Matrimônio entre pessoas do mesmo sexo? Como assim?

Pe. Celso Nogueira, em entrevista a ZENIT, responde a diversas questões sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a posição da Igreja

Por Thácio Siqueira

Brasil, 07 de Maio de 2015 (ZENIT.org)

Aliás, a questão do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo compete à Igreja? Ou, por outro lado, só lhe corresponderia se viessem pedir-lhe o reconhecimento religioso e sacramental?

Quem responde a essa questão é o Pe. Celso Nogueira, natural de Porto Alegre, RS, formado em Comunicação Social e Filosofia e também mestre em Teologia.

Então, “quer dizer que a Igreja deve calar em assuntos não especificamente ligados ao culto religioso? Como justiça social? Como aborto? Como guerra? Lamentável essa visão redutiva sobre o ser humano e a missão da Igreja”, afirmou o Pe. Celso Nogueira nessa entrevista a ZENIT.

Publicamos a seguir a entrevista na íntegra:

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ZENIT: Sobre o tema ‘matrimônio’ de pessoas do mesmo sexo, é verdade que a Igreja fica querendo “dar pitaco” em tudo? Não seria melhor ela falar e “doutrinar” só para os seus fieis e deixar o Estado legislar para a sociedade como um todo?

Pe. Celso: A Igreja não impõe nada, nem aos seus próprios fiéis, nem muito menos à sociedade. Não tem corpo de polícia para fazer isso, nem quer ter. Ela só exige o direito de se expressar, numa sociedade livre, sobre qualquer tema que quiser.

Em segundo lugar, a natureza humana é um dado objetivo, não muda de acordo com os tempos, lugares, crenças ou descrenças. O matrimônio não é uma realidade religiosa, ele tem uma profundidade antropológica que transcende qualquer credo.

A Igreja não precisa se “imiscuir” nos assuntos da vida civil, porque faz parte dela. E é dever, não só da Igreja, mas de qualquer outra instituição ou pessoa, ficar ao lado da verdade do ser humano e da justiça contra as arbitrariedades do poder político.

Gostaria de volver ao contrário a pergunta: por que o Estado quer legislar sobre um fato absolutamente privado como é o do relacionamento homoafetivo, um fato que não traz nenhuma consequência para a vida social como é a geração de filhos? Para contratos e testamentos entre pessoas privadas não existem desde sempre os instrumentos jurídicos apropriados? A troco de quê os casais gays têm que ter os mesmos incentivos fiscais que os cônjuges, se não dão a mesma contrapartida que é a geração e educação de uma prole?

E mais: qual o interesse do Estado em se apropriar do conceito de matrimônio e de família? Quem atribui um conceito pode retirá-lo a seu bel-prazer. Não se encontra aí exposta a velha raiz totalitária do Estado Moderno? Aquela que fazia o Fürher (com o perdão do argumento hitleriano) exclamar “eu é que decido quem é judeu e quem não é”?

ZENIT: Por que é tão difícil conversar sobre esses temas com pessoas que pensam diferente? É muito comum que quem se posicione de forma contrária seja visto como promotor de “discursos de ódio”. Por quê? O que fazer?

Pe. Celso: Diante da gritaria geral, da falta de diálogo respeitoso e preparado, naquilo que chamo a fascistização geral dos discursos, a estratégia cômoda é a omissão, lavar as mãos como Pilatos, dizer “este tema não me diz respeito”.

No entanto, por trás de todos esses temas há pessoas concretas, necessitadas de compreensão, não de mãos lavadas. Posturas não assumidas deixam um rastro muitas vezes tornado invisível, mas tão real e dramático, ou mais, do que opções equivocadas.

ZENIT: A questão não é o obscurecimento da verdade? Como dialogar, então? Fale-nos mais sobre essa “fascistização” geral dos discursos:

Pe. Celso: Você tocou um aspecto de fundo que é o obscurecimento da noção de verdade. Quando se perde a perspectiva de uma verdade comum que possa ser buscada e compartilhada através do diálogo, a sua única finalidade passa a ser identificar o inimigo a ser esmagado pela força. Isso é o que chamo de “fascistização do discurso”.

A “razão moderna”, ao operar uma redução no horizonte do conhecimento, abriu a porta para que a última palavra seja dada não pela razão, mas pela força. Apesar disso, continuo teimando na minha crença na capacidade do ser humano de dialogar e compartilhar conhecimento. Esse é o meu ato de resistência.

ZENIT: Hoje se fala muito de legalizar uniões do mesmo sexo, equiparando-as a matrimônio, a casamento. O que é realmente o matrimônio?

Pe. Celso: O matrimônio parte de uma realidade que é a forma como nascem e crescem os animais do gênero e espécie “homo sapiens”. Eles são fruto de uma gestação curta, porque do contrário não passariam pelo canal de uma bacia construída para a posição ereta. Essa gestação curta faz com que o filhote humano nasça com um nível de autonomia muitíssimo inferior ao dos demais filhotes de mamíferos ao nascerem (de fato só alcançará o mesmo nível depois de um ano após o nascimento), exigindo, portanto, cuidados intensivos que não podem ser gerenciados pela fêmea sem a ajuda de outros indivíduos. O filhote só chegará ao estágio físico adulto depois de 18 longos anos.

Uma outra peculiaridade é que, ao contrário dos demais animais que nascem com a forma e o fundo do instinto, e com uma ligação estreita entre ambas, o bicho-homem nasce com o fundo, mas a forma lhe é dada pela cultura; essa é a razão das diferenças que encontramos na maneira de executar funções básicas como o comer, o comunicar-se, etc.

É em torno desse ser desprotegido, indeterminado e absolutamente necessitado da convivência da sua espécie para sua sobrevivência e humanização, que se forma e encontra seu sentido a família.

O ser humano, usando a razão, é capaz de perceber o vínculo do novo ser com os que lhe deram origem, e portanto, também a responsabilização que se deriva disso, ou seja, o direito de receber dos próprios genitores a necessária ajuda para a sobrevivência, crescimento e humanização. Para garantir essa responsabilização, os futuros genitores assumem um compromisso diante da comunidade. Garantirão a fidelidade de um ao outro, para que sempre seja identificável a origem e portanto a responsabilização de ambos sobre os filhos que virão. Garantirão também a estabilidade, para que esse vínculo não se desfaça de forma arbitrária, causando sérios danos e prejuízos a todos os envolvidos e também, em última instância à comunidade. Esse vínculo específico e bem delimitado é o que se chama “matrimônio”.

Então, quando falamos do matrimônio, estamos falando de uma estrutura que dá origem a todo o universo do “humano” e que por sua vez se deriva da estrutura específica do ser humano. Toda e qualquer outra forma de vínculo e relacionamento entre seres humanos não é “matrimônio”; não se trata de mera questão semântica, porque há uma realidade objetivamente distinta por detrás da palavra.

ZENIT: Então, o que são as uniões homossexuais aprovadas pelas leis de um país?

Pe. Celso: A equiparação jurídica, por parte do Estado, das uniões civis ao matrimônio, extrapola completamente as competências do Estado, uma vez que tratar da mesma forma duas realidades diferentes é declarar que são iguais. Fazendo isso, o Estado opera uma redefinição arbitrária e abusiva do matrimônio, instituição que lhe é anterior e superior.

ZENIT: Mas, dizem alguns, que o homossexualismo foi verificado em todas as culturas, e em todas as épocas (foi verificado até em animais) e afirmam que qualquer discriminação feita a um portador da inclinação homossexual, portanto, seria igual à discriminação feita ao portador de qualquer outra tendência biologicamente determinada (como a calvície, por exemplo).

Pe. Celso: Nunca foi provada a condição biológica da inclinação homossexual. A alegada homossexualidade dos animais é mito, baseado em comportamentos aparentes que têm outras explicações já evidenciadas pela ciência. Mesmo que alguém, depois dos milhões gastos em vão na iniciativa, evidenciasse alguma origem biológica, não passaria de uma anomalia como várias que existem, pois a natureza não faz coisas inúteis e estamos falando aqui do âmbito da reprodução e seu instinto correlato.

O fato de que a homossexualidade é tão antiga quanto a humanidade, mas em nenhuma cultura foi jamais equiparada ao matrimônio, só confirma o meu argumento. As várias deturpações do matrimônio que apontou não tocam a raiz da instituição matrimonial, que existe independentemente de qualquer religião ou ideologia, pois é um vínculo antropológico insubstituível. Portanto, não compete à Igreja nem definir nem redefinir isso, e ela não o faz. A iniciativa dessa redefinição vem do Estado, e ainda por cima de maneira arbitrária e antidemocrática.

ZENIT: Mas, então, por que não conceder aos casais homossexuais a educação de uma prole, permitindo-lhes a adoção, já que tantos casais heterossexuais abandonam os seus filhos à sorte?

Pe. Celso: No caso de crianças que não possam ter atendido o seu direito a ser criadas por seu pai e sua mãe, deve-se buscar o ambiente mais próximo disso, ou seja, um casal formado por uma mulher e um homem. A psicologia já demostrou em abundância o dano que advém a um ser humano quando essa necessidade não é atendida da forma adequada. E esse talvez seja o aspecto mais aterrador de todos esses atentados contra o matrimônio: o uso das crianças como cobaias em experimentos sociológicos, ideológicos e de engenharia social.

E discuto muito a afirmação de que as crianças saem ilesas de divórcios e outras experimentações no campo da família.

A situação da adoção é complexa; para um certo perfil de criança há muito mais casais querendo adotar que as crianças disponíveis. Mas essa é uma discussão que não vem ao caso. Estamos falando aqui do que é conforme aos direitos e à dignidade do ser humano. Um escravo bem tratado vive melhor que um empregado mal-pago. Isso não faz da escravidão uma situação mais conforme à dignidade humana do que o trabalho assalariado. Uma criança que o Estado entrega a um casal homoafetivo pode até viver melhor do que com um casal de homem e mulher; mas o fato é que o Estado a desrespeitou, lhe negou o direito de ter um pai e uma mãe.

ZENIT: Mas, a sociedade já não aceitou o divórcio, como também não está aceitando o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo?

Pe. Celso: Os argumentos baseados nos costumes dos povos não definem grande coisa. O fato de uma sociedade se tornar tolerante com algo não diz nada da moralidade intrínseca das ações. Por exemplo, a escravidão. Governos fascistas de direita e esquerda foram eleitos pela maioria. Já foram tolerados e aprovados a luta de gladiadores, os sacrifícios humanos, um montão de barbaridades.

Quando o pensamento ecológico chegou no mundo, grande parte do dano à natureza já tinha sido feito. Temo que vai acontecer o mesmo quando a “ecologia humana” começar a ser discutida e levada a sério.

ZENIT: E, como Igreja, qual é a melhor forma de dialogar com a sociedade sobre esse tema?

Pe. Celso: A questão é que não se pode usar num debate com a sociedade civil, num país laico, argumentos de fé; é preciso expressar razões acessíveis a quem não crê também. Do contrário poderiam nos dizer, como já fazem, “voltem para a sacristia e guardem a fé para vocês”. Como se a Igreja estivesse querendo que o Estado obrigue a todos a ir à missa aos domingos…

E repito, a família baseada no matrimônio entre homem e mulher não é uma mera convenção, ela deriva da própria natureza humana como já expliquei acima. Esses termos “matrimônio tradicional”, “família convencional”, já operam uma adjetivação que tem como pressuposto a inclusão de realidades que nada têm a ver com matrimônio e família, que são essencialmente distintas.

‘Eu achava que o hospital era um lugar para curar as pessoas, não para matá-las’

“Asfixia! Morte por asfixia!” Enfermeiras relatam o drama de mais bebês nascidos vivos durante abortos malsucedidos.

Geralmente, quando um bebê nasce vivo durante um procedimento de aborto, ele é mantido na clínica de aborto até morrer. Em alguns casos, o aborteiro mesmo age para matar o bebê. Mas, às vezes, ele é transferido para um hospital, onde pode receber os devidos cuidados médicos. Infelizmente, é a política de muitos hospitais simplesmente deixar que essas crianças morram.

A enfermeira Kathleen Malloy, de Jacksonville, Flórida, testemunhou a morte de um bebê que nasceu depois de um aborto salino e foi transferido ao seu hospital. Um panfleto pró-vida de títuloChildren: Things We Throw Away? [“Crianças: Coisas que Jogamos Fora?”] conta a sua história:

“Eu trabalhava no turno da noite, das 23h às 7h, e quando estávamos desocupadas, eu saía para ajudar com os recém-nascidos. Uma noite, vi um berço do lado de fora da enfermaria. Tinha um bebê nesse berço – um bebê perfeitamente formado, chorando –, mas havia uma diferença nessa criança. Ela tinha sido escaldada. Era a criança de um aborto salino.

Parecia que aquela pequena menina tinha sido colocada em uma panela de água fervente. Ali, não havia ninguém, nenhum médico, nenhuma enfermeira, nenhum pai, para confortar aquela criança ferida e queimada. Ela foi deixada para morrer agonizando. Não a deixariam na enfermaria – sequer se preocuparam em cobrir a menina.

Senti vergonha de minha profissão naquela noite! É difícil acreditar que isso possa acontecer em nossos hospitais modernos, mas acontece. Acontece o tempo todo.Eu achava que um hospital era um lugar para curar os doentes – não para matar.

Perguntei a uma enfermeira em outro hospital o que elas faziam com os bebês que eram abortados por solução salina. Diferentemente do meu hospital, onde o bebê tinha sido abandonado enquanto lutava para respirar, no hospital dela, elas colocavam a criança em um balde e o fechavam com uma tampa. Asfixia! Morte por asfixia!

Um aborto salino é realizado injetando-se uma solução salina cáustica dentro do líquido amniótico que envolve o bebê. Ele inspira o líquido, que queima os seus pulmões e a sua pele, fazendo-o morrer no prazo de poucas horas. A mãe, então, entra em trabalho de parto, para dar à luz uma criança morta. Hoje, esse tipo de aborto é raro, devido à grande probabilidade de as crianças nascerem vivas e ao alto risco de morte que esse método representa para a mulher: a solução poderia prejudicar seriamente o seu corpo, se a injeção caísse em sua corrente sanguínea. Um procedimento similar pelo qual o veneno é injetado no coração do bebê ou, em alguns casos, no líquido amniótico, ainda é praticado hoje em dia, sendo usado em casos de aborto tardio – no segundo e terceiro trimestres de gravidez.

O bebê que Malloy viu morrendo não ganhou nem um nome, nem a chance de viver. Em uma situação parecida, Gianna Jensen, que também foi abortada pelo método salino, recebeu assistência médica e sobreviveu. Hoje, ela é uma ativista pró-vida. O seu testemunho pode ser encontrado abaixo:

Um artigo de 2002 publicado em The Journal of Clinical Nursing parece sugerir que enfermeiras se deparam com bebês vivos depois de abortos malsucedidos com certa frequência. De acordo com o artigo:

“No caso de procedimento tardio, a morte do feto antes do parto, embora seja usual, não acontece sempre, exceto em casos raros de extrema anormalidade física. (…) De fato, às vezes, o feto tentará respirar ou mover os seus membros, o que torna a experiência extremamente angustiante para as enfermeiras. Além disso, enquanto a mulher provavelmente passará por esse processo uma vez na vida, enfermeiras podem passar por isso várias vezes no ano ou até em uma mesma semana.” [1]

O artigo cita a autora e conferencista Annette D. Huntington, Ph.D., que diz que nascidos vivos durante casos de aborto são uma “ocorrência regular”.

Outra enfermeira que se encontrou na terrível situação de cuidar de um bebê abortado contou a sua história no jornal do Friendship Pregnancy Center (agora chamado de Women’s First Choice Center), em Morristown, Nova Jersey. A sua história, que pode ser lida na íntegra aqui, é aterradora. Na noite em que o bebê abortado chegou, três bebês prematuros de um hospital próximo estavam sendo atendidos, dois dos quais corriam risco de morte, e os médicos lutavam para salvar suas vidas. Enquanto eles trabalhavam duro para ajudar esses dois bebês queridos, a vítima do aborto foi trazida:

“A enfermeira da seção de parto e nascimento entrou em nossa unidade carregando uma manta e afirmando: ‘Este é um aborto por prostalglandina. Ele tem pulsação e por isso o trouxemos.’ O bebê foi colocado debaixo de um aquecedor radiante e eu fui inteirada do resto dos fatos. O bebê era dado como sendo de 23 semanas, pelo ultrassom. A mãe tinha câncer e recebeu tratamentos de quimioterapia antes de descobrir que estava grávida. Os pais ficaram sabendo que o seu bebê sairia horrivelmente deformado por causa da quimioterapia.

Olhei para o menino deitado diante de mim e vi que, sob todos os aspectos, ele era perfeito. Tinha uma boa e forte pulsação. Podia dizer isso sem usar um estetoscópio porque via seu peito se movendo em sincronia com a sua frequência cardíaca. Com o estetoscópio, eu ouvia um coração que bombeava com força. Olhei para o seu tamanho e sua pele – ele definitivamente parecia mais maduro que 23 semanas. Pesei-o e descobri que ele tinha 900 gramas. Quase duas vezes o peso de alguns bebês que tivemos a capacidade de salvar. Uma médica foi chamada. Quando ela chegou, o bebê começou a agitar seus bracinhos e perninhas. Tentou começar a inspirar, mas não podia puxar o ar para dentro de seus pulmões. Todo o seu corpo estremecia com os seus esforços para respirar. Fomos reunidas por um neonatologista e eu supliquei com ambos os médicos, dizendo: ‘O bebê é viável – olhem para o seu tamanho, olhem para a sua pele –, ele parece ter muito mais que 23 semanas.’

Foi um momento horrível ver cada um de nós lutando com nossos próprios padrões éticos. Argumentei que devíamos fazer uma tentativa de ressuscitação, para fazê-lo respirar. O médico residente me disse: ‘Isso é um aborto. Não temos nenhum direito de interferir.’ O especialista, que teve a responsabilidade pela decisão, apertava as mãos e dizia com calma: ‘Isso é muito difícil. Meu Deus, é muito difícil quando se está tão perto.’ No final, eu perdi. Não íamos tentar ressuscitar aquele bebê. Então, fiz a única coisa que podia fazer. Mergulhei o meu dedo indicador na água esterilizada e, aplicando-a na sua cabeça, batizei a criança. Depois o envolvi em um cobertor para mantê-lo aquecido e o segurei. Eram as únicas medidas que eu podia tomar para confortar o bebê naquelas circunstâncias, ainda que eu quisesse muito fazer mais. Segurei esse pequeno menino, que estava ainda ofegante, tentando sobreviver. Enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, pedi a Deus que ele levasse aquela criança para o Seu cuidado e que me perdoasse pela minha própria parte em sua morte. Pouco depois, ele parou de respirar. Seu coração continuava a bater, mas as batidas ficaram mais lentas e mais fracas, até finalmente pararem. Ele se tinha ido.”

Ironicamente, enquanto a enfermeira tinha nos braços aquela criança abortada agonizando, os médicos lutavam para salvar a vida de outro bebê prematuro – este, porém, querido –, exatamente na mesma sala, a menos de cinco pés de distância. Infelizmente, também esse bebê morreu – a este, contudo, foi dado todo o tratamento médico possível, enquanto o bebê abortado foi completamente ignorado.

Outra enfermeira, Joan S. Smith, conta a seguinte história:

“Foi uma noite que eu jamais esquecerei. Eram 23h, eu e minha colega de trabalho Karen nos preparávamos para começar o nosso turno na Special Care Nursery[“Enfermaria de Cuidados Especiais”] de um grande hospital universitário… De repente, uma enfermeira atormentada correu para a porta.

O seu uniforme branco parecia fora de lugar na área do hospital em que se usavam apenas roupas cirúrgicas.

‘Aqui, pegue isso’, ela disse, empurrando para as minhas mãos uma tipo de panelinha de prata coberta com um papel toalha.

‘O que é isso?’, eu perguntei, percebendo pelo seu rosto que havia algo de muito errado.

‘É um aborto de 22 semanas de gestação, realizado no nosso piso. Mas está vivo’, ela explicou. Então, deu nos calcanhares e se foi. Eu tirei o papel toalha e vi o corpo perfeitamente formado de um bebê encolhido na fria panela de metal… Karen se aproximou para ajudar. ‘Isso acontece de vez em quando’, ela explicou, com pesar. Karen tinha sido treinada no hospital e trabalhava lá por mais de 15 anos.

Segurando o seu bracinho, eu tentava pôr em ordem a confusão das minhas emoções. Sentia-me impotente, com raiva e esmagada pela tristeza. Como podia o nosso sistema médico ser tão cheio de ironias? Ali eu estava, cercada de tecnologia médica, a qual, no entanto, não era de serventia nenhuma para aquela pequenina criança. Eu me perguntava se os seus pais pelo menos fossem avisados que o seu filho fôra admitido ao hospital como um nascido vivo, com pegadas impressas, número de identificação e fita na cabeça, se um médico notificasse o seu nascimento… Mas, tudo não passava de uma mera complicação imprevisível de um aborto rotineiro. Levou quase quatro horas até que aquele coraçãozinho diminuisse até parar de bater. Com lágrimas em meus olhos, envolvi o seu corpo para o necrotério. Isso era tudo da vida que aquela criança conheceria. Ela nunca saberia o que era o calor do abraço de uma mãe. Ninguém jamais celebraria o seu nascimento. Ela jamais sequer receberia um nome.”

Não é desconhecido que um bebê nascido com 22 semanas sobreviva com tratamento médico. A pequena Amillia Taylor nasceu com apenas 21 semanas e 6 dias, pesando menos de 300 gramas. Ela sobreviveu e é uma criança saudável hoje. Na verdade, a mãe de Amillia teve que mentir para conseguir que os médicos tratassem a sua filha – eles tinham uma política de não cuidar de crianças nascidas antes de 23 semanas.

Um bebê alemão nascido com 21 semanas e 5 dias também sobreviveu. A sua história pode ser encontrada aqui. O artigo também cita o exemplo de um bebê canadense que nasceu com menos de 22 semanas e sobreviveu.

Casos de aborto tardio tornam tênue a linha que separa o aborto do infanticídio. Claramente, quando um bebê é capaz de sobreviver por si mesmo, ainda que por pouco tempo, torna-se óbvio que o aborto é o assassinato de um ser humano. Na verdade, a vida é um continuum desde a concepção até a morte natural – ainda que bebês abortados nos últimos estágios da gestação sejam mais completamente desenvolvidos, o aborto é um assassinato desde o início. Porém, histórias de bebês nascidos vivos e rejeitados pela assistência médica são aterradoras: elas testemunham e acusam a nossa sociedade, que permite atrocidades desse gênero.

Fonte: LifeSiteNews.com | Tradução e adaptação: Equipe CNP

Uma empresa da Califórnia produz e comercializa embriões humanos

José Ángel Minguez, Observatório de Bioética da Universidade Católica de Valência San Vicente Mártir

Por Redaction

Roma, 04 de Maio de 2015 (ZENIT.org)

Recentemente foi publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology um artigo (Creating and selling embryos for “donation”: ethical challenges”. 212; 167-170, 2015) sobre as questões éticas levantadas pela produção e venda de embriões humanos para “doação”.

Conhecendo a atual mentalidade comercial e pragmática, de pura bioética utilitarista, era algo que pareceria inevitável. Surpreendentemente, este novo mercado, de acordo com os autores do artigo, tem recebido muita atenção nos meios de comunicação social, mas menos na literatura científica.

Procedimento

A “novidade” é que uma empresa da Califórnia começou a “produzir e vender embriões humanos”. O procedimento é o seguinte: consegue-se esperma de um doador, ovócitos de uma mulher e se produzem os embriões (FIV) que a clínica possui, armazena e depois vende.

Isto, obviamente, levanta muitos problemas do ponto de vista legal e ético, que os autores do artigo não tiveram muito em consideração.

Recentemente, muitos consideraram que os problemas éticos da produção de embriões humanos para venda não seriam essencialmente diferentes dos suscitados pela compra e utilização de espermas e ovócitos, mas, na nossa opinião, são essencialmente diferentes.

Nem o esperma e nem o ovócito podem transformar-se, por si mesmos, em um ser humano. O embrião é. Tanto que isso lhe dá algumas especiais características diferenciais.

A Organização Mundial da Saúde relata que as células ou tecidos devem ser doados sem remuneração; mas no caso das células germinais, especialmente os ovócitos, sim são pagos, embora se diz que é para aliviar os desconfortos da técnica e que deve ser um preço “razoável”, que nos Estados Unidos varia entre 5.000 e 10.000 dólares.

Agora poderíamos perguntar-nos qual é o preço razoável de um embrião humano? A resposta depende de uma série de circunstâncias. Sabemos que na adoção de ovócitos o preço é maior quando procedem de mulheres com “pedigree”: doações prévias com êxito, teste de inteligência alto, especiais características do cabelo e dos olhos, etc. De tal forma que, deveria ser feito o mesmo para oferecer embriões com características especiais?

Se os futuros pais podem fazer lances economicamente altos para os embriões especiais, para a sua saúde, beleza, inteligência, é possível que os embriões comuns sejam oferecidos a preço de pechincha. Até mesmo é possível chegar ao ponto em que os embriões sejam encomendados, como os carros de gama alta.

Além disso, o que acontecerá se a empresa proprietária, como aconteceu com a Islandesa DECODE GENETIC, ou se os doadores de um dos dois gametas, exige o seu embrião ou quer destruí-los?

Problema ético objetivo

Estamos enfrentando um problema muito sério, não só comercial, mas profundamente ético. Os embriões não são uma mercadoria, um produto que pode ser comprado e vendido, são muito mais do que isso, eles são seres humanos que necessitam de todas as considerações de respeito, dignidade, proteção e amor que, como tais, merecem.

Algumas feministas têm reivindicado um “gênio” feminino que é “antifeminino”

Entrevista com a diretora geral do Instituto Secular Cruzadas de Santa Maria e consultora do Pontifício Conselho para a Família, Lydia Jiménez González, sobre as chaves do próximo Sínodo dos Bispos e o papel da mulher na Igreja

Por Ivan de Vargas

Roma, 04 de Maio de 2015 (ZENIT.org)

Lydia Jiménez Gonzalez conheceu o servo de Deus Tomás Morales em 1965, poucos meses depois de sua chegada a Madrid. Desde 1971 trabalhou em estreita colaboração com o padre jesuíta no início e gestação das Cruzadas de Santa Maria e por isso é considerada co-fundadora da mesma.

Promoveu a criação do Instituto BERIT da Família na Espanha e América Latina, do qual é diretora desde 1998.

Em outubro de 2012 participou como auditora no Sínodo dos Bispos sobre “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.

Atualmente, é diretora geral do Instituto Secular Cruzadas de Santa Maria e consultora do Pontifício Conselho para a Família.

Também é membro do Conselho Diretivo da Sociedade Internacional Tomista e presidente do Conselho Diretivo da Universidade Católica Santa Teresa de Ávila, entre outras responsabilidades.

Nesta entrevista concedida a ZENIT, Lydia Jiménez reflete sobre o papel da mulher na Igreja e na sociedade. Também explica o significado do chamado “gênio feminino” e sua importância hoje. Finalmente, oferece algumas chaves de leitura sobre o próximo Sínodo dos Bispos dedicado à família.

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ZENIT: O papa Francisco afirmou que é preciso pensar em uma “teologia da mulher”. Por onde começar?

– Lydia Jimenez: Por uma antropologia que fundamente o ser feminino em sua identidade biológica, psicológica, humana e espiritual. Um segundo passo seria fundamentar uma antropologia teológica, como sequência para uma “teologia da mulher”. Há muitas mulheres que podem fazer isso muito bem e na verdade está sendo feito.

ZENIT: Qual deve ser a missão da mulher na Igreja e no mundo?

– Lydia Jimenez: A partir da sua própria identidade, da sua maternidade biológica e espiritual, cuidar a vida humana, cuidar da humanidade.

ZENIT: Em que consiste o chamado gênio feminino?

– Lydia Jiménez: Com palavras de Edith Stein, podemos dizer que Deus fez duas genialidades ao criar: a masculina e a feminina. Homem e mulher são os dois modos de ser humanos, ambos de origem divina, imagens suas, iguais em dignidade.

O termo “gênio feminino” foi cunhado pela primeira vez na Carta Apostólica Mulieris dignitatem, embora o conteúdo já havia sido intuído, de alguma forma, por João XXIII e o beato Paulo VI. São João XXIII falou do papel da mulher no crescimento da sociedade e da Igreja e este foi também um tema conciliar. Paulo VI falou da especificidade feminina e seu lugar na Igreja. No entanto, o feminino como “gênio” é uma expressão típica de São João Paulo II.

Mas o que é o “gênio feminino”? Não é uma série de dons extraordinários encarnados em mulheres extraordinárias. A maioria das mulheres têm vivido quase sempre no ordinário. Seu “gênio” está precisamente em viver o ordinário de forma extraordinária. O “gênio feminino” é o conjunto de dons que se manifestam ao longo da história e em todas as culturas. Dons que são sintetizados em um: a maternidade. A maternidade física, psicológica, espiritual da mulher é a chave do seu gênio e dos seus dons.

ZENIT: Os Especialistas acreditam que algumas correntes feministas distorceram a condição natural das mulheres. Por quê?

– Lydia Jiménez: Sim, algumas correntes feministas reivindicaram um “gênio” feminino que é “antifeminino”. Muitas nem sequer querem ouvir falar da “dignidade” da mulher e da sua “vocação”, considerando esta linguagem ideologia enganadora. Mas também é verdade que algumas correntes feministas abriram uma reflexão antropológica que nos está enriquecendo muito. Têm razão em muitas de suas críticas aos “papéis” e “etiquetas” tradicionais da mulher.

ZENIT: Quais iniciativas estão levando adiante as Cruzadas de Santa Maria no âmbito da mulher?

– Lydia Jimenez: Tem sido criada uma Cátedra de Estudos sobre a mulher na Universidade Católica Santa Teresa de Ávila, que foi inaugurada pelo cardeal Müller, prefeito da Doutrina da Fé, com uma conferência intitulada “A mulher na Igreja”, no dia 9 de Dezembro do ano passado. De lá queremos promover estudos sobre o assunto.

ZENIT: Qual seria a sua contribuição para o próximo Sínodo sobre a família?

– Lydia Jimenez: A partir do Instituto BERIT da Família, aprofundamos no rico e abundante magistério de João Paulo II sobre o tema da família e nos estudos e publicações promovidos pelo Pontifício Conselho para a Família. Tenho certeza de que serão uma base a se ter em conta no próximo Sínodo sobre a família.

ZENIT: O que podemos esperar deste encontro de bispos e padres sinodais no outono?

– Lydia Jimenez: Um enriquecimento pastoral e missionário, que nos motive a uma maior atenção sobre um tema de tanta importância.