Deixar-se interpelar pelo Espírito Santo, ouvi-lo antes de tomar decisões, para não ter uma fé ideológica

ZENIT – Cidade do Vaticano, 29 maio 2017

O Papa Francisco inspirou-se na Primeira Leitura, na missa desta segunda-feira na Casa Santa Mata no Vaticano nesta semana que antecede Pentecostes e convidou a rezar para que o Espírito venha no coração, na paróquia, na comunidade.

De fato, a comunidade de Éfeso tinha recebido a fé, mas não sabia nem mesmo que existisse o Espírito Santo, indicou o Papa, eram “pessoas boas, de fé”, mas não conheciam este dom do Pai. Depois, Paulo impôs as mãos sobre eles, desceu o Espírito Santo e começaram a falar em línguas.

O Pontífice então convidou a perguntar-nos qual o lugar que o Espírito Santo tem em nossa vida: “Eu sou capaz de ouvi-lo? Eu sou capaz de pedir inspiração antes de tomar uma decisão ou dizer uma palavra ou fazer algo? Ou o meu coração está tranquilo, sem emoções, um coração fixo?

Se nós fizéssemos um eletrocardiograma espiritual, o resultado em muitos corações, seria linear, sem emoções. Também nos Evangelhos há essas pessoas, pensemos nos doutores da lei: acreditavam em Deus, todos sabiam os mandamentos, mas o coração estava fechado, parado, não se deixavam inquietar”.

– “Mas, padre, isso é sentimentalismo?”
– “Pode ser, mas não é. Se você for pela estrada justa não é sentimentalismo”.

“O Espírito Santo é o mestre do discernimento. Uma pessoa que não tem esses movimentos no coração, que não discerne o que acontece, é uma pessoa que tem uma fé fria, uma fé ideológica. A sua fé é uma ideologia, é isso”.

“Peço que me guie pelo caminho que devo escolher na minha vida e também todos os dias? Peço que me dê a graça de distinguir o bom do menos bom? Porque o bem do mal se distingue logo. Mas há aquele mal escondido, que é o menos bom, mas esconde o mal. Peço essa graça? Esta pergunta eu gostaria de semeá-la hoje no coração de vocês.”

Convidou assim a se interrogar se temos um coração irrequieto porque movido pelo Espírito Santo ou se fazemos somente “cálculos com a mente” .

“Peçamos também nós esta graça de ouvir o que o Espírito diz à nossa Igreja, à nossa comunidade, à nossa paróquia, à nossa família e cada um de nós, a graça de aprender esta linguagem de ouvir o Espírito Santo”, concluiu o Papa.

Papa aos novos sacerdotes: não ‘senhores’ mas pastores do povo de Deus

Papa Francisco ordena dez novos sacerdotes na Basílica de S. Pedro – EPA

 

 

 

 

 

 

 

07/05/2017 11:31

O Papa Francisco presidiu à Missa, na Basílica de S. Pedro, neste domingo do Bom Pastor e Dia de oração pelas vocações, Missa na qual o Papa ordenou 10 novos sacerdotes. Na sua homilia, Francisco falou antes de tudo do ministério sacerdotal ao qual foram chamados os novos presbíteros, reiterando que é o Senhor Jesus, único Sumo Sacerdote do NT, que dentre os discípulos quis escolher alguns para que, exercendo na Igreja o serviço sacerdotal, continuem a sua missão como mestre, sacerdote e pastor. E foram eleitos, portanto, pelo Senhor Jesus não para fazer carreira mas para fazer este serviço – ressaltou o Papa.
E, dirigindo-se aos ordenando-os, Francisco lembrou-lhes que eles serão participantes da missão de Cristo, único Mestre, e exortou-os a dispensar a todos a Palavra de Deus que eles mesmos receberam com alegria. E acrescentou:
“Seja, portanto, alimento para o Povo de Deus a vossa doutrina, simples, como falava o Senhor, que tocava o coração. Não façais homilias demasiado intelectuais, elaboradas,  falai com simplicidade, falai aos corações. A vossa palavra seja alegria e apoio para os fiéis de Cristo o perfume da vossa vida, para que com a palavra e o exemplo possais edificar a casa de Deus, que é a Igreja”.
Na verdade, palavra sem exemplo não serve, disse Francisco, é melhor voltar para trás, porque a dupla vida é uma doença feia na Igreja.
Em seguida, o Papa recordou aos novos Presbíteros três particulares tarefas da sua futura missão: o baptismo, para agregar novos fiéis ao povo de Deus; a penitência para perdoar os pecados em nome de Cristo e da Igreja e a visita aos enfermos, tendo sublinhado a necessidade de serem sempre misericordiosos:
“E eu, em nome de Jesus Cristo, o Senhor, e da sua esposa, a Santa Igreja, peço-vos para serdes misericordiosos, sempre. Não carregueis nos ombros dos fiéis pesos que não podem suportar e que nem vós podeis suportar. Jesus criticou a estes doutores chamando-os “hipócritas”.
E sobre a importância da visita aos doentes, Francisco acrescentou:
“Com o óleo santo dareis alívio aos doentes. Uma das tarefas, talvez aborrecida e também dolorosa, ir visitar os doentes – fazei-o vós. Não deixeis de tocar a carne sofredora de Cristo nos doentes: isto vos santifica, vos aproxima de Cristo. Celebrando os ritos sagrados e elevando nas várias horas do dia, a oração de louvor e súplica, sereis a voz do Povo de Deus e de toda a humanidade”.
Por último, o Papa convidou os novos sacerdotes a serem alegres, nunca tristes, no serviço de Cristo, mesmo no meio dos sofrimentos, incompreensões e os próprios pecados, tendo sempre presente o exemplo do Bom Pastor, que não veio para ser servido mas para servir, e pediu-lhes por favor, não sejais “senhores”, não sejais “clérigos de estado”, mas pastores, pastores do Povo de Deus. (BS)

Papa em Santa Marta: ‘Cruz não é ornamento, mas sinal do amor de Deus’

Não há salvação nas ideias ou na boa vontade, mas na Cruz de Cristo

Santa Marta, 04 de abril de 2017 (Osservatore © Romano)

Santa Marta, 04 De Abril De 2017 (Osservatore © Romano)

(ZENIT – Cidade do Vaticano).- A Cruz de Cristo é um sinal de salvação e não um ‘ornamento’ decorativo na vida das pessoas. A única salvação está em Cristo crucificado. Foi o que recordou nesta terça-feira o papa Francisco, na homilia da Missa a que presidiu hoje na Capela da Casa de Santa Marta.

No Evangelho do dia, por três vezes Jesus diz aos fariseus: “Morrereis nos vossos pecados”, porque tinham o coração fechado e não entendiam aquele mistério que o Senhor representava. ”Morrer no próprio pecado é algo ruim”, e precisou: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, e que nada faço por mim mesmo”.

Jesus se refere a Primeira Leitura, quando o povo se afasta do Senhor e fala mal Dele e de Moisés. Assim chegam as serpentes que mordem e provocam a morte. O Senhor pede a Moisés que faça uma serpente de bronze e a coloque como sinal sobre uma haste: Quando alguém era mordido e olhava para a serpente de bronze, ficava curado.

A serpente é o “símbolo do diabo”, “o pai da mentira”, que fez a humanidade pecar. E Jesus recorda: “Quando eu for elevado, todos virão a mim”.

Este é o mistério da cruz: “a serpente de bronze curava”, mas “era sinal de duas coisas: do pecado cometido pela serpente, de sua sedução, de sua astúcia; e também era sinal da cruz de Cristo. Era uma profecia”.

“Não há salvação nas ideias, não há salvação na boa vontade, no desejo de ser bons… não”, disse o Papa. “A única salvação está em Cristo crucificado, porque somente Ele, como a serpente de bronze, foi capaz de tomar para si todo o veneno do pecado e nos curar.

Mas o que é a cruz para nós? Sim, é o sinal dos cristãos, é o símbolo dos cristãos. Nós fazemos o sinal da cruz, mas nem sempre o fazemos bem; porque não temos fé na cruz. Outras vezes, para algumas pessoas, é um distintivo de pertença: ‘Sim, eu uso uma cruz para mostrar que sou cristão’. É bom isso, mas não só como distintivo, como se fosse de um time, mas como memória daquele que se fez pecado”.

“Podemos pensar: Como uso a cruz? Como uma recordação? Quando faço o sinal da cruz tenho consciência do que faço? Como levo a cruz? Somente como um símbolo de pertença a um grupo religioso? Como uma decoração?”.

“Outros, ainda, usam a cruz como um ornamento; alguns usam cruzes com pedras preciosas, para se mostrar”, indicou Francisco. “Aprendi a levá-la nas costas, aonde machuca? Cada um de nós, hoje, observe o Crucifixado, olhe para este Deus que se fez pecado para que nós não morramos nos nossos pecados e responda a estas perguntas que acabei de sugerir”, concluiu o Papa.

Francisco presidiu a cerimônia da Quarta-feira de Cinzas – Texto da homilia na basílica de Santa Sabina

O Papa celebrou a missa com a bênção e imposição das cinzas

O Papa Recebeu As Cinzas, Como Um Simples Fiel. (Fto. Osservatore © Romano)

(ZENIT- Citade do Vaticano, 1º de março 2017).- O Papa Francisco presidiu, nesta quarta-feira a procissão penitencial que partiu da basílica de Santo Anselmo até a basílica de Santa Sabina, em Roma, onde celebrou a missa com a bênção e imposição das cinzas. Apresentamos, a seguir, o texto da homilia pronunciada pelo Papa.

«Convertei-vos a Mim de todo o coração, (…) convertei-vos ao Senhor» (Jl 2, 12.13): é o grito com que o profeta Joel se dirige ao povo em nome do Senhor; ninguém podia sentir-se excluído: «Juntai os anciãos, congregai os pequeninos e os meninos de peito, (…) o esposo (…) e a esposa» (Jl 2, 16). Todo o povo fiel é convocado para se pôr a caminho e adorar o seu Deus, «porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia» (Jl 2, 13).

Queremos também nós fazer ecoar este apelo, queremos voltar ao coração misericordioso do Pai. Neste tempo de graça que hoje iniciamos, fixemos uma vez mais o nosso olhar na sua misericórdia. A Quaresma é um caminho: conduz-nos à vitória da misericórdia sobre tudo o que procura esmagar-nos ou reduzir-nos a outra coisa qualquer que não corresponda à dignidade de filhos de Deus.

A Quaresma é a estrada da escravidão à liberdade, do sofrimento à alegria, da morte à vida. O gesto das cinzas, com que nos colocamos a caminho, lembra-nos a nossa condição original: fomos tirados da terra, somos feitos de pó.

Sim, mas pó nas mãos amorosas de Deus, que soprou o seu espírito de vida sobre cada um de nós e quer continuar a fazê-lo; quer continuar a dar- nos aquele sopro de vida que nos salva de outros tipos de sopro: a asfixia sufocante causada pelos nossos egoísmos, asfixia sufocante gerada por ambições mesquinhas e silenciosas indiferenças; asfixia que sufoca o espírito, estreita o horizonte e anestesia o palpitar do coração.

O sopro da vida de Deus salva-nos desta asfixia que apaga a nossa fé, resfria a nossa caridade e cancela a nossa esperança. Viver a Quaresma é ansiar por este sopro de vida que o nosso Pai não cessa de nos oferecer na lama da nossa história.

O sopro da vida de Deus liberta-nos daquela asfixia de que muitas vezes nem estamos conscientes, habituando-nos até a «olhá-la como normal», apesar dos seus efeitos que se fazem sentir; parece-nos «normal», porque nos habituamos a respirar um ar em que a esperança é rarefeita, ar de tristeza e resignação, ar sufocante de pânico e hostilidade.

A Quaresma é o tempo para dizer não. Não à asfixia do espírito pela poluição causada pela indiferença, pela negligência de pensar que a vida do outro não me diz respeito; por toda a tentativa de banalizar a vida, especialmente a daqueles que carregam na sua própria carne o peso de tanta superficialidade.

A Quaresma significa não à poluição intoxicante das palavras vazias e sem sentido, da crítica grosseira e superficial, das análises simplistas que não conseguem abraçar a complexidade dos problemas humanos, especialmente os problemas de quem mais sofre.

A Quaresma é o tempo de dizer não; não à asfixia duma oração que nos tranquilize a consciência, duma esmola que nos deixe satisfeitos, dum jejum que nos faça sentir bem.

A Quaresma é o tempo de dizer não à asfixia que nasce de intimismos que excluem, que querem chegar a Deus esquivando- se das chagas de Cristo presentes nas chagas dos seus irmãos: espiritualidades que reduzem a fé a culturas de gueto e exclusão.

A Quaresma é tempo de memória, é o tempo para pensar perguntando-nos: Que seria de nós se Deus nos tivesse fechado as portas? Que seria de nós sem a sua misericórdia, que não se cansou de perdoar-nos e sempre nos deu uma oportunidade para começar de novo?

A Quaresma é o tempo para nos perguntarmos: Onde estaríamos nós sem a ajuda de tantos rostos silenciosos que nos estenderam a mão de mil modos e, com ações muito concretas, nos devolveram a esperança e ajudaram a recomeçar?

A Quaresma é o tempo para voltar a respirar, é o tempo para abrir o coração ao sopro do Único capaz de transformar o nosso pó em humanidade. É o tempo não tanto para rasgar as vestes frente ao mal que nos rodeia, como sobretudo para dar espaço na nossa vida a todo o bem que possamos realizar, despojando-nos daquilo que nos isola, fecha e paralisa.

A Quaresma é o tempo da compaixão para dizer com o salmista: «Dai-nos [, Senhor,] a alegria da vossa salvação, sustentai- nos com um espírito generoso», a fim de proclamarmos com a nossa vida o vosso louvor (cf. Sal 51/50, 14), e que o nosso pó – pela força do vosso sopro de vida – se transforme em «pó enamorado».

O Papa rezou diante das urnas do Pe. Pio e de São Leopoldo

De improviso, o Papa chegou na Basílica de São Pedro para venerar os restos mortais dos dois Capuchinhos. Em seguida rezou o terço com os fieis e leu uma oração para o Pe. Pio

8 FEVEREIRO 2016
L'Osservatore Romano - Twitter

No último sábado à tarde, o Papa Francisco foi de improviso à Basílica de São Pedro para venerar os restos mortais do Pe. Pio e Pe. Leopoldo Mandic, os dois capuchinhos confessores que o Pontífice quis em Roma por ocasião do Jubileu extraordinário da Misericórdia.

As imagens transmitidas pelas câmeras para todo o mundo, mostraram o Santo Padre recolhido em oração, sentado entre os bancos como um fiel comum ou de pé perante as urnas dos dois Santos. O Papa, em seguida, uniu-se aos fieis que rezavam o terço e depois de meia hora leu em voz alta o texto de uma oração escrita pelo cardeal Angelo Comastri, que publicamos a seguir integralmente a nossa tradução.

Antes de sair da Basílica cumprimentou alguns dos fiéis e da comunidade religiosa de San Giovanni Rotondo.

*

A oração ao Santo Padre Pio de S. Em. Card. Angelo Comastri

Padre Pio, tu vivestes no século do orgulho e fostes humilde.

Padre Pio, tu passastes no meio de nós na época das riquezas sonhas, jogadas e adoradas: e permanecestes pobre.

Padre Pio, ao teu lado ninguém escutava a Voz: e tu falavas com Deus;

Perto de ti ninguém via a Luz: e tu vias a Deus.

Padre Pio, enquanto nós corríamos ofegantes, tu permanecestes de joelho e vistes o Amor de Deus pregado no Madeiro, ferido nas mãos, nos pés e no coração: para sempre!

Padre Pio, ajude-nos a chora diante da Cruz, ajude-nos a crer diante do Amo, ajude-nos a sentir a Missa como choro de Deus, ajude-nos a procurar o perdão como abraço de paz, ajude-nos a ser cristãos com as feridas que jorram da caridade fiel e silenciosa: com as feridas de Deus! Amém.

Na Audiência Geral desta quarta-feira, 13 de janeiro, o Papa Francisco iniciou um ciclo de catequeses sobre a misericórdia

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje começamos as catequeses sobre misericórdia segundo a perspectiva bíblica, de modo a aprender a misericórdia ouvindo aquilo que o próprio Deus nos ensina com a sua Palavra. Comecemos pelo Antigo Testamento, que nos prepara e nos conduz à revelação plena de Jesus Cristo, no qual em modo realizado se revela a misericórdia do Pai.

Na Sagrada Escritura, o Senhor é apresentado como “Deus misericordioso”. É esse o seu nome, através do qual Ele nos revela, por assim dizer, a sua face e o seu coração. Ele mesmo, como narra o Livro do êxodo, revelando-se a Moisés, se auto-define assim: “O Senhor, Deus misericordioso e piedoso, lento para a ira e rico de amor e de fidelidade” (34, 6). Também em outros textos encontramos essa fórmula, com algumas variantes, mas sempre a insistência é colocada sobre a misericórdia e sobre o amor de Deus que nunca se cansa de perdoar (cfr Jo 4, 2; Gl 2, 13; Sal 86, 15; 103, 8; 145, 8; Ne 9, 17). Vejamos juntos, uma por uma, estas palavras da Sagrada Escritura que nos falam de Deus.

O Senhor é “misericordioso”: esta palavra evoca uma atitude de ternura como aquela de uma mãe para com o filho. De fato, o termo hebraico usado pela Bíblia faz pensar nas vísceras ou também no ventre materno. Por isso, a imagem que sugere é aquela de um Deus que se comove e se amolece por nós como uma mãe quando toma nos braços o seu filho, desejosa somente de amar, proteger, ajudar, pronta a doar tudo, também a sim mesma. Essa é a imagem que esse termo sugere. Um amor, portanto, que se pode definir em bom sentido “visceral”.

Depois está escrito que o Senhor é “piedoso”, no sentido de que faz graça, tem compaixão e, na sua grandeza, se inclina sobre quem é mais frágil e pobre, sempre pronto a acolher, a compreender, a perdoar. É como o pai da parábola reportada pelo Evangelho de Lucas (cfr Lc 15, 11-32): um pai que não se fecha no ressentimento pelo abandono do filho menor, mas, ao contrário, continua a esperá-lo – gerou-o – e depois corre ao seu encontro e o abraça, não lhe deixa nem mesmo terminar a sua confissão – como se lhe cobrisse a boca – tão grande é o amor e a alegria por tê-lo reencontrado; e depois vai também chamar o filho mais velho, que está irritado e não quer fazer festa, o filho que permaneceu sempre em casa, mas vivendo como um servo mais que como um filho, e justamente sobre ele o pai se inclina, convida-o a entrar, procura abrir o seu coração ao amor, para que ninguém fique excluído da festa da misericórdia. A misericórdia é uma festa!

Deste Deus misericordioso é dito também que é “lento à ira”, literalmente, “longo de respiro”, isso é, com a respiração ampla de paciência e de capacidade de suportar. Deus sabe esperar, os seus tempos não são aqueles impacientes dos homens; Ele é como o sábio agricultor que sabe esperar, dá tempo para a semente boa crescer, apesar das ervas daninhas (cfr Mt 13, 24-30).

E, por fim, o Senhor se proclama “grande no amor e na fidelidade”. Como é bela essa definição de Deus! Aqui está tudo. Porque Deus é grande e poderoso, mas esta grandeza e poder se desdobram em nos amar, nós assim tão pequenos, tão incapazes. A palavra “amor” aqui utilizada indica o afeto, a graça, a bondade. Não é o amor da telenovela…É amor que dá o primeiro passo, que não depende dos méritos humanos, mas de uma imensa gratuidade. É a solicitude divina que nada pode parar, nem mesmo o pecado, porque sabe ir além do pecado, vencer o mal e perdoá-lo.

Uma “fidelidade” sem limites: eis a última palavra da revelação de Deus a Moisés. A fidelidade de Deus nunca falha, porque o Senhor é o Guardião, como diz o Salmo, não dorme, mas vigia continuamente sobre nós para nos levar à vida:

“Não deixará vacilar os teus pés,
não adormecerá o teu guardião.
Não se adormecerá, não pegará no sono
o guardião de Israel.
[…]
O Senhor te protegerá de todo mal:
ele protegerá a tua vida.
O Senhor te protegerá quando saires e quando entrares,
agora e para sempre” (121, 3-4. 7-8).

E esse Deus misericordioso é fiel na sua misericórdia e São Paulo diz uma coisa bonita: se tu não lhe é fiel, Ele permanecerá fiel, porque não pode renegar a si mesmo. A fidelidade na misericórdia é justamente o ser de Deus. E por isso Deus é totalmente e sempre confiável. Uma presença sólida e estável. É essa a certeza da nossa fé. E então, neste Jubileu da Misericórdia, confiemo-nos totalmente a Ele e experimentemos a alegria de sermos amados por esse “Deus misericordioso e piedoso, lento à ira e grande no amor e na fidelidade”.

“O nome de Deus é misericórdia” é o título do livro, fruto de uma entrevista do Papa ao vaticanista Andrea Tornielli

Da Redação, com Rádio Vaticano e Agência Ecclesia

A misericórdia é a “carteira de identidade” de Deus, assim diz o Papa Francisco no livro-entrevista “O nome de Deus é misericórdia”, que se encontra a partir desta terça-feira, 12, nas livrarias italianas e em 86 países. A publicação relata uma entrevista do Pontífice ao jornalista vaticanista Andrea Tornielli, do cotidiano “La Stampa” e coordenador do site “Vatican Insider”.

Dividido em nove capítulos e 40 perguntas, o livro – editado pela Piemme – tem a capa autografada por Francisco. A primeira cópia do volume, em italiano, foi entregue ontem à tarde ao Pontífice, na Casa Santa Marta.

A entrevista foi concedida em julho de 2015, após a visita do Papa à América Latina (Equador, Bolívia e Paraguai). Francisco recebeu o jornalista Tornielli na Casa Santa Marta, munido da Bíblia e de citações dos Padres da Igreja. A misericórdia foi o tema da conversa, tendo em vista o Jubileu extraordinário que seria aberto cinco meses depois. Os frutos desse diálogo estão no livro lançado hoje.

Oração, reflexão sobre os Papas precedentes e uma imagem da Igreja como “hospital de campanha” que “aquece os corações das pessoas com a proximidade”. Esses são os três fatores, explica o Papa, que o levaram a instituir um Jubileu da Misericórdia.

“A Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com o amor visceral que é a misericórdia de Deus”, refere Francisco, na entrevista ao vaticanista italiano.

Num dos trechos da obra, divulgado pela Rádio Vaticano, Francisco diz que também o Papa é alguém com “necessidade da misericórdia de Deus” e revela ter uma relação especial com os presos.

“Tenho um especial carinho pelos que vivem na prisão, privados da liberdade. Fiquei muito ligado a eles, por esta consciência do meu ser pecador”, explica, acrescentando que não se sente “melhor” do que aqueles que estão à sua frente.

Missão da  Igreja no mundo

O Papa apresenta a sua visão sobre a missão da Igreja no mundo, sublinhando que quando “condena o pecado” o faz porque “deve dizer a verdade”. Ao mesmo tempo, no entanto, “abraça o pecador que se reconhece como tal, aproxima-se dele, fala-lhe da misericórdia infinita de Deus”, à imagem de Jesus, que “perdoou mesmo os que o crucificaram”.

“Seguindo o Senhor, a Igreja é chamada a derramar a sua misericórdia sobre todos os que se reconhecem como pecadores, responsáveis pelo mal que fizeram, que sentem necessidade do perdão”, observou.

O Ano da Misericórdia

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Em relação ao Ano Santo extraordinário que convocou, o Jubileu da Misericórdia (dezembro de 2015-novembro de 2016), Francisco espera que a iniciativa permita fazer emergir um rosto cada vez mais materno da Igreja.

O Papa convida as comunidades católicas a “sair das igrejas e das paróquias” para ir ao encontro das pessoas, onde elas vivem, “sofrem e esperam”.

“A Igreja em saída tem a caraterística de surgir no local onde se combate, não é a estrutura sólida, dotada de tudo”, mas um “hospital de campanha” no qual se pratica uma “medicina de urgência”.

Nesse sentido, deseja que o jubileu extraordinário “faça emergir cada vez mais o rosto de uma Igreja que redescobre as vísceras maternas da misericórdia e que vai ao encontro de tantos feridos necessitados de escuta, compaixão, perdão, amor”.

A tradução portuguesa, que inclui a Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, é editada pela Planeta.

A obra é apresentada numa sessão em Roma, com a presença do autor, Andrea Tornielli, e do ator e realizador italiano Roberto Benigni, com quem o Papa se encontrou esta segunda-feira, juntamente com Zhang Agostinho Jianqing, um preso chinês na Itália que se converteu ao catolicismo.

“O nome de Deus é misericórdia” – síntese

2016-01-12 Rádio Vaticana

 

 

 

 

 

 

Cidade do Vaticano (RV) – A misericórdia é “a carteira de identidade” de Deus, afirma o Papa Francisco, no livro-entrevista “O nome de Deus é misericórdia”, nas livrarias italianas a partir desta terça-feira, 12. A obra é uma compilação de uma conversa entre o Pontífice e o vaticanista do jornal italiano “La Stampa”, Andrea Tornielli, e coordenador do site “Vatican Insider”. Dividido em nove capítulos e 40 perguntas, o livro – editado pela Piemme – tem a capa autografada pelo Papa Francisco. A primeira cópia do volume, em italiano, foi entregue ao Pontífice na tarde de segunda-feira, 11, na Casa Santa Marta.

Entrevista gravada em julho de 2015

Julho de 2015, Casa Santa Marta. O Papa Francisco recém havia retornado de sua viagem apostólica ao Equador, Bolívia e Paraguai. É uma tarde abafada quando recebe o jornalista Andrea Tornielli, munido de três gravadores. Diante de si, sobre uma pequena mesa, o Santo Padre tem uma Bíblia e um livro com citações dos Padres da Igreja. A misericórdia é o tema da conversa que nasce entre os dois, em vista do Jubileu Extraordinário que foi aberto cinco meses após. Hoje, os frutos daquele diálogo estão compilados no livro “O nome de Deus é misericórdia”.

Capítulo I – É o tempo da misericórdia

Oração, reflexão sobre os Pontífices precedentes e uma imagem da Igreja como “hospital de campanha”, que “aquece os corações das pessoas com a proximidade”. São estes os três fatores – explica o Papa – que o impeliram a convocar o Jubileu da Misericórdia. “A nossa época é um tempo oportuno” por isto – observa – porque hoje se vive um duplo drama: perdeu-se o sentido do pecado, e ele é considerado também incurável, imperdoável. Por isto, a humanidade ferida por tantas “doenças sociais” – pobreza, exclusão, escravidão do terceiro milênio, relativismo – tem necessidade de misericórdia, desta “carteira de identidade de Deus”, daquele que “permanece sempre fiel”, mesmo que o pecador o renegue.

A graça da vergonha torna o pecador consciente do pecado

Também é central neste primeiro capítulo a reflexão do Papa sobre o tema da vergonha, entendida como “uma graça”, porque torna o pecador consciente do próprio pecado. Em particular, a ênfase ao assim chamado “apostolado da escuta”, ou seja, a capacidade dos confessores de “ouvir com paciência”, pois hoje as pessoas “buscam sobretudo alguém que esteja disposto a doar o próprio tempo para escutar os seus dramas e as suas dificuldades”. Entre outras coisas – observa – é por isto que tantos procuram os quiromantes. O Pontífice destaca, ademais, “que se o confessor não pode absolver, dê alguma bênção, mesmo sem absolvição sacramental”, porque “o amor de Deus existe também para quem não está na disposição de receber o Sacramento”.

A grande responsabilidade de ser confessor

“Tenham ternura com estas pessoas – recomenda o Papa aos sacerdotes – não as afastem”, porque “as pessoas sofrem” e “ser confessor é uma grande responsabilidade”. A este respeito, o Pontífice cita o caso de sua sobrinha: “Eu tenho uma sobrinha que casou no civil com um homem, antes que pudesse ter o processo de nulidade matrimonial. Este homem era tão religioso, que todos os domingos, quando ia à missa, ia ao confessionário e dizia ao sacerdote: “Eu sei que o senhor não pode me absolver, mas pequei nisto e naquilo, me dê uma bênção”. Este é um homem religiosamente formado”.

Capítulo II – Confissão não é lavanderia, nem tortura. Ouvir, não interrogar

Além disto, se vai ao confessionário “não para ser julgado”, mas para “alguma coisa maior do que o juízo: para o encontro com a misericórdia” de Deus, sem a qual “o mundo não existiria”. Por isto – enfatiza Francisco – o confessionário não deve ser “nem uma lavanderia”, onde se lava o pecado a seco, como uma simples mancha, nem “uma sala de tortura”, onde se depara com “o excesso de curiosidade” de alguns confessores, curiosidades às vezes “um pouco doentias”, mórbidas, que transformam a confissão em um interrogatório.

Capítulo 3 – Reconhecer-se pecador. Um coração em pedaços é uma oferta agradável a Deus

Pelo contrário, “no diálogo com o confessor é necessário ser ouvidos, não interrogados”. Neste sentido, o sacerdote deve “aconselhar com delicadeza”. Mas para obter a misericórdia de Deus – reitera novamente Francisco – é importante reconhecer-se pecador, porque “o coração em pedaços é uma oferta agradável ao Senhor, é o sinal de que estamos conscientes de nossa necessidade de perdão, de misericórdia”. O Papa recorda, depois, que a misericórdia de Deus é “infinitamente maior do que o nosso pecado”, porque o Senhor “nos primeireia”, “antecipa-se a nós, nos espera” com o seu perdão, com a sua graça”. “Somente o fato de uma pessoa ir ao confessionário – explica – indica de que já existe um início de arrependimento”. E às vezes vale mais “a presença desajeitada e humilde de um penitente que tem dificuldade em falar, do que as tantas palavras de alguém que descreve o seu arrependimento”.

Capítulo IV – Também o Papa tem necessidade da misericórdia de Deus

O Papa define-se como “um homem que tem necessidade da misericórdia de Deus” e dá alguns conselhos ao penitente e ao confessor: ao penitente, sugere que não seja soberbo, mas que olhe “com sinceridade a si mesmo e ao próprios pecados”, para assim receber o dom da misericórdia de Deus. Aos confessores, por sua vez, Francisco sugere a pensarem, antes de tudo, nos próprios pecados e depois, ouvirem “com ternura”, sem “atirar nunca a primeira pedra”, mas procurando “assemelhar-se a Deus na sua misericórdia”. Como modelo, o Pontífice cita o pai que vai de encontro ao filho pródigo e o abraça, antes ainda que o jovem admita os seus pecados. “Este é o amor de Deus – sublinha o Papa – esta é a superabundância da misericórdia”.

Capítulo V – A Igreja condena o pecado, mas abraça o pecador

E para aqueles que afirmam que na Igreja existe “muita misericórdia”, o Papa responde sublinhando que “a Igreja condena o pecado”, mas “ao mesmo tempo abraça o pecador que se reconhece como tal, fala a ele da misericórdia de Deus”. É necessário perdoar “setenta vezes sete”, isto é, sempre”, enfatizou o Pontífice, porque “Deus é um pai cuidadoso, atento, pronto em acolher qualquer pessoa que dê um passo ou que tenha o desejo de dar um passo” em direção a ele, e “nenhum pecado humano, por mais grave que seja, pode prevalecer sobre a misericórdia e limitá-la”. A Igreja, portanto, “não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus”.

Igreja deve estar “em saída”, ser “hospital de campanha” para os necessitados de perdão

Para fazer isto, porém, ela deve ser “Igreja em saída”, “hospital de campanha que vai de encontro aos tantos “feridos” necessitados de escuta, compreensão, perdão, amor”. É importante, de fato, “acolher com delicadeza aqueles que estão diante de nós, não ferir a sua dignidade”, afirma o Santo Padre, citando uma experiência pessoal, que remonta aos tempos em que era pároco na Argentina: uma mulher que se prostituía para manter os seus filhos, agradeceu a ele por sempre trata-la por “Senhora”.

Capítulo VI – Não lamber as feridas do pecado, mas ir em direção a Deus

Francisco também chama a atenção para a atitude de quem desespera “pela possibilidade de ser perdoado” e prefere lamber as feridas do pecado, impedindo de fato a cura. “Esta é uma doença narcisista que leva à amargura”, observa o Papa, em que se encontra “um prazer na amargura, um prazer doentio”. Pelo contrário, “o remédio existe”: basta somente dar um passo em direção a Deus ou ao menos ter o desejo de dar este passo, “assumindo a própria condição”, sem crer-se “autossuficiente” e sem esquecer as nossas origens, “a lama de onde fomos tirados, o nosso nada”. E isto “vale sobretudo para os consagrados”, sublinha. Na vida, de fato, o importante não é “não cair nunca”, mas sim, “levantar-se sempre”. Esta, então, é a missão da Igreja. “Que as pessoas percebam que sempre é possível recomeçar se permitimos que Jesus nos perdoe”.

Delicadeza e não marginalização das pessoas homossexuais

Respondendo, depois, a uma pergunta sobre pessoas homossexuais, o Papa explica o que afirmou em 2013, durante a coletiva de imprensa no avião que o trazia de retorno do Rio de Janeiro, isto é, “se uma pessoa é gay, busque o Senhor e tenha boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. “Eu havia parafraseado de memória o Catecismo da Igreja Católica – pondera – onde explica que estas pessoas devem ser tratadas com delicadeza e não devem ser marginalizadas”. O Papa aprecia a expressão “pessoa homossexual” porque, explica, “antes existe a pessoa, na sua totalidade e dignidade”, que “não é definida somente pela sua tendência homossexual”. “Eu prefiro que as pessoas homossexuais venham confessar-se, que permaneçam próximas ao Senhor, que se possa rezar juntos”, acrescentou.

Misericórdia é doutrina,  é o primeiro atributo de Deus

Quanto à relação entre verdade, doutrina e misericórdia, Francisco explica: “Eu amo antes dizer: a misericórdia é verdadeira”, “é o primeiro atributo de Deus”. “Depois se podem fazer reflexões teológicas sobre doutrina e misericórdia – acrescenta – mas sem esquecer de que a misericórdia é doutrina”. A este propósito, o Papa cita “os doutores da lei, os principais opositores de Jesus, que o desafiam em nome da doutrina”. Eles seguem uma lógica de pensamento e de fé que olha “ao medo de perder os justos, os já salvos”. Jesus, pelo contrário, segue outra lógica: aquela que redime o pecado, acolhe, abraça, transforma o mal em bem, a condenação em salvação. É a lógica de um Deus que é amor – explica o Papa – um Deus que quer a salvação de todos os homens, que não se detém “em estudar a situação em uma mesinha”, avaliando os prós e os contras. Para o Senhor, o que conta realmente é “alcançar os afastados e salvá-los”, curar e integrar “os marginalizados que estão fora” da sociedade.

Lógica de Deus é lógica do amor que escandaliza os “doutores da lei”

Certamente – sublinha Francisco – esta lógica pode escandalizar, antes como agora, provocando “o resmungo” de quem está habituado aos próprios “esquemas mentais e à própria pureza ritualística”, ao invés de “deixar-se surpreender” por um amor maior. Pelo contrário, é precisamente esta lógica o caminho que o Senhor nos indica diante das pessoas que “sofrem no físico e no espírito”, para vencer assim “preconceitos e rigidezes” e evitar de julgar e condenar “do alto da própria segurança”. Ir em direção aos marginalizados e aos pecadores – prossegue Francisco – não significa permitir aos lobos que entrem no rebanho, mas sim procurar alcançar todos, testemunhando a misericórdia, sem nunca cair na tentação de sentir-se “os justos ou os perfeitos”.

Adesão formal às regras leva à degradação do estupor

Quem se descobre “doente na alma”, de fato, deve encontrar portas abertas, não fechadas; acolhida, não julgamento ou condenação; ajuda, não marginalização. Os cristãos que “apagam aquilo que o Espírito acende no coração de um pecador”, avalia Francisco, são como os doutores da lei, “sepulcros caiados” que, com a hipocrisia, viviam apegados à letra da lei, sabiam somente fechar portas, colocar limites, mas negligenciavam o amor. Se prevalece a adesão formal às regras – chama a atenção o Papa – então se verifica “a degradação do estupor”, ou seja, se maravilha menos diante da salvação trazida por Deus, e isto nos leva a acreditar “conseguirmos fazer sozinhos, sermos nós os protagonistas”. Este comportamento “é a base do clericalismo” e leva os ministros de Deus a acreditarem-se como “donos da doutrina, titulares de um poder”.

Lei da Igreja é inclusiva, não exclusiva

A Igreja não deve nunca ser assim – afirma o Papa – não deve ter o comportamento de quem impõe “fardos pesados” nas costas das pessoas. “Para algumas pessoas rígidas – disse – faria bem uma escorregada, porque assim, reconhecendo-se pecadores, encontrariam Jesus”. “A grande lei da Igreja, de fato, é aquela do et et e não aquela do aut aut”. A este propósito Francisco cita exemplos negativos, como os cinquenta mil dólares pedidos a uma mulher por um processo de nulidade matrimonial ou como o funeral em uma igreja, recusado a uma criança, por esta não ser batizada.

Capítulo VII – Corrupção, um pecado elevado à sistema. Pecadores sim, corruptos não!

Ampla, após, a reflexão de Francisco sobre a corrupção, definida como “o pecado elevado à sistema, que tornou-se um hábito mental, um modo de viver”. O corrupto peca e não se arrepende – diz o Papa – finge ser cristão e com a sua vida dupla provoca escândalo, acredita não precisar mais pedir perdão, passa a vida em meio aos atalhos do oportunismo, ao preço da dignidade sua e dos outros. Com o seu “rosto de santinho”, o corrupto evade os impostos, dispensa os funcionários para não assumi-los definitivamente, explora o trabalho informal e depois se vangloria de suas espertezas com os amigos ou até mesmo vai à missa no domingo, mas depois usa o suborno no trabalho. E “frequentemente não se dá conta de seu estado” como “quem tem a respiração pesada”. “Pecadores sim, corruptos não!” – exorta o Papa – convidando a rezar, durante o Jubileu, para que Deus abra brechas nos corações do corruptos, dando a eles “a graça da vergonha”.

Justiça não basta por si só, é necessária a misericórdia

Após, o Pontífice recorda que a misericórdia “é um elemento indispensável”, para que exista fraternidade entre os homens. A justiça, por si só, de fato, não basta: com a misericórdia, Deus vai além da justiça, “a engloba e a supera” no amor. “Não existe justiça sem perdão – disse ainda Francisco, no fulcro de João Paulo II – e a capacidade de perdão está na base de todo projeto de uma sociedade futura, mais justa e solidária. E não somente: “a misericórdia contagia a humanidade” e isto se reflete “na justiça terrena, nas normas jurídicas”. Basta pensar à crescente rejeição da pena de morte que se registra a nível mundial.

Família, primeira escola de misericórdia

“Com a misericórdia a justiça é mais justa” – sublinha ainda Francisco – enfatizando que isto não significa “ser exageradamente condescendente, escancarar as portas das prisões a quem se manchou com crimes graves”, mas sim ajudar a quem caiu a levantar-se, porque Deus “perdoa tudo”, “realiza milagres também com a nossa miséria” e a sua misericórdia “será sempre maior do que qualquer pecado”, tanto que ninguém pode colocar um limite a ela. O Pontífice recorda, após, que a família “é a primeira escola da misericórdia”, pois nela “se é amado e se aprende a amar, se é perdoado e se aprende a perdoa”.

Capítulo VIII – A compaixão vence a globalização da indiferença

Quanto às características do amor infinito de Deus, o Papa Bergoglio recordou que Deus nos ama com compaixão e misericórdia; a primeira tem um rosto mais humano. A segunda, por sua vez, é divina. De fato, Jesus não olha à realidade a partir do exterior, “como se tirasse uma fotografia”, mas “deixa-se envolver”. Hoje existe necessidade desta compaixão – explica –  e existe necessidade dela para vencer “a globalização da indiferença”.

Capítulo IX – Praticar obras de misericórdia. Está em jogo a credibilidade dos cristãos

Na conclusão do livro-entrevista, o Papa coloca o foco nas obras de misericórdia, corporais e espirituais: “São atuais e sempre válidas – diz – estão na base do exame de consciência e ajudam a abrir-se à misericórdia de Deus”. Disto, vem a exortação a servir Jesus “em toda pessoa marginalizada”, excluída, faminta, sedenta, nua, prisioneira, doente, desempregada, perseguida, refugiada. Na acolhida do marginalizado, ferido no corpo, e do pecador, ferido na alma, joga-se, de fato, “a credibilidade dos cristãos”, conclui o Pontífice. Porque no fundo, como dizia São João da Cruz, “no anoitecer da vida, seremos julgado no amor”. (JE)

(from Vatican Radio)

Esta é a oração do Papa pelo Jubileu da Misericórdia

POR PROF. FELIPE AQUINO 11 DE MAIO DE 2015 NOTÍCIAS, NOTÍCIAS DA IGREJA

O Site ACI/EWTN Noticias publicou na última sexta (08/05/15) a publicou a oração oficial para o Jubileu da Misericórdia, o Ano Santo convocado pelo Papa Francisco que terá início no dia 8 de dezembro de 2015, Solenidade da Imaculada Conceição; e encerramento no dia 20 de novembro de 2016, Solenidade de Cristo Rei do Universo. Esta oração foi divulgada pelo Pontifício Conselho para a promoção da Nova Evangelização no site oficial do Jubileu da Misericórdia, cujo lema está tomado do Evangelho de São Lucas: “Misericordiosos como o Pai”, e convida todos os fiéis do mundo à peregrinação, à Confissão e à Comunhão para conseguir a indulgência.

Senhor Jesus Cristo,
Vós que nos ensinastes a ser misericordiosos como o Pai celeste,
e nos dissestes que quem Vos vê, vê a Ele.
Mostrai-nos o Vosso rosto e seremos salvos.
O Vosso olhar amoroso libertou Zaqueu e Mateus da escravidão do dinheiro;
a adúltera e Madalena de colocar a felicidade apenas numa criatura;
fez Pedro chorar depois da traição,
e assegurou o Paraíso ao ladrão arrependido.
Fazei que cada um de nós considere como dirigida a si mesmo as palavras que dissestes à mulher samaritana:
Se tu conhecesses o dom de Deus!
Vós sois o rosto visível do Pai invisível,
do Deus que manifesta sua onipotência sobretudo com o perdão e a misericórdia:
fazei que a Igreja seja no mundo o rosto visível de Vós, seu Senhor, ressuscitado e na glória.
Vós quisestes que os Vossos ministros fossem também eles revestidos de fraqueza
para sentirem justa compaixão por aqueles que estão na ignorância e no erro:
fazei que todos os que se aproximarem de cada um deles se sintam esperados, amados e perdoados por Deus.
Enviai o Vosso Espírito e consagrai-nos a todos com a sua unção
para que o Jubileu da Misericórdia seja um ano de graça do Senhor
e a Vossa Igreja possa, com renovado entusiasmo, levar aos pobres a alegre mensagem
proclamar aos cativos e oprimidos a libertação
e aos cegos restaurar a vista.
Nós Vo-lo pedimos por intercessão de Maria, Mãe de Misericórdia,
a Vós que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos.
Amém

Francisco: “Eu sou um homem perdoado”

O Santo Padre fala sobre a misericórdia em uma entrevista concedida à revista Credere, a publicação oficial do Ano Santo Extraordinário

Ivan de Vargas |  03 de Dezembro | ZENIT.org |  Papa Francisco |  Roma
A revista italiana Credere, publicação oficial do Ano Santo Extraordinário, que começa no próximo dia 8 de dezembro, realizou uma entrevista exclusiva ao Papa Francisco na qual o pontífice explica os motivos do Jubileu da Misericórdia e as expectativas.

“A questão da misericórdia, diz o Santo Padre para o editor da revista, o padre Antonio Rizzolo– se acentua fortemente na vida da Igreja desde Paulo VI. Foi João Paulo II que a enfatizou fortemente com a Dives in Misericordia, a canonização de Santa Faustina e a instituição da festa da Divina Misericórdia na Oitava de Páscoa”. Nesta linha, “senti que existe como que um desejo do Senhor de mostrar aos homens a sua misericórdia. Então, não é que me surgiu do nada, mas retomo uma tradição relativamente recente, embora sempre existiu. E percebi que era necessário fazer algo para continuar com esta tradição”.

“É óbvio que o mundo de hoje tem necessidade de misericórdia, precisa de compaixão, ou de padecer com”, continuou o Pontífice. “Estamos acostumados às más notícias, às notícias cruéis e às atrocidades maiores que ofendem o nome e a vida de Deus”, lamenta. “O mundo precisa descobrir que Deus é Pai, que tem misericórdia, que a crueldade não é o caminho. Cai-se na tentação de seguir uma linha dura, na tentação de enfatizar só as normas morais, mas quantas pessoas ficam fora!”, enfatiza.

“Veio-me à mente a imagem da Igreja como um hospital de campanha após a batalha; é a verdade: quantas pessoas feridas e destruídas! Os feridos são curados, ajudados e não submetidos a exames de colesterol. Acho que este é o momento da misericórdia”, disse o papa. “Todos nós somos pecadores, todos temos pesos interiores. Senti que Jesus quer abrir a porta do Seu coração, que o Pai quer mostrar as suas entranhas de misericórdia, e, por isso, nos envia o Espírito: para mover-se e para mover-nos. É o ano do perdão, o ano da reconciliação”, reitera.

Questionado sobre a sua experiência pessoal da misericórdia divina, Francisco reconhece: “Sou pecador, me sinto pecador, tenho certeza de ser pecador; sou um pecador a quem o Senhor olhou com misericórdia. Sou, como eu disse aos presos na Bolívia, um homem perdoado. Sou um homem perdoado, Deus me olhou com misericórdia e me perdoou. Ainda cometo erros e pecados, e me confesso a cada quinze ou vinte dias. E se me confesso é porque preciso sentir que a misericórdia de Deus ainda está em mim”.

O Santo Padre recorda também que teve essa sensação de forma especial no dia 21 de setembro de 1953, quanto sentiu a necessidade de entrar em uma igreja e confessar-se com um sacerdote que não conhecia e a partir de então a sua vida foi diferente; decidiu tornar-se sacerdote e aquele confessor, enfermo de leucemia, o acompanhou durante um ano. “Morreu no ano seguinte – relata -. Depois do funeral chorei amargamente, me senti totalmente perdido, como que com o temor de que Deus tivesse me abandonado. Este foi o momento em que me submergi na misericórdia de Deus e está muito unida ao meu lema episcopal: o dia 21 de setembro é o dia de São Mateus, e Beda o Venerável, falando da conversão de Mateus, diz que Jesus olhou-o miserando atque elegendo”. “Trata-se de uma expressão impossível de traduzir, porque em italiano um dos dois verbos não tem gerúndio, nem sequer em espanhol. A tradução literal seria “misericordando e elegendo”, quase como um trabalho artesanal. “Misericordiou-o!”: esta é a tradução literal do texto”, indica.

“Muitos anos depois, recitando o breviário latino, achei esta leitura, lembrei-me de que o Senhor tinha me modelado artesanalmente com a Sua misericórdia. Cada vez que vinha à Roma, porque ficava hospedado na Via della Scrofa, ia até a Igreja de São Luis dos Franceses, para rezar diante do quadro de Caravaggio, sobre a Vocação de São Mateus”, diz.

Para o Papa, o Jubileu da Misericórdia também pode ser uma oportunidade para redescobrir a “maternidade” de Deus: “Ele mesmo o afirma quando diz em Isaías que se uma mãe se esquecesse do seu filho, também uma mãe pode esquecer… “eu, pelo contrário, não te esquecerei jamais”. Aqui se vê a dimensão materna de Deus. Nem todos compreendem quando se fala da “maternidade de Deus”, não é uma linguagem popular – no bom sentido da palavra – , parece uma linguagem um pouco escolhida; por isso prefiro usar a ternura, própria de uma mãe, a ternura de Deus, a ternura nasce das entranhas paternas. Deus é pai e mãe”.

Por fim, o Papa Francisco adverte que a descoberta de um Deus misericordioso traz uma mudança de atitude em relação aos outros. “Hoje, a revolução é a da ternura, porque daqui vem a justiça e todo o resto”, afirma. “A revolução da ternura é aquela que hoje temos que cultivar como fruto deste ano da misericórdia: a ternura de Deus com cada um de nós. Cada um de nós deve dizer: “Sou um desgraçado, mas Deus me ama assim; então, também eu tenho que amar os outros da mesma forma”, esclarece. “Descobrir isso nos levará a ter uma atitude mais tolerante, mais paciente, mas terna”, conclui.