Que os padres também sejam pais

O papa exorta os sacerdotes a pedirem a “graça” de uma “paternidade espiritual”

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 26 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Os padres, mesmo celibatários, também devem ser “pais”. Não é uma proposta de mudança aventada pelo progressista de plantão, mas a mensagem do papa Francisco na missa de hoje, na Casa Santa Marta. A “paternidade” mencionada por Bergoglio não é “física”, e sim a paternidade espiritual dos padres no tocante às pessoas confiadas a eles. Uma “graça especial”, que só em alguns casos nosso Senhor concede.

O convite de hoje está ligado ao convite similar que o papa fez às oitocentas irmãs da União Internacional das Superioras Gerais, recebidas em audiência no dia 9 de maio na Sala Paulo VI, a ser “mães fecundas”. Sentir-se “pai” de um ser humano significa dar a vida por outro, explicou Bergoglio, e, nos torna semelhantes a Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou por nós, pelos outros.

O “desejo de ser pai”, disse o papa, está inscrito “nas fibras mais profundas do homem”. Inclusive do padre, que orienta e vive esse desejo, mas de forma espiritual. “Quando um homem não tem esse desejo”, prosseguiu o pontífice, “algo falta nele”. Todos nós, para “ser completos, maduros, precisamos sentir a alegria da paternidade: também nós, celibatários”. Porque “a paternidade é dar a vida aos outros, dar vida, dar vida… Para nós, é a paternidade pastoral, a paternidade espiritual; mas é dar vida, é tornar-nos pais”.

A reflexão do papa foi sugerida pela passagem de hoje do Gênesis, em que Deus promete a Abraão a alegria de um filho e de uma descendência infinita, apesar da sua idade avançada. Abraão sacrifica então alguns animais, de acordo com as instruções de Deus, para selar o pacto, e, depois, defende o seu holocausto do ataque de aves de rapina. Uma cena comovente, na opinião do papa, porque “olhar para aquele nonagenário, com seu bastão”, defendendo o seu sacrifício, “me faz pensar num pai que defende a família, os filhos”.

Ser pai segundo a paternidade “espiritual” é “uma bênção” que todo sacerdote deve pedir, disse o pontífice. “Pecados nós temos muitos, mas isso é commune sanctorum: todos nós temos pecados. Mas não ter filhos, não ser pai, é como se a vida não chegasse ao fim. Ela para no meio do caminho”. Os próprios fieis, observou Bergolio, querem ver isso no padre: “As pessoas nos chamam de padre, de pai… Temos que ser pais pela graça da paternidade pastoral”.

“Demos graças a Deus por essa bênção da paternidade na Igreja, que passa de pai para filho”, continuou o papa. Nisto, é de exemplo a dupla imagem de “Abraão que pede um filho” e de “Abraão que defende a família”. Temos também “a imagem do velho Simeão no templo, que, quando recebe a vida nova, faz uma liturgia espontânea, a liturgia da alegria”.

Certamente não é coincidência, mas as palavras de hoje do papa Francisco “caíram como uma luva” para o público presente na capela da Casa Santa Marta: talvez, pela primeira vez nestes três meses, composto exclusivamente por prelados e sacerdotes.

Eles acompanhavam o cardeal Salvatore De Giorgi, arcebispo emérito de Palermo, que hoje celebrava o seu 60º aniversário de ordenação sacerdotal.

O papa Francisco recordou o aniversário na homilia, dirigindo ao cardeal ​​palavras afetuosas e cheias de estima pelo “marco” alcançado. “Eu não sei o que foi que fez o nosso querido Salvador”, disse o pontífice, mas “tenho certeza de que ele foi ‘pai’. Este é um sinal”, acrescentou, pedindo à multidão de religiosos que o acompanhavam a seguir o seu exemplo. “Agora é com vocês”, incitou Bergoglio, simpaticamente: cada árvore “dá o fruto de si mesma, e, se a árvore é boa, o fruto deve ser bom, certo?”. E concluiu: “Não façam feio!”.

Uma Igreja sem ideologias, seguindo o exemplo de São João Batista

O papa nos lembra a vocação da Igreja: “ser voz” da Palavra de Deus e proclamá-la “até o martírio”

Por Redacao

ROMA, 25 de Junho de 2013 (Zenit.org) – São João Batista era uma “lua”, cuja luz mostra o caminho para quem está no escuro, mas começa a diminuir à medida que nasce o sol do Cristo ressuscitado.

É sugestiva a imagem que o papa Francisco propôs ontem na missa da Casa Santa Marta, no dia de São João. O “profeta” é um símbolo da vocação da Igreja, chamada a anunciar, servir e proclamar até o martírio, não para aparecer ela própria, mas para divulgar a verdade do Evangelho.

Antes de iniciar a homilia, o papa saudou a todos os homens chamados “João”. Um nome importante, disse ele, porque nos lembra uma das principais figuras do cristianismo. Uma figura “nem sempre fácil de entender”.

Se olharmos para a vida de João Batista, prosseguiu o papa, parece que “tem algo que não fecha”: ele é um homem “que foi grande” desde o seio materno, que foi saudado como “profeta” e, no fim, “termina como um coitado”. A grandeza de João, no entanto, se distancia de qualquer concepção humana, e consiste em ser “uma voz no deserto”, como ele mesmo se define. Ele “é uma voz sem Palavra, porque a Palavra não é ele, mas Outro”. Ele “nunca se apodera da Palavra”, porque o “sentido da sua vida é apontar para Outro”, observou o pontífice.

Não por acaso, a Igreja escolheu comemorar a sua festa na época do ano em que, no hemisfério norte, os dias são mais longos e “têm mais luz”, disse Bergoglio. Um aspecto que ressalta o ser de João como um “homem da luz”, que “portava a luz”.

Não uma luz própria, mas uma “luz refletida”, como a da lua, que “começou a se apagar” com o início da pregação de Cristo. “Essa é a vocação de João: aniquilar-se”, disse o papa. E quando “contemplamos a vida deste homem, tão grande, tão poderoso”, a tal ponto que todos pensavam era ele o Messias, mas que se aniquila “até a escuridão do cárcere”, estamos contemplando “um grande mistério”.

“Nós não sabemos como foram os últimos dias de João”, continuou o papa. “Sabemos apenas que ele foi morto, que a cabeça dele foi colocada em uma bandeja, como um grande presente de uma dançarina para uma adúltera”. Sabemos que na prisão ele sofreu todo tipo de dor, de angústia e de dúvida: ele mesmo chamou os seus discípulos e os mandou até Jesus para lhe perguntar: “É você ou devemos esperar por outro?”. Nem isto “lhe foi poupado”, disse Bergoglio, acrescentando: “Eu não acho que seja possível descer mais ainda, aniquilar-se. Esse foi o fim de João”.

Mas, como todo martírio, também o de João Batista não aconteceu em vão, porque tem iluminado na Igreja o caminho a seguir, feito de sangue, pregação e verdadeira fé. “A figura de João me faz pensar muito na Igreja”, disse o pontífice. Ela “existe para proclamar, para ser a voz de uma Palavra, do seu Esposo, que é a Palavra”. “João podia se fazer de importante, podia falar de si mesmo”, mas ele apenas “indicava, ele se considerava uma voz, não a Palavra”.

Este é o “segredo” de João. É por este motivo que ele é santo. “Porque ele nunca, nunca tomou uma verdade como sua própria”, nunca “quis ser um ideólogo”, mas, ao contrário, “negou a si mesmo, para ressaltar somente a Palavra”.

Seguindo o seu exemplo, exortou Francisco, “nós, como Igreja, podemos pedir hoje a graça de não ser uma Igreja ideologizada”, mas uma Igreja “que é o mysterium lunae, que tem luz porque ela vem do seu Esposo, e que deve diminuir para que Ele cresça”; uma Igreja que “está sempre a serviço da Palavra” e que “nunca toma nada para si mesma”.

“Oremos”, pediu o papa Francisco, “para que o Senhor nos conceda o dom de ser a voz dessa Palavra, de pregar essa Palavra”, imitando João, “sem ideias próprias, sem um evangelho usado como propriedade nossa”, “até o martírio”.

Os pilares da salvação cristã

CIDADE DO VATICANO, 24 de Junho de 2013 (Zenit.org) – As riquezas e as preocupações do mundo nos fazem esquecer o passado, ficar confusos no presente e estar incertos quanto ao futuro. Elas nos fazem perder de vista os três pilares da história da salvação cristã: um Pai que, no passado, nos escolheu; que fez uma promessa para o nosso futuro e a quem nós demos uma resposta ao firmar com ele, no presente, uma aliança. Este é o sentido da reflexão proposta pelo papa Francisco na missa deste último sábado, 22 de junho, na Domus Sanctae Marthae, da qual participaram funcionários dos Museus do Vaticano.

A homilia do papa se baseou na passagem do evangelho de Mateus 6, 24-34, sobre as recomendações de Jesus aos discípulos: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque há de odiar a um e amar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. E continua: “Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, com o que haveis de comer ou beber”. Disse o papa: “O capítulo 13 de São Mateus nos ajuda a entender isso, ao narrar que Jesus explica aos seus discípulos a parábola do semeador. Ele diz que a semente que caiu no terreno cheio de espinhos foi sufocada. Mas o que a sufoca? Jesus diz: ‘as riquezas e as preocupações do mundo’. Vemos que Jesus tinha uma ideia clara sobre isso”.

Assim, “as riquezas e os cuidados do mundo sufocam a Palavra de Deus. Não a deixam crescer. E a Palavra morre porque não é protegida, é sufocada. São os casos em que prevalecem a riqueza e os cuidados do mundo, mas não a Palavra de Deus”.

Depois de ressaltar que Jesus, nas suas explicações para os discípulos, introduz o elemento temporal, o papa perguntou: “O que as riquezas e as preocupações causam em nós? Simplesmente nos roubam o tempo. Toda a nossa vida se sustenta em três pilares: um no passado; um no presente; o outro no futuro. E isso está claro na bíblia: o pilar do passado é a escolha. O Senhor nos escolheu. Cada um de nós pode dizer: ‘O Senhor me escolheu, me amou e me chamou, e, no batismo, me escolheu para seguir um caminho, o caminho cristão’”. O futuro é a promessa que Jesus fez aos homens: “Fui eleito para caminhar rumo a uma promessa. Ele nos fez uma promessa”. Finalmente, o presente “é a nossa resposta a esse Deus tão bom que me escolheu, que me faz uma promessa e que me propõe uma aliança. E eu faço uma aliança com ele”.

Escolha, promessa e aliança são os três pilares de toda a história da salvação. Mas pode acontecer, às vezes, que, “quando o nosso coração entra nisto que Jesus nos explica, ele corta o tempo. Corta o passado, corta o futuro e confunde o presente”. Isso acontece porque aquele “que está apegado às riquezas não se interessa pelo passado, nem pelo futuro; ele tem tudo. A riqueza é um ídolo. Ele não precisa de um passado, de uma promessa, de uma escolha, de futuro, de nada. O que o preocupa é o que pode acontecer”; por isso, ele “corta a sua relação com o futuro”, que, para ele, se torna um ‘futurível’”. Mas não o orienta para uma promessa e isso o deixa confuso, solitário. “É por isso que Jesus nos diz: ou Deus ou a riqueza, ou o reino de Deus e a sua justiça ou as preocupações”. Simplesmente nos convida a seguir a estrada desse presente tão grande que ele nos deu: ser os seus escolhidos. Com o batismo, nós fomos escolhidos no amor”, afirmou o pontífice.

“Não cortem o passado. Temos um Pai que nos colocou a caminho. E o futuro também é alegre, porque caminhamos em direção a uma promessa. O Senhor é fiel, não decepciona. E por isso, vamos caminhar!”, exortou o papa. Quanto ao presente,” façamos o que podemos, mas façamos na prática, sem ilusões e sem esquecer que temos um Pai no passado que nos escolheu”.

Por isso, acrescentou Francisco, “lembrem-se bem: a semente que cai entre os espinhos é sufocada, sufocada pelas riquezas e pelas preocupações do mundo”, dois elementos que nos fazem esquecer o passado e o futuro. Assim, “temos um Pai, mas vivemos como se não tivéssemos”, e deixamos o nosso futuro incerto. Desta forma, o presente também é “algo que não vai bem”. Mas é precisamente por esta razão, assegurou o papa, que “devemos confiar no Senhor que diz: ‘Não se preocupem, procurem o Reino de Deus e a sua justiça. Todo o resto virá’”.

Terminando a homilia, o papa exortou os fiéis a pedir ao Senhor a graça de não errar, dando peso às preocupações e à idolatria da riqueza, mas sempre lembrando que “temos um Pai que nos escolheu e que nos promete algo bom”. Devemos, por isto, “caminhar em direção àquela promessa, acolhendo o presente do jeito que ele vem”.

Francisco: “Nunca vi um caminhão de mudança atrás de um cortejo fúnebre”

Papa propõe uma reflexão na missa diária sobre não acumular riquezas na terra

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 21 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Pedir a Deus a graça de um coração que saiba amar e que não se deixe desviar por tesouros inúteis: esta é a substância da homilia do papa Francisco na Casa Santa Marta, durante a missa concelebrada nesta manhã com o cardeal Francisco Coccopalmerio, o bispo Juan Ignacio Arrieta e o auxiliar José Aparecido Gonçalves de Almeida, presidente, secretário e subsecretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, respectivamente, acompanhados por alguns dos funcionários do dicastério. Estavam presentes também os funcionários da Fábrica da Basílica de São João de Latrão, com mons. Santiago Ceretto, e os empregados da Casa Santa Marta.

Atesourar no céu

A luta pelo único tesouro que podemos levar conosco depois desta vida é a razão de ser de um cristão. É a razão de ser que Jesus explica aos discípulos, na passagem de hoje do evangelho de Mateus: “Onde estiver o teu tesouro, ali estará também teu coração”. A questão, explica o papa, é não confundir as riquezas. Há “tesouros arriscados” que seduzem, “mas que devemos abandonar”: aqueles acumulados durante a vida e que a morte destrói. Francisco observa com um toque de ironia: “Nunca vi um caminhão de mudança atrás de um cortejo fúnebre”. Mas há um tesouro que “podemos levar conosco”, um tesouro que ninguém pode nos roubar e que “não é o que você vem guardando para si”, mas sim “o que você dá para os outros”.

“O tesouro que damos aos outros é o tesouro que nós levamos. E esse vai ser o nosso mérito, entre aspas, mas é um ‘nosso mérito’ de Jesus Cristo em nós! E é isso o que nós temos que levar. E é aquilo que nosso Senhor nos deixa levar. O amor, a caridade, o serviço, a paciência, a bondade, a ternura são lindos tesouros: são os tesouros que nós levamos. Os outros, não”.

Conforme o evangelho, o tesouro que tem valor perante os olhos de Deus é aquele que acumulamos no céu a partir da terra. Mas Jesus, destaca o papa Francisco, dá um passo a mais: ele vincula o tesouro ao “coração”, criando uma “relação” entre os dois termos. Isto porque o nosso “é um coração inquieto”, que nosso Senhor “fez desse jeito para procurarmos por Ele”.

“Nosso Senhor nos criou inquietos para o encontrarmos, para crescermos. Mas se o nosso tesouro é um tesouro que não está perto dele, que não é do Senhor, então o nosso coração se inquieta por coisas que não duram, por esses tesouros… Muita gente, inclusive nós, está inquieta… Para ter isso, para comprar aquilo, e, no fim, o nosso coração se cansa, nunca está satisfeito: ele se cansa, fica preguiçoso, se torna um coração sem amor. O cansaço do coração. Vamos pensar nisso. O que é que eu tenho? Um coração cansado, que só quer se acomodar, três ou quatro coisas, uma boa conta bancária, isto, aquilo?  Ou um coração irrequieto, que procura sempre as coisas do Senhor? Essa inquietação do coração tem que ser cuidada sempre”.

Um coração que brilhe

Continua o papa Francisco: Cristo também coloca na berlinda o “olho”, que simboliza “a intenção do coração” e que se reflete no corpo: “um coração cheio de amor” deixa o corpo “brilhante”, enquanto um “coração mau” o torna escuro. Do contraste luz-escuridão, explica o papa, depende “o nosso parecer sobre as coisas”, como também é demonstrado pelo fato de que o gerador das guerras é um “coração de pedra”, “apegado a um tesouro da terra”, a “um tesouro egoísta”, que pode se transformar em um tesouro “do ódio”. Na oração final, o papa pediu, através da intercessão de São Luis Gonzaga, a quem a Igreja recorda hoje, “a graça de um coração novo”, um “coração de carne”.

“Deus torna humanos todos aqueles pedaços do coração que são feitos de pedra, com aquela inquietação positiva, com aquela ânsia boa de ir para frente, procurando por Ele, deixando-se buscar por Ele! Que nosso Senhor mude o nosso coração! E assim ele nos salvará. Ele nos protegerá dos tesouros que não nos ajudam para o nosso encontro com Ele, para servirmos aos outros, e nos dará a luz para ver e julgar de acordo com o verdadeiro tesouro: a sua verdade. Que nosso Senhor mude o nosso coração para procurarmos o verdadeiro tesouro e nos tornarmos pessoas luminosas e não pessoas da escuridão”.

Para rezar o pai-nosso: coração em paz com os irmãos

Papa Francisco na homilia: um Deus Pai, não um deus cósmico. Oração não é magia.

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 20 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Para rezar o pai-nosso, precisamos ter o coração em paz com os nossos irmãos. É o que foi destacado nesta manhã pelo papa Francisco na missa da Casa Santa Marta. O papa ressaltou que acreditamos em um Deus que é Pai, que está muito perto de nós, que não é anónimo, que não é “um Deus cósmico”. A missa foi concelebrada, entre outros, pelo cardeal Zenon Grocholewski. Participaram um grupo de funcionários da Congregação para a Educação Católica e outro dos Museus Vaticanos.

“A oração não é magia”, mas um “confiar-se ao abraço do Pai”. O papa concentrou a homilia na oração do pai-nosso, que Jesus ensinou aos discípulos e da qual fala o evangelho de hoje. Jesus nos dá um conselho na oração: “Não desperdicem palavras, não façam mero barulho”, o barulho “do mundano, da vaidade”, disse o papa. “A oração não é uma coisa mágica, não se faz magia com a oração. Me disseram que, quando você procura um curandeiro, ele diz um monte de palavras para curar. Mas aquilo é pagão. O que Jesus nos ensina é: não temos que ir até Ele com muitas palavras, porque Ele já sabe tudo”. E completa: “A primeira palavra é pai, esta é a chave da oração. Sem dizer, sem escutar essa palavra, não se pode orar”.

“A quem eu devo orar? Ao Deus Todo-Poderoso? Distante demais. A quem devo orar? Ao Deus cósmico? Um tanto comum nos dias de hoje, não é? Orar ao Deus cósmico, não? Essa cultura politeísta, que tem essa cultura light… Nós temos que rezar ao nosso Pai! É uma palavra forte: Pai. Temos que orar àquele que nos gerou, que nos deu a vida. Ele não deu a vida ‘a todos’: todos é muito anônimo. Ele deu a vida a você, a mim. E também orar para aquele que nos acompanha no caminho: que conhece toda a nossa vida. Tudo: o que é bom e o que não é tão bom assim. Ele sabe tudo. Se não começamos a oração com essa palavra, dita não dos lábios para fora, mas de dentro do coração, então não podemos orar ‘em cristão’”.

A palavra “pai”, reiterou o papa, “é uma palavra forte”, mas que “abre as portas”. No momento do sacrifício, Isaac se dá conta de que “algo estava errado”, já que “faltava a ovelha”, mas ele confia no Pai. “Mais ainda: pai é a palavra em que pensou aquele filho que foi embora de casa com a sua parte da herança e que depois queria voltar para casa. E aquele pai ‘o vê chegar e vai correndo ao seu encontro’, se lança ao seu abraço para enchê-lo de amor.  E aquele ‘Pai, eu pequei’: esta é a chave de toda oração, sentir-se amado por um Pai”.

“Nós temos um Pai. E muito próximo, que nos abraça… Todas estas preocupações, inquietações que nós temos, vamos entregá-las ao Pai: ele sabe do que nós precisamos. Pai o quê, meu? Não, pai nosso! Porque eu não sou filho único, nenhum de nós é, e se eu não consigo ser um irmão, será difícil me tornar um filho desse Pai, porque ele é o pai de todos. Claro que é meu, mas também dos outros, dos meus irmãos. E se eu não estou em paz com os meus irmãos, não posso chamá-lo de pai”.

Isto explica o fato de que Jesus, depois de nos ensinar o pai-nosso, enfatiza que, se não perdoarmos aos outros, o Pai não nos perdoará os pecados. “É muito difícil perdoar aos outros, é muito difícil mesmo, porque sempre temos aquele pesar por dentro. Pensamos: ‘Você me aprontou, espera só…’, para ‘devolver’”.

“Não, não podemos orar com inimigos no coração, com irmãos e inimigos no coração. Isso é difícil, sim, é difícil, não é fácil. ‘Pai, eu não posso dizer Pai, não consigo’. É verdade, eu entendo. ‘Não posso dizer nosso, porque fulano me fez isso, aquilo e…’, enfim, não posso! ‘Aqueles lá merecem ir para o inferno’, não é assim? ‘Eles não são dos meus!’. Não é fácil. Mas Jesus nos prometeu o Espírito Santo: é ele que nos ensina, a partir de dentro, do coração, a dizer ‘Pai’ e ‘nosso’. Peçamos hoje ao Espírito Santo que ele nos ensine a dizer ‘Pai’ e a dizer ‘nosso’, selando a paz com todos os nossos inimigos”.

Como é difícil amar os nossos inimigos!

Casa Santa Marta: o papa Francesco enfatiza que amar o inimigo é o que nos torna mais parecidos com Cristo e nos convida a rezar para sermos capazes de perdoar

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 18 de Junho de 2013 (Zenit.org) – A força do cristão é a sua capacidade de amar. Amar especialmente aqueles que lhe fazem mal, aqueles que o odeiam. Não é um instinto natural, mas é o que Jesus nos pede se quisermos ficar mais próximos dele, que não se vingou de quem o traiu e pregou na cruz.

A partir desta reflexão, desenrolou-se a homilia do papa Francisco na missa desta manhã na Casa Santa Marta, concelebrada com o cardeal Giuseppe Versaldi e com a participação de alguns funcionários da Prefeitura para os Assuntos Econômicos da Santa Sé e dos Museus do Vaticano.

“Amar os nossos inimigos é muito difícil”, afirmou o papa. E não é questão de amar quem teve alguma briga conosco: as nossas próprias forças poderiam ser suficientes para isso. O que Jesus nos pede é amar aqueles que “decidem cometer um atentado e matar muitas pessoas”, disse o papa; aqueles que, “por amor ao dinheiro, não deixam os remédios chegarem até os idosos e os deixam morrer”; aqueles que procuram apenas “os seus próprios interesses, o seu próprio poder e provocam grandes males”. Como é possível amar essas pessoas?, perguntou Bergoglio.

“Parece muito difícil amar o inimigo”, prosseguiu. É uma graça que só Deus pode nos conceder, com a força que vem da oração por eles, para que “nosso Senhor mude os seus corações” e converta o nosso próprio coração. Porque “todos nós temos inimigos”, mas “nós mesmos, tantas vezes, nos tornamos inimigos dos outros em vez de amá-los”.

Este mandamento de Jesus parece ainda mais difícil de cumprir do que os outros: “Achamos que Jesus está nos pedindo demais! Deixamos isso para as freiras de clausura, que são santas; deixamos isso para as santas almas, porque na vida cotidiana não dá! Mas tem que dar! Jesus diz: Nós temos que fazer isto! Porque, caso contrário, somos como os publicanos, como os pagãos. Não somos cristãos”.

Jesus Cristo “nos diz duas coisas em particular”: primeiro, olhar para o Pai, que tem “amor por todos” e “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e chover sobre os justos e os injustos”. E, segundo, ser “perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito”, “imitando o Pai naquela perfeição do amor”.

Jesus, reiterou o Santo Padre, “perdoa os seus inimigos”, “faz de tudo para perdoá-los” porque os cristãos não procuram vingança: a sua arma é a oração. “Rezar”, exclamou Francisco, “é o que Jesus nos aconselha: orai pelos vossos inimigos! Orai por aqueles que vos perseguem! Orai! E dizei a Deus: Muda, Senhor, o coração dele. Ele tem um coração de pedra, dá-lhe um coração de carne, sensível e que ame”. “Quando se reza por quem nos faz sofrer”, acrescentou o papa, “é como se Deus chegasse com seu bálsamo e preparasse os nossos corações para a paz”.

O Santo Padre convidou todos os presentes a fazer uma pergunta em seu coração: “Eu rezo pelos meus inimigos? Eu oro por aqueles que não me amam? Se dissermos que sim, eu direi: Então vamos em frente, vamos orar mais ainda; este é um bom caminho. Se a resposta for não, então nosso Senhor nos diz: Pobre homem… Você também é inimigo dos outros”.

Amar até mesmo quem “aprontou das grandes” ou quem comete más ações “empobreceria as pessoas”? É “com essa desculpa que nós queremos vingança, olho por olho, dente por dente”. Não só isso: “De acordo com os critérios do mundo, não é um bom negócio” amar que nos faz sofrer: além de ser difícil, isso também “nos empobreceria”.

Amar o inimigo, porém, explicou o papa, “nos torna pobres”, sim, mas com a mesma pobreza de Jesus, que se fez pobre “quando veio até nós e se rebaixou”. Ele, sendo rico, se fez pobre, e “nesse rebaixamento é que está a graça que justificou a todos nós, que nos tornou ricos”: o “mistério da salvação”. “O amor nos empobrece, mas com aquela pobreza que é a semente da fertilidade e do amor ao próximo”, ressaltou o papa.

“Seria muito bonito oferecermos a missa, o sacrifício de Jesus, por aqueles que não nos amam. Seria bom para eles, mas também para nós, para que Deus nos ensine esta sabedoria tão difícil, mas tão bela, que nos assemelha ao nosso Pai que traz a luz do sol para todos, tanto bons quanto maus”.

Jesus é o “tudo” e é disto que deriva a sua magnanimidade

Homilia do Santo Padre Francisco na missa diaria celebrada na capela da Casa Santa Marta

ROMA, 17 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Para os cristãos, Jesus é o “tudo” e é disto que deriva a sua magnanimidade: esta foi a mensagem enfatizada pelo papa Francisco na missa desta manhã na Casa Santa Marta.

O papa reiterou que a justiça trazida por Jesus é superior à dos escribas, ao “olho por olho, dente por dente”. Na missa, que foi concelebrada pelo cardeal Attilio Nicora, estavam presentes, entre outros, os funcionários da Autoridade de Informação Financeira e um grupo de funcionários dos Museus do Vaticano, acompanhados pelo diretor administrativo, dom Paolo Nicolini. Também participou da missa o cardeal arcebispo de Manila, Luis Antonio Tagle.

“Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra”. O papa Francisco centrou a homilia nestas palavras perturbadoras de Jesus aos discípulos. Esse tapa, observou o pontífice, já “se tornou um clássico para ridicularizar os cristãos”. Na vida, afinal, a “lógica do dia-a-dia” nos diz que “devemos lutar, devemos defender o nosso espaço” e, se nos derem um tapa, “vamos devolver dois, para nos defender”. Além disso, prosseguiu Francisco, “quando eu aconselho os pais sobre como repreender seus filhos, sempre alerto: ‘Mas nunca batam na face deles’, porque ‘a face é a dignidade’. Jesus, no entanto, nos surpreende: depois de falar sobre oferecer a outra face, ele nos ensina a entregar também o nosso manto, a despojar-nos de tudo”.

“A justiça que Ele traz é uma justiça totalmente diferente do ‘olho por olho, dente por dente’. É outra justiça”. Podemos entendê-la quando São Paulo fala dos cristãos como “pessoas que não têm nada” e que, ao mesmo tempo, “têm tudo”. A segurança cristã está justamente nesse “tudo”, que Jesus. As outras coisas são “nada” para o cristão. “Para o espírito do mundo, o ‘tudo’ são as coisas: a riqueza, as vaidades”, e o “nada” é Jesus. Se um cristão caminha cem quilômetros quando lhe pedem caminhar dez, “é porque, para ele, isso é ‘nada’”, e, com serenidade, ele “pode ​​dar o manto quando lhe pedem a túnica”. Este é o “segredo da magnanimidade cristã, que sempre caminha junto com a mansidão”: é o “tudo”; é Jesus Cristo.

“O cristão é uma pessoa que engrandece o próprio coração com essa magnanimidade, porque ela tem o ‘tudo’, que é Jesus Cristo. As outras coisas são o ‘nada’. São boas, são úteis, mas, no momento do confronto, ele sempre escolhe o ‘tudo’, com aquela brandura, com aquela mansidão cristã que é a marca dos discípulos de Jesus: mansidão e magnanimidade. E viver assim não é fácil, porque “nós realmente levamos muitas bofetadas, não é mesmo? E nas duas faces! Mas o cristão é humilde, o cristão é magnânimo: ele dilata o seu coração. Mas quando encontramos aqueles cristãos de coração reduzido, de coração encolhido… aquilo não é cristianismo: é egoísmo disfarçado de cristianismo”.

“O verdadeiro cristão sabe resolver essa oposição bipolar, essa tensão entre o tudo e o nada, do jeito que Jesus recomendou: ‘Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e o resto virá por acréscimo’. O Reino de Deus é o ‘tudo’, o resto é secundário, não é principal. E todos os erros cristãos, todos os erros da Igreja, todos os nossos erros, nascem daqui, quando dizemos que o nada é tudo e que o tudo… bom, parece que ele não conta…  Seguir Jesus não é fácil, não é fácil. Mas também não é difícil, porque, no caminho do amor, Deus faz as coisas de modo que possamos seguir em frente. Deus mesmo engrandece o nosso coração”.

Esta é a oração que nós temos que fazer “diante dessas propostas do tapa, do manto, dos cem quilômetros”: devemos orar ao Senhor para engrandecer “os nossos corações”, para “sermos generosos, humildes” e para não lutarmos “por coisas insignificantes, pelo nada de cada dia”.

“Quando se faz uma opção pelo nada, nascem daquela opção os desencontros na família, nas amizades, com os amigos, com a sociedade; são confrontos que terminam em guerra: em guerra pelo nada! O nada é sempre semente de guerra! Porque é semente do egoísmo. O tudo é o que é grandioso, é Jesus. Peçamos ao Senhor a graça de engrandecer o nosso coração, para sermos humildes, mansos e magnânimos, porque nele nós temos o tudo; e que Ele nos livre de criar problemas cotidianos em torno do nada”.

Reconhecer-se com sinceridade como frágeis e pecadores

Homilia de hoje do papa Francisco na Casa Santa Marta

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 14 de Junho de 2013 (Zenit.org) – A única maneira de receber verdadeiramente o dom da salvação de Cristo é reconhecer-se com sinceridade como frágeis e pecadores, evitando toda forma de autojustificação. Esta foi uma das ideias desenvolvidas na homilia do papa Francisco na missa desta manhã, na capela da Casa Santa Marta.

Com o papa, concelebraram o prefeito e secretário da Congregação para o Clero, cardeal Mauro Piacenza, e o arcebispo Celso Morga, acompanhados pelos presbíteros e pelo pessoal do dicastério. De acordo com a Rádio Vaticano, também estiveram  presentes o cardeal Giuseppe Bertello, o bispo de Humahuaca, na Argentina, dom Pedro Olmedo Rivero, e o bispo emérito de Daet, Filipinas, dom Benjamin Almoneda.

Somos pecadores

Consciente de ser um frágil recipiente de barro, o guardião de um grande tesouro recebido de forma totalmente gratuita: este é o seguidor de Cristo perante o Senhor. Francisco concentra a sua reflexão na Carta de Paulo aos cristãos de Corinto, mediante a qual ele explica que o “poder extraordinário” da fé é obra de Deus, vertida em homens pecadores, como em “vasos de barro”. Mas da relação “entre a graça e o poder de Jesus Cristo” e nós, pobres pecadores, brota “o diálogo da salvação.” Esse diálogo, acrescenta o papa, deve evitar, no entanto, qualquer “autojustificação; (…) deve ser feito do jeito que nós somos”.

“Paulo falou muitas vezes dos seus pecados, como um estribilho, não é? ‘Eu lhes digo: eu fui um perseguidor da Igreja, eu persegui…’. O pecado sempre volta à lembrança dele. Ele se sente pecador. Mas, apesar disso, ele não diz: ‘Eu fui pecador, mas agora sou santo’. Não. Mesmo agora, ele fala de ‘um aguilhão de Satanás na minha carne’. Ele nos faz ver a nossa própria fraqueza. O próprio pecado. É um pecador que acolhe Jesus Cristo. Que fala com Jesus Cristo”.

O crucial, indica o papa, é, portanto, a humildade. Paulo mesmo a demostra. Ele reconhece publicamente o seu “currículo de serviço”, tudo o que foi feito como apóstolo enviado por Jesus. Mas, nem por isto, ele oculta ou esconde o que o papa chama de “seu prontuário”: os seus pecados.

Viver em humildade

“Este é o modelo de humildade para nós, presbíteros. Se nos orgulhamos só do nosso currículo e de mais nada, vamos terminar mal. Não podemos proclamar Jesus Cristo Salvador, porque, no fundo, não o sentimos. Mas temos que ser humildes, com uma verdadeira humildade, com nome e sobrenome: ‘Sou um pecador por isto, por isto e por isto’. Como Paulo: ‘Eu persegui a Igreja’. Como ele reconhece: pecadores concretos. Não pecadores com aquela humildade que mais parece uma cara de panfleto. Ah, não, uma humildade firme”.

“A humildade do presbítero, a humildade do cristão, é concreta”, afirma o papa Francisco. Se um cristão não consegue “fazer por si mesmo esta confissão, alguma coisa está mal”: é não ser capaz de “entender a beleza da salvação que Jesus nos traz”.

Cristo, nosso tesouro

“Irmãos, temos um tesouro: Jesus Cristo, o Salvador. A cruz de Jesus Cristo, aquele tesouro do qual nos sentimos orgulhosos. Mas nós o guardamos numa panela de barro. Podemos nos vangloriar também do nosso prontuário, dos nossos pecados. E, assim, o diálogo é cristão e católico: concreto, porque a salvação de Jesus Cristo é concreta. Jesus Cristo não nos salvou com uma ideia, com um programa intelectual. Não. Ele nos salvou com a carne, com o concreto da carne. Ele se rebaixou, se fez homem, se fez carne até o fim. Mas isto só pode ser entendido, recebido, em vasos de barro”.

A mulher samaritana que encontra Jesus, depois de falar com ele, conta aos seus vizinhos o seu pecado, e, depois de encontrar o Senhor, se comporta de maneira semelhante a Paulo. “Eu acredito”, observa o papa Francisco, “que esta mulher com certeza está no céu. Porque, como diz Manzoni, ‘eu nunca vi nosso Senhor começar um milagre sem terminá-lo bem’, e este milagre que Ele começou, definitivamente, foi bem acabado no céu”.

“Peçamos”, encerra o papa, “que Ele nos ajude a ser vasos de barro para guardar e entender o mistério glorioso de Jesus Cristo”.

Não falem mal uns dos outros

Homilia do Papa Francisco na missa desta manhã na capela da Casa Santa Marta

CIDADE DO VATICANO, 13 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Que Deus nos conceda a graça de prestar atenção aos comentários que fazemos sobre os outros: esta foi a ideia central da homilia do papa Francisco na missa desta manhã, na Casa Santa Marta.

O papa fez a homilia em espanhol, com a presença dos funcionários das embaixadas e consulados da Argentina na Itália e junto à FAO. “Desde o dia 26 de fevereiro que eu não celebrava a missa em espanhol”, disse o papa. “Estou muito feliz”, completou, e agradeceu aos participantes pelo trabalho que fazem em prol do seu país.

“Que a sua justiça seja maior que a dos fariseus”: Francisco explicou sua homilia partindo da exortação que Jesus fez aos discípulos. Palavras que vêm depois das bem-aventuranças e depois de Jesus afirmar que não veio para dissolver a lei, mas para levá-la a cumprimento. A reforma de Cristo, destacou o papa, “é uma reforma que não rompe, uma reforma na continuidade: da semente até o fruto”. Aquele que “entra na vida cristã tem exigências superiores às dos outros; não tem vantagens superiores”, advertiu.

Jesus menciona algumas dessas necessidades e toca em particular “no tema da relação negativa com os irmãos”. Quem fala mal dos outros, diz Jesus, “merece o inferno”. Se no seu coração existe “algo de negativo” no tocante ao seu irmão, então “existe algo que não funciona. Você tem que se converter, tem que mudar”. E mais: “A ira é um insulto contra o irmão, é algo que o mata”. Francisco observou também que, em especial na tradição latina, existe uma certa “criatividade maravilhosa” para inventar qualificativos: “Quando esse apelido é amistoso, tudo bem; o problema é quando existe o outro tipo de apelidos”, quando acontece “o mecanismo do insulto, uma forma de denegrir os outros”.

“Não há necessidade de consultar um psicólogo para saber que quando você denigre o outro é porque você mesmo não consegue crescer e precisa que o outro seja rebaixado para você se sentir alguém”. E este é “um mecanismo feio”. Jesus, “com toda a simplicidade, afirma: ‘Não falem mal uns dos outros. Não se denigram, não se desqualifiquem’. E isto”, completou o papa, “porque, no fim das contas, nós estamos todos caminhando pela mesma estrada, todos seguimos esse caminho que nos levará até o final”. Portanto, “se não caminhamos de um jeito fraterno, vamos todos acabar mal: aquele que insulta e aquele que é insultado”. Francisco destacou que “se você não é capaz de dominar a língua, você se perde”. Além disso, “a agressividade natural, aquela que Caim teve contra Abel, se repete ao longo da história”. Não é que sejamos maus, disse o papa: “somos frágeis e pecadores”. Por isso, é “muito mais fácil tentar arrumar uma situação com um insulto, com uma calúnia, com uma difamação, do que solucioná-la por bem”. “Eu queria pedir ao Senhor, para todos nós, a graça de prestar mais atenção à língua, àquilo que nós dizemos dos outros. É ‘uma pequena penitência’, mas dá bons resultados”.

Às vezes “ficamos com fome” ao nos abster de comentários sobre o próximo e pensamos: “Que pena que eu não experimentei aquele gosto de um delicioso comentário sobre o outro”… Mas no fim, “essa fome frutifica e nos faz bem”. Por isso, temos que pedir ao Senhor esta graça: adaptar a nossa vida “a esta nova lei, que é a lei da mansidão, a lei do amor, a lei da paz, e pelo menos ‘podar’ um pouco a nossa língua, ‘podar’ um pouco os comentários que fazemos sobre os outros e as explosões que nos levam ao insulto e à ira fácil. Que Deus conceda esta graça a todos nós!”.

“Eu gostaria de agradecer a nosso Senhor”, concluiu o papa, “também pela feliz coincidência de que o arcebispo maior dos ucranianos, dom Sviatoslav Shevchuk, que foi bispo em Buenos Aires, esteja em Roma hoje para a reunião da Secretaria do Sínodo e tenha podido participar conosco desta nostalgia argentina”.

“Nem ir para trás, nem um progressismo adolescente”

Papa Francisco convida: Abrir-se à liberdade do Espírito Santo

Por Redacao

ROMA, 12 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Não devemos ter medo da liberdade que o Espírito Santo nos dá. Este foi um dos destaques da homilia do papa Francisco na missa de hoje, celebrada na Casa Santa Marta. Francisco ressaltou que a Igreja precisa ter cuidado com duas tentações: a de voltar para trás e a do “progressismo adolescente”.

Concelebraram com o papa o cardeal emérito Bernard Agre, da Costa do Marfim, e o cardeal brasileiro João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e para as Sociedades de Vida Apostólica. Também participou um grupo de presbíteros, religiosos e leigos deste mesmo dicastério.

Maduros perante a lei

“Não pensem que eu vim suprimir a lei”. Francisco desenrolou a homilia a partir destas palavras de Jesus aos discípulos e indicou que esta passagem segue a das bem-aventuranças, “expressão da nova lei”, mais exigente que a de Moisés. Esta lei, acrescentou o papa, é “o fruto da aliança” e não pode ser entendida sem ela. “Esta aliança, esta lei, é sagrada porque levava as pessoas para Deus”. Francisco comparou a “maturidade desta lei” com o “broto que surge e se transforma em flor”. Jesus “é a expressão da maturidade da lei”, disse o pontífice, e Paulo nos fala de dois tempos “sem ruptura da continuidade” entre a lei da história e a lei do Espírito:

“O tempo do cumprimento da lei, o momento em que a lei alcança a maturidade, é a lei do Espírito. Avançar neste caminho é um pouco arriscado, mas é a única forma de amadurecer, para superar as vezes em que não fomos maduros. Neste caminho para a maturidade da lei, que é indicado precisamente pela pregação de Jesus, sempre existe o medo, o medo da liberdade que o Espírito nos dá. A lei do Espírito que nos torna livres! Esta liberdade nos dá um pouco de medo, porque temos medo de confundir a liberdade do Espírito com outra liberdade humana”.

Não voltar para trás

A lei do Espírito, reforçou o papa, “nos guia por uma estrada de contínuo discernimento para fazer a vontade de Deus e isto nos dá medo”. Um medo que “tem duas tentações”. A primeira é a de “voltar para trás”, de dizer “até aqui nós podíamos chegar, mas não podemos ir até lá, vamos ficar por aqui”. Esta é “a tentação do medo da liberdade, do medo do Espírito Santo (…) É melhor ficar naquilo que é seguro”. O papa contou então o caso de um superior geral que, nos anos 1930, “prescreveu todo tipo de regras anti-carisma” para os seus religiosos, “um trabalho de anos”. Quando chegou a Roma, um abade beneditino lhe disse, depois de ouvir este fato, que ele teria “matado o carisma da congregação”, “teria matado a liberdade”, já que “este carisma dá frutos na liberdade e ele tinha freado o carisma”.

“Existe essa tentação de voltar para trás, porque nos achamos mais ‘seguros’ lá atrás: mas a segurança plena está no Espírito Santo que nos leva para frente. E o que nos dá essa confiança, como diz São Paulo, é o Espírito, que é mais exigente, porque Jesus nos diz: ‘Em verdade vos digo: até não passarem os céus e a terra, não passará um ápice da lei’. É mais exigente! Mas não nos dá aquela segurança humana. Não podemos controlar o Espírito Santo: esse é o ‘problema’! Isto é uma tentação”.

A tentação do relativismo

Há também, prosseguiu Francisco, outra tentação: a do “progressismo adolescente”, que nos faz “sair da estrada”.

“Pegamos de um lado ou de outro os valores dessa cultura… Querem fazer essa lei? Então que seja feita essa lei. Querem levar adiante aquilo outro? Então vamos alargar um pouco mais o caminho. No fim, isso não é um verdadeiro progressismo. É um progressismo adolescente: como os adolescentes que querem ter tudo, com entusiasmo, e no final? Tropeçam… É como a estrada quando está congelada e o carro desliza e sai da pista… É outra tentação deste momento! Nós, neste momento da história da Igreja, não podemos voltar atrás nem sair da estrada!”.

O caminho, disse o papa, “é o da liberdade no Espírito Santo, que nos torna livres; do contínuo discernimento sobre a vontade de Deus para seguir em frente neste caminho, sem ter que voltar para trás e sem sair da estrada”. Peçamos ao Senhor “a graça que o Espírito Santo nos dá para seguir adiante”.