nossa existência”.

“Pensar nisso nos fará bem, pensar no maravilhoso que é ser filho! É tão linda a liberdade dos filhos, porque o filho está em casa e Jesus nos abriu as portas de casa… Agora nós estamos em casa!”, disse Bergoglio. Este fato esclarece as palavras já citadas no evangelho de hoje: “Coragem, filho, teus pecados estão perdoados”. “Essa”, disse o papa, “é a raiz da nossa coragem. Eu sou livre, eu sou filho… O Pai me ama e eu amo o Pai”.

A graça a pedir hoje é a de “compreender bem essa obra” de Deus, que “reconciliou consigo o mundo em Cristo, confiando-nos a palavra da reconciliação” e a graça “de levar adiante, com força, com a liberdade dos filhos, a palavra da reconciliação”. “Nós fomos salvos em Jesus Cristo”, concluiu o Santo Padre, e “ninguém pode nos roubar essa carteira de identidade. Eu me chamo assim: Filho de Deus! Que bela carteira de identidade! Estado civil: livre!”.

Beijar as feridas dos pobres e dos necessitados para encontrar o Deus vivo

Homilia do Papa Francisco: Só existe uma forma de realmente conhecer a Cristo – beijar as suas feridas nas pessoas que sofrem

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 03 de Julho de 2013 (Zenit.org) – São Tomé “foi um teimoso”, mas “Cristo quis justamente um teimoso” para afirmar plenamente a sua divindade. O papa Francisco, na missa de hoje na Casa Santa Marta, lança nova luz sobre a figura do apóstolo cuja festa litúrgica é celebrada hoje e que se tornou conhecido na história como “o incrédulo”.

Partindo do seu gesto de querer “tocar nas chagas de Cristo para acreditar”, o Santo Padre deu hoje mais uma indicação a quem quer seguir o caminho que leva até Deus: beijar as feridas de Jesus em nossos irmãos em necessidade.

Comentando o evangelho do dia, que fala da aparição de Jesus aos apóstolos depois da ressurreição, o papa destacou a ausência de Tomé. Um fato não casual: Cristo, disse o papa, “quis que ele esperasse uma semana”. Ele “sabe por que faz as coisas” e “dá para cada um de nós o tempo que acha melhor. Para Tomé, Ele deu uma semana”.

Quando o apóstolo vê Jesus se revelando com o seu corpo “limpo, belíssimo e cheio de luz”, mas ainda coberto de chagas, é “convidado a colocar o dedo na ferida dos pregos, a colocar a mão em seu lado trespassado”. Tomé, fazendo este gesto, “não disse ‘É verdade: o Senhor ressuscitou’, mas foi ainda mais longe”, disse o papa. Tomé afirmou: “Deus!” e o adorou, tornando-se “o primeiro dos discípulos a fazer a confissão da divindade de Cristo após a ressurreição”.

Isso explica “a intenção do Senhor ao fazê-lo esperar”, disse Bergoglio: “levar a sua descrença não apenas à afirmação da ressurreição, mas à afirmação da sua divindade”. Porque há somente um caminho “para o encontro com Jesus-Deus: as suas feridas. Não há outro”.

“Na história da Igreja”, prosseguiu Francisco, “houve alguns enganos no caminho rumo a Deus”. Alguns, disse ele, “acreditaram que o Deus vivo, o Deus dos cristãos, pode ser encontrado no caminho da meditação, indo ‘mais alto’ na meditação. Isso é perigoso”, alertou: “muitos se perderam nessa estrada, porque, mesmo que até possam ter chegado ao conhecimento de Deus, nunca chegaram ao de Jesus Cristo, Filho de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade”. É como “o caminho dos gnósticos”, disse o pontífice, que “são bons, que trabalham”, mas que não seguem o “caminho certo”, e sim outro caminho “muito complicado”, que “não leva a bom porto”.

Há outros, disse o Santo Padre, que “pensaram que, para chegar até Deus, devemos nos mortificar, ser austeros, e escolheram o caminho da penitência e do jejum”. Nem estes, no entanto, “chegaram até o Deus vivo, até Jesus Cristo Deus vivo”. Eles “são os pelagianos, que acreditam que podem chegar lá com o seu próprio esforço”, e que, portanto, erram completamente o caminho indicado por Jesus Cristo para encontrá-lo, isto é, “as suas chagas”.

O problema é entender como e onde estão essas chagas de Cristo. O papa Francisco respondeu a esta pergunta afirmando: “Nós encontramos as feridas de Jesus fazendo as obras de misericórdia, ao corpo e à alma, e eu destaco ‘ao corpo’, dos nossos irmãos e irmãs que sofrem, que passam fome, que têm sede, que estão nus, que são humilhados, que são escravos, que estão presos, que estão no hospital”.

“Essas são as chagas de Jesus hoje”, reiterou, “e Jesus nos pede um ato de fé nele através destas chagas”. É muito bom criar uma fundação para ajudar os necessitados, “mas se ficarmos só nesse âmbito, seremos apenas filantrópicos. Temos que tocar nas chagas de Jesus, acariciar as feridas de Jesus, cuidar das feridas de Jesus com ternura, temos que beijar as chagas de Jesus, e isso literalmente”. Como São Francisco, que, depois de abraçar o leproso, “viu a sua vida mudar”.

Em essência, concluiu o papa, “não precisamos de um curso de reciclagem para tocar no Deus vivo”, mas “simplesmente sair às ruas”, indo procurar, encontrar e tocar nas chagas de Cristo em quem é pobre, frágil, marginalizado. Uma coisa que não é simples nem natural. Por esta razão, exortou o Santo Padre, “peçamos a São Tomé a graça de ter a coragem de entrar nas feridas de Jesus com a nossa ternura e certamente teremos a graça de adorar o Deus vivo

“Saudade” e “curiosidade” nos amarram ao pecado

Na homilia de hoje o Papa Francisco exorta a ser corajosos em meio à fraqueza para continuar seguindo a estrada de nosso Senhor

Por Luca Marcolivio

ROMA, 02 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Fugir do pecado, deixando-o para trás sem “saudades”: foi em torno a este assunto difícil que o papa Francisco articulou a homilia desta manhã, na Casa Santa Marta.

Participou da missa um grupo de sacerdotes e funcionários do Tribunal da Penitenciaria Apostólica, um grupo da Pontifícia Academia Eclesiástica e, como concelebrantes, o cardeal Manuel Monteiro de Castro e dom Beniamino Stella.

Nas situações “difíceis” ou “de conflito”, explicou o papa, as atitudes recorrentes são quatro: a primeira é a da “lentidão”, encontrada hoje em Lot, o protagonista da primeira leitura (cf. Gn 19,15-29).

Quando o anjo o aconselha a deixar para trás a sua cidade destruída, Lot obedece, mas com bastante hesitação: ele sofre “a incapacidade do desapego do mal e do pecado”. Por esta razão, começa até a negociar com o anjo.

Embora as situações de pecado sejam muitas vezes difíceis de superar, nosso Senhor sempre nos diz: “Fuja! Você não consegue lutar ali, porque o fogo e o enxofre vão matar você”.

Quem seguiu à risca este princípio foi Santa Teresinha do Menino Jesus, que reconhecia que, em determinadas tentações, “nós somos fracos e temos que fugir”: mas é uma fuga “para frente, para avançar no caminho de Jesus”, disse o Santo Padre.

O anjo disse a Lot: “Não olhes para trás”. Pediu-lhe vencer “a saudade do pecado”, na qual tinha caído o povo de Deus no deserto quando sentiu “saudades das cebolas do Egito”, esquecendo-se que aquelas cebolas eram servidas “à mesa da escravidão”.

É preciso, portanto, vencer a tentação da “curiosidade”, que, em situações de pecado, “não nos serve de nada”, mas apenas “nos prejudica”, advertiu o papa.

Uma terceira tentação a vencer, depois da “lentidão” e da “saudade” do pecado, é a do “medo”, que assalta os apóstolos durante uma tempestade no mar de Tiberíades (cf. Mt 8,23-27). Em pânico, eles exclamam: “Senhor, salva-nos, que perecemos!”. Ter “medo de avançar no caminho do Senhor” também é uma “tentação do diabo”. O medo “não é um bom conselheiro”, o que Jesus deixa claro diversas vezes, observou o Santo Padre.

A quarta atitude diante do pecado é virtuosa: é “a graça do Espírito Santo”. Diante da lentidão para combater o pecado, diante da saudade do pecado e diante do medo de avançar, devemos nos voltar para Deus e admitir: “Senhor, eu tenho essa tentação. Eu quero continuar nessa situação de pecado. Senhor, eu tenho a curiosidade de conhecer essas coisas. Senhor, eu tenho medo”.

O que nos salva é sempre “a maravilha do novo encontro com Jesus”, disse o papa Francisco. Mesmo na nossa fraqueza, “não somos cristãos ingênuos nem mornos, somos valentes, corajosos”, observou ele.

Mantendo-nos “corajosos em meio à nossa fraqueza”, devemos perseverar, não nos deixar levar pela “saudade ruim” nem pelo medo, olhando sempre para Deus, finalizou o papa.

Orar com insistência, até ser inconvenientes com Deus

Missa na Casa Santa Marta: papa Francisco explica que a oração não é pedir coisas a Deus, mas “negociar” com ele corajosamente, até cansá-lo

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 01 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Rezem, rezem, rezem. Com coragem, insistentemente, “negociando” com Deus. A exortação do papa Francisco na missa de hoje na Casa Santa Marta é clara: não devemos nos dirigir a Deus com orações “descartáveis”, mas rezar até o ponto de ser inconvenientes com ele. A missa foi concelebrada com mons. Brian Farrell e com o cardeal Kurt Koch, acompanhado por um grupo de sacerdotes e de colaboradores do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

O convite do Santo Padre parte da primeira leitura do dia, Gênesis 18, 16-33, que conta a história de Abraão: com coragem e persistência, ele se volta a Deus para salvar Sodoma da destruição. “Abraão é um bravo e reza com coragem”, disse o pontífice; ele “sente a força de falar cara a cara com o Senhor e procura defender a cidade”, inclusive com certa obstinação.

Existem diferentes tipos de coragem, explicou o papa: “Quando falamos de coragem, sempre pensamos na coragem apostólica, em ir pregar o evangelho, essas coisas… Mas há também a coragem diante do Senhor: aquela parresia diante do Senhor, de se dirigir a Ele corajosamente para pedir as coisas”.

Talvez, acrescentou o Santo Padre, seja algo “um pouco engraçado”. O próprio Abraão, na leitura de hoje, “fala com o Senhor de maneira especial”, disse o papa, a ponto de às vezes não sabermos se estamos “diante de um homem de oração ou de um comprador fenício, que vai puxando o preço para baixo, pechinchando. Ele insiste: de cinquenta, consegue baixar o preço para dez”.

“É engraçado”, reiterou o papa, mas “está tudo bem”, porque se realça a “atitude teimosa” que é necessária no diálogo com Deus. Às vezes, nós nos voltamos a Ele para “pedir uma coisa para uma pessoa” e acabamos pedindo outra, e outra e mais outra. “Isso não é a oração”, disse o papa Francisco. “Se você quer uma graça do Senhor, você tem que pedir com coragem e fazer o que Abraão fez, com insistência”.

Jesus nos ensina a orar com essa insistência, contando e reforçando episódios como o da viúva que recorre ao juiz, ou do homem que vai bater à porta do amigo à noite, ou da mulher siro-fenícia que pede repetidamente a cura da filha. Esta insistência “é muito cansativa”, disse o papa, mas “esta é a oração, isto é pedir uma graça de Deus”. Santa Teresa também “fala da oração como uma negociação com o Senhor”, diz Francisco. Isto só é possível quando se tem “a familiaridade com Deus”.

Rezar, portanto, “é negociar com Deus, até ser inoportunos com o Senhor”, insistiu Bergoglio: é “louvar o Senhor nas suas coisas boas e pedir que Ele dê aquelas coisas lindas a nós. E se Ele é tão misericordioso, tão bom, pedir que nos ajude”.

O papa fez um pedido pessoal e espontâneo no fim da homilia: “Eu gostaria que, hoje, todos nós, durante cinco minutos, não precisa mais do que isto, pegássemos a bíblia e, lentamente, rezássemos o Salmo 102: ‘Bendiz o Senhor, ó minha alma! Que tudo o que há em mim bendiga o seu nome! Não te esqueças de todos os seus benefícios. Ele perdoa todas as culpas, sara todas as feridas, salva a tua vida do fosso, te circunda de bondade e de misericórdia…’ ”.

Recitando essas palavras, explicou o Santo Padre, “vamos aprender as coisas que temos que dizer a Deus quando pedimos uma graça: ‘Tu, que és misericordioso, tu que me perdoas,me dáessa graça’, como pediu Abraão, como pediu Moisés”. Assim, concluiu Francisco, “vamos em frente na oração, corajosos, com esses ‘argumentos’ que vêm direto do próprio coração de Deus”.

Nosso Senhor entra em nossas vidas quando quer

Homilia do papa Francisco nesta sexta-feira: devemos ser pacientes e tentar ser irrepreensíveis

CIDADE DO VATICANO, 28 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Nosso Senhor nos pede ser pacientes e sem máculas, caminhando sempre em sua presença, afirmou nesta manhã o papa Francisco durante a missa na Casa Santa Marta. O santo padre enfatizou que nosso Senhor sempre escolhe o seu próprio jeito para entrar em nossas vidas e isto nos exige paciência, porque Ele nem sempre se deixa ver. Segundo a Rádio Vaticano, participou da missa um grupo de funcionários do Departamento de Saúde e Higiene do Vaticano, acompanhados pelo diretor, doutor Patrizio Polisca.

Deus entra aos poucos na vida de Abraão, que tem 99 anos quando o Senhor lhe promete um filho. Mas entra imediatamente na vida do leproso: Jesus escuta a sua oração, o toca e faz o milagre. Na reflexão de hoje, Francisco partiu da primeira leitura e do evangelho do dia para mostrar como Deus decide se envolver “nas nossas vidas, na vida do seu povo”. “Quando nosso Senhor chega, ele nem sempre chega da mesma maneira. Não existe um protocolo da ação de Deus em nossa vida, não existe (…) Uma vez, ele vem de um jeito; outra vez, de outro”, mas sempre vem. “Sempre acontece o encontro entre nós e o Senhor”.

“Nosso Senhor sempre escolhe o modo de entrar em nossa vida, muitas vezes tão lentamente que corremos o risco de perder um pouco a paciência: ‘Mas, Senhor, quando?’. E oramos, oramos… E não chega a intervenção dele na nossa vida. Outras vezes, quando pensamos em tudo o que o Senhor nos prometeu, isso é tão grande que ficamos um pouco incrédulos, um pouco céticos, e, como Abraão, tentamos meio que esconder um sorriso… Esta primeira leitura diz que Abraão escondeu o rosto e sorriu… Um pouco de ceticismo: ‘Mas como é que eu, com quase cem anos, vou ter um filho, e a minha mulher, aos 90 anos, vai ter um filho?’”.

A mulher de Abraão, Sara, terá o mesmo ceticismo, recordou o papa. “Quantas vezes, quando o Senhor não faz o milagre e não nos dá o que nós queremos, nós ficamos impacientes ou céticos!”.

“Mas Ele não faz, não pode fazer para os céticos. Deus se concede o seu próprio tempo. Mas Ele, nessa relação conosco, tem muita paciência. Não somos só nós que temos que ter paciência: Ele tem! Ele nos espera! Ele nos espera até o final da vida! Pensemos no bom ladrão, justo no final; foi no final que ele reconheceu a Deus. O Senhor caminha conosco, mas muitas vezes não se deixa ver, como no caso dos discípulos de Emaús. Nosso Senhor está envolvido na nossa vida, isto é certo, mas muitas vezes nós não vemos. Isto nos exige paciência. Mas Deus, que caminha conosco, Ele também tem muita paciência conosco”.

O papa aprofundou assim, no “mistério da paciência de Deus, que, ao caminhar, caminha ao nosso ritmo”. Às vezes, na vida, constatou Francisco, “as coisas ficam muito escuras, há tanta escuridão que, se tivermos problemas, queremos descer da cruz”. Este “é o momento preciso: a noite é mais escura quando se aproxima a alvorada. E sempre que descemos da cruz, descemos cinco minutos antes que chegue a libertação, no momento maior da impaciência”.

“Jesus, na cruz, ouviu que o desafiavam: ‘Desce, desce! Vem para baixo!’. Paciência até o final, porque Ele tem paciência conosco. Ele sempre está envolvido conosco, mas do jeito dele e quando Ele acha melhor. Ele só nos diz o que disse a Abraão: ‘Caminha na minha presença e sê perfeito’, sê irrepreensível; esta é a palavra correta. Caminha na minha presença e tenta ficar acima de qualquer repreensão. Este é o caminho com o Senhor e Ele intervém, mas temos que esperar, esperar o momento, caminhando sempre na presença dele e procurando ser irrepreensíveis. Vamos pedir esta graça ao Senhor: caminhar sempre na sua presença, tentando ser irrepreensíveis”.

Ser cristãos sem Cristo

Na homilia na Casa Santa Marta, o papa nos convida a não ser “cristãos só de nome”, mas a construir a vida sobre a “rocha” que é Cristo, o único que dá segurança

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 27 de Junho de 2013 (Zenit.org) – “Ao longo da história da Igreja, tem havido duas classes de cristãos: os cristãos de nome –aqueles do ‘Senhor, Senhor, Senhor’- e os cristãos de ação, de verdade”. O papa Francisco partiu desta clara distinção para desenvolver a sua reflexão na missa de hoje, concelebrada com outros bispos e com o cardeal arcebispo de Aparecida, dom Raimundo Damasceno.

Como faz toda manhã, o Santo Padre deu hoje mais algumas pinceladas no desenho do rosto do verdadeiro cristão. Infelizmente, disse ele hoje, não há somente um tipo de cristãos, mas até mesmo cristãos com várias caras. Há os cristãos “de superfície”; há os muito “rígidos” e, portanto, muito “tristes”; há os “alegres”, mas sem a verdadeira alegria de Cristo, e, pior ainda, há os que “se mascaram de cristãos”. O denominador comum entre todos eles é o fato de não se fundamentarem na “rocha” da Palavra de Cristo, conforme relatava o evangelho do dia, escrito por Mateus: eles seguem “um cristianismo de nome, um cristianismo sem Jesus, um cristianismo sem Cristo”, observou o papa.

Nos séculos da Igreja, “sempre houve a tentação de viver o nosso cristianismo fora da rocha que é Cristo”, acrescentou. As pessoas se esquecem muitas vezes que Jesus é “o único que nos dá a liberdade de chamar Deus de Pai”, é o único que “nos sustenta nos momentos difíceis” e nos protege quando “cai a chuva, quando os rios transbordam, quando sopram os vendavais”. Porque quando se está fundamentado sobre a rocha, tem-se uma segurança. As palavras, enquanto isso, apenas “voam; não são suficientes”.

“Ser cristãos sem Cristo” é algo que “aconteceu e está acontecendo na Igreja hoje”, prosseguiu Francisco. Em particular, podemos identificar atualmente duas categorias. O cristão “gnóstico”, que, “em vez de amar a rocha, ama as belas palavras” e vive um “cristianismo líquido”, acreditando em Cristo, sim, mas não como “o que lhe dá fundamento”. E o cristão “pelagiano”, que se caracteriza por um estilo de vida “engomado”: pessoas que acreditam que “a vida cristã deve ser levada tão a sério que acabam confundindo solidez e firmeza com rigidez” e, por isso mesmo, pensam que “para ser cristão é preciso viver de luto”.

“Há muitos cristãosassim”, disse o Santo Padre. Mas também é errado chamá-los de cristãos, porque eles são apenas máscaras: “Eles não sabem quem é nosso Senhor, não sabem o que é a rocha, não têm a liberdade dos cristãos. E, para falar de um modo simples, eles não têm a verdadeira alegria”. No meio desse leque que abrange desde os supostamente “alegres” até aqueles que vivem perpetuamente de luto, esses crentes “não sabem o que é a felicidade cristã, não sabem aproveitar a vida que Jesus nos dá, porque não sabem falar com Jesus. Eles não se fundamentam em Jesus, com aquela firmeza que a presença de Jesus nos dá”, constatou Bergoglio.

E não apenas não têm alegria genuína, acrescentou o papa, como sequer têm liberdade: “Uns são escravos da superficialidade, de uma vida difusa, e outros são escravos da rigidez, não são livres. O Espírito Santo não tem lugar na vida deles. É o Espírito que nos dá a liberdade”. Nosso Senhor, portanto, concluiu o papa, “nos convida hoje a construir a nossa vida cristã com base nele, a rocha, aquele que nos dá a liberdade, aquele que nos envia o Espírito, que nos impele a caminhar com felicidade, pela sua estrada, nas suas propostas”.