Meditação para Quaresma 2016

Hoje iniciamos um tempo de graça na Igreja, a Quaresma. Tempo  de oração e contemplação da Misericórdia do Senhor. Quarenta dias separados para podermos vê-la e acolhê-la. Mas para que realmente tenhamos esta experiência, com a Misericórdia,   façamos momentos de Oração, Jejum e partilhemos com os irmãos a Esmola.
Estas são vias perfeitas para encontrarmos com Jesus que deseja:

  1. Nos falar ao ouvido pela ORAÇÃO, como filhos amados que somos. Nos acolher em seus braços e nos ensinar as suas maravilhas. E Ele nos diz pelo Profeta Oseias: “Por isso, eis que vou, eu mesmo, seduzi-la, conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração” (Os 2 , 16).
  2. Com o JEJUM alimento que passa, poderemos saciar nossa fome de amor, com o Alimento que não passa: Eucaristia e Palavra de Deus. A Palavra em Isaías 55 nos diz: “Ouvi-me com toda atenção e comei o que é bom; haveis de deleitar-vos com manjares revigorantes. Escutai-me e vinde a mim, ouvi-me e haveis de viver. Farei convosco uma aliança eterna, assegurando-vos as graças prometidas a Davi”.
  3. Deus quer partilhar conosco as riquezas de seu coração, e cheios de amor e misericórdia, partilhamos nossas riquezas através da ESMOLA com os irmãos. Este é o tempo favorável de voltarmos à casa Paterna, ao coração de Deus, e aí repousar das nossas correrias, do trabalho e preocupações. A nossa fome de amor será saciada com o leite e mel que jorram do Coração de Cristo, pois é fonte de VIDA.

A Quaresma é Tempo de alegria, pois é tempo de preparação para a Páscoa que há de vir. Páscoa, tempo no qual um dia estaremos todos na presença de Deus, de volta para casa, o céu, que é o nosso lugar. A nossa alma anseia por viver aqui, o céu, a intimidade com seu Amado. Ela tem saudade do Amor, tem saudade da voz do Amado, e o caminho perfeito para irmos nos preparando é uma vida de oração, pautada na contemplação e testemunho ao mundo.

Vamos caminhar para o céu? Sigamos os passos de Jesus.

Hoje, quarta-feira de cinzas, iniciaremos esta caminhada, por isso faremos jejum de carne, para que nossa carne saiba que não vivemos para satisfazer a sua vontade, mas a vontade do espírito. Para que saibamos que podemos dominar os desejos da carne por amor a Deus. Pois nossa fome é  saciada fazendo a vontade do Pai.

Por isso, não tenhas medo, pois o Senhor o(a) ama e deseja falar-te ao coração, pois és amado(a), és um prodígio aos seus olhos.

Que Maria, Mãe da Divina Misericórdia, nos acompanhe neste tempo de graça, nos ensinando pelas sandálias da Humildade e da Obediência, a acreditar e acolher o Amor do Pai.

Janet Alves
Cofundadora da Comunidade Católica Reviver pela Misericórdia

Quaresma

Quaresma é tempo de graça e bênçãos em nossa vida. Tempo de Oração, Jejum e Penitência.

Oração é o único caminho seguro que pode nos levar a intimidade com Deus. A oração é aquele momento de conversa, onde Deus abre o Seu Coração para acolher as nossas preces e ao mesmo tempo nos lançamos sem medo nos braços do Pai. A oração nada mais é do que o encontro de dois corações apaixonados, que se acolhem e se doam mutuamente. É o nada que somos nós diante do Tudo que é Deus. É o momento que como João, inclinamos nossa cabeça e encostamo-nos ao peito de Jesus e escutamos as batidas do Seu Coração, e desejamos que o nosso coração bata no mesmo ritmo que o seu: amor incondicional ao Pai e amor por todos os homens. É a oração que nos faz descobrir a nossa vocação de cristão, acolhê-la e vivê-la. É neste encontro diário de amor que vou aderindo a vontade de Deus para minha vida. É na oração que encontro as forças para o jejum e a penitência.

O jejum e a penitência devem ser frutos da minha vida de oração, pois é nela que vou descobrir tudo o que me afasta da vontade de Deus, e tomando consciência e ao mesmo tempo o desejo de mudar, vou fazer jejuns e penitências, para me libertar de todas as escravidões que me impedem de trilhar o caminho que Deus reservou para mim: a santidade.

Devemos neste inicio de Quaresma realizar uma reflexão sobre nossa vida, especialmente aqueles que foram chamados a uma vida consagrada, seja religioso(a) ou leigo, e pedir ao Espírito Santo que nos revele o que devemos jejum e nos penitenciar. Quais as áreas ou situações em minha vida que estão me afastando da vontade de Deus, e com coragem, renunciar a todas elas, não esquecendo que devemos pedir a graça de Deus, pois nossa luta é espiritual, contra as vontades da carne que se opõe a vontade do espírito.

Que Nossa Senhora, Mãe da Divina Misericórdia, interceda por todos nós, e nos ensine a caminharmos na humildade e obediência, acreditando e acolhendo os planos de Deus para nós.

 

Janet Alves


Co-fundadora e Formadora Geral da Comunidade Católica Reviver pela Misericórdia 

Quaresma (Parte III)

Dando continuidade a nossa caminhada nesta Quaresma, na qual meditamos sobre a oração, esmola e jejum no contexto da Justiça, Amor e Perdão, iremos tecer alguns comentários sobre o Perdão.

3 – Perdão

O perdão é o fruto da vivência da oração, do jejum e da esmola. Só perdoa quem ama e conhece a justiça de Deus diante dos seus próprios atos. Desta forma é necessário conhecermos a Deus e a nós mesmos para  que possamos perdoar o outro. Aquele que não reconhece as suas limitações e pecados, se acha muito justo e correto, sem erros, não reconhecerá o perdão de Deus em sua vida e nem perdoará, tão pouco, o irmão.

Tomaremos a Palavra de Lucas 15,11-32. É a Palavra do Filho Pródigo. Nesta história narrada por Jesus, um homem tinha dois filhos, o filho mais novo chegou para o Pai e lhe pediu sua parte da herança, pois não mais desejava ficar em sua casa. Interessante é que o Pai não contestou, respeitou a decisão do seu filho. Este foi para longe e gastou todos os seus bens numa vida desenfreada. Quando não tinha mais nada que tinha trazido do Pai, foi cuidar dos porcos, e com fome, nem as bolotas destes podia comer. Às vezes contemplamos esta Palavra e pensamos só no gasto de dinheiro, que também aconteceu, mas não podemos deixar de analisar que este filho era portador de dons, que provinham da casa do Pai, que não se negou a lhe dá. Também nós muitas vezes nos comportamos como este filho, temos dons que Deus nos deu, mas nos afastamos dEle, ou seja, da sua intimidade, e começamos a utilizar estes dons apenas para coisas passageiras (roupas, bebidas, trabalho, lazer, consumismo, prazer, etc). Irá chegar um momento em que tudo o que fazemos com os dons que Deus nos deu que não estão em seus planos irão nos escravizar, deixando um vazio e nos levando a mendigar as ‘bolotas’ dos porcos, ou seja, nos comportamos como animais, perdendo a nossa dignidade de pessoa, de filhos e consequentemente não respeitando as outras pessoas. Assim muitos se perdem nas drogas, no alcoolismo, na internet, na escravidão do trabalho.

Mas quando o homem se dá conta do que está fazendo de sua vida, e percebe que ela não tem sentido fora da casa do Pai, ele volta. Reconhece que nada lhe vale os bens sem o seu amor. Ao voltar, encontramos uma cena única: o Pai sentiu compaixão, misericórdia e correu ao seu encontro, e algumas traduções dizem que ele se lançou em seu pescoço e o cobriu de beijos. Nada perguntou ao filho, só amou. Este é o perdão que somos chamados a viver, do filho que se reconhece pecador, se perdoa, e tem certeza do amor do Pai, e o perdão do Pai que o acolhe sem julgamentos, o abraça e acolhe em sua casa, e faz uma grande festa. É assim que devemos fazer com aqueles que estão longe e voltam.

Somos chamados a perdoar, perdão que deverá começar com um acolhimento dentro do nosso coração, depois vamos ao encontro. Quem perdoa acolhe e acredita, sempre.

Mas ainda nos deparamos com a figura do filho mais velho, que ao saber que seu irmão está de volta, fica triste e com inveja, não acolhe, e ainda recorda que seu irmão gastou tudo com prostitutas. A prostituição na Sagrada Escritura é sempre em relação a Deus, ou seja, ele estava adorando outros deuses. Quem não se sente acolhido irá sempre se comparar ao tratamento dado aos outros, tem complexo de inferioridade, é duro consigo e com os irmãos, não se reconhece necessitado do perdão, desta forma não perdoa, está sempre julgando e apontando. Os nossos escritos nos dizem:

A medida que medes o outro é a mesma medida que medes a ti mesmo (ECCRM*).

O perdão precisa começar dentro de nós, nos perdoando, e reconhecendo que necessitamos do perdão do Pai.

A Palavra continua, e o Pai vai ao encontro do filho, agora o mais velho: “Filho, tu estás sempre comigo, e o que é meu é teu”. O Pai nos ensina que, não só aquele que está longe de sua casa precisa de acolhimento e perdão, mas muitos dentro de nossas comunidades estão como este filho mais velho, cumprem todos os seus trabalhos, mas seu coração está longe do coração paterno. Ainda não se sente acolhido, amado, justificado e perdoado. Estes que parecem ter tudo, também precisam do resgate do Pai. Os dois filhos precisam de sandálias nos pés (humildade e obediência, fabricadas delicadamente pelas mãos de Nossa Senhora) para caminharem, vestes novas (tecidas pelo o Espírito Santo, com linhas da vida de oração, Eucaristia, Reconciliação e Formação) e anel no dedo (sinal de filiação e dignidade de filho de Deus, através do acreditar e acolher a vontade de Deus).

Que possamos nesta quarta semana da Quaresma, pedirmos a graça do perdão a Deus, de nos reconciliarmos com conosco, com Deus e com o próximo. E livres para amar, possamos nos lançar em direção a tantos filhos mais novos e mais velhos que estão a espera do abraço do Pai, a partir de nós. Amém!

 

Janet Alves
Formadora Geral da Comunidade Católica Reviver pela Misericórdia

* Escritos da Comunidade Católica Reviver pela Misericórdia

Quaresma (Parte II)

Continuamos nossa meditação sobre a Quaresma, tempo de graça em que somos chamados a viver mais intensamente a vida de oração, jejum e esmola.

Em nossa primeira formação falamos um pouco da justiça, que é um fruto da vivência da oração, que é o encontro pessoal com Jesus. Meditamos com Zaqueu, que também exerceu com tanta verdade a prática da esmola (sua vida era pautada em roubar os irmãos, como cobrador de impostos, e após o encontro com Jesus ele devolve tudo que roubou em dobro), e fez penitência da carne pois praticava a avareza.

Hoje iremos falar da prática do Amor, que também é fruto da oração, esmola e jejum.

2 – Amor

“AME E FAÇA TUDO QUE QUISERES” (Stº Agostinho)

Mas que amor é este que Stº Agostinho fala, o qual amando pode fazer tudo que quiser?

É o amor que brota do mais profundo do nosso ser, do encontro pessoal com a Pessoa de Jesus. É neste encontro que o homem encontra sua verdadeira dignidade de filho de Deus, que se sente amado e querido, e sua resposta a este amor é contagiar a todos com ele.

Mas como saber o que é o amor concretamente na nossa vida, como ele se manifesta?

Possamos lançar o nosso olhar para a Palavra em I Cor 13,1-8. São Paulo nos descreve o fruto na vida daquele que se encontrou com o amor, e mais importante, coloca que, se as nossas ações não forem por amor, posso ter fé, distribuir meus bens aos pobres, dá meu corpo às chamas… se não tiver amor, isso de nada nos adiantaria.

E continua nos dizendo como se comporta aquele que pratica o amor;

Ela é paciente, prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho, não é inconveniente, não se irrita, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, se regozija com a verdade, tudo desculpa, tudo crê e tudo suporta.

Às vezes lemos esta palavra de forma meio fantasiosa, sem trazer para concretude de nossa vida, desejando, pedindo a Deus a graça do Amor. Neste tempo somos chamados a fazer um paralelo entre a nossa vida e a que Jesus nos chama a viver. A nossa oração precisa ser contemplativa e de ação. Encontro-me com o Amor na contemplação da minha oração pessoal, Adoração, Santa Missa; e descubro como estou e o que preciso mudar para acolher e testemunhar este amor. Em seguida vou ao encontro do outro. Quem está cheio do amor de Deus só deseja levá-lo a todos os homens.

Por isso Stº Agostinho nos diz que ame (sendo paciente, prestativo… tudo suportando e tudo crendo) e você pode fazer o que quiser.

Um mundo que não sabe o que é amor e que precisa conhecê-lo através do nosso testemunho e acolhimento. Hoje  precisamos ir de encontro aos piores mendigos que a história da humanidade já teve, homens e mulheres que mendigam o amor em bares, drogas, sexo, função que ocupam, consumismo, materialismo, internet; parece que tem tudo, mas o Tudo lhes foi tirado: o Amor de Deus. São os mendigos que precisam de um olhar da caridade, por isso somos chamados a acreditar sempre que, enquanto tiver suspiro de vida tem tempo para conversão, mas é preciso sairmos de nós ao encontro do outro.

Da oração caminhamos para a esmola e desta para a penitência. É necessário nos penitenciarmos para acolher o Amor e transbordar este Amor. A penitência  dos nossos sentidos:

– Do olhar: ver no outro Cristo Jesus, pois não há como separar um do outro;

– Ouvir e nunca julgar;

– Acreditar sempre que é possível a salvação para todos;

– Falar só o que irá ajudar no crescimento do irmão;

– Que nossas mãos sirvam sempre para ajudar o outro a caminhar e, se preciso for, levá-los nos braços.

Não deixemos que esta seja mais “uma quaresma”, mas a Quaresma, onde deixamos Deus transformar a nossa vida em amor fecundo, pela oração, penitência e esmola.

Janet Alves

Quaresma (Parte I)

A Igreja, durante todo o ano, vai nos proporcionando tempos favoráveis para crescermos na Fé, Esperança e Caridade.

A Quaresma é este tempo favorável, de graça, que devemos parar e refletirmos sobre nossa vida de cristãos, nossa fé e testemunho, e desta forma nos prepararmos para a missão que Jesus nos confiou (Mc 16,15-18). E neste primeiro dia da Quaresma o Senhor nos diz:

Leitura da Profecia de Joel 2,12-13
12 ‘Agora, diz o Senhor,
voltai para mim com todo o vosso coração,
com jejuns, lágrimas e gemidos;
13 rasgai o coração, e não as vestes;
e voltai para o Senhor, vosso Deus;
ele é benigno e compassivo,
paciente e cheio de misericórdia,
inclinado a perdoar o castigo’.

O Senhor nos chama a voltarmos para Ele. Mas o que significa voltar? Se raciocinarmos, é porque estamos longe. É necessário voltarmos à origem para que fomos criados, a imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26), que é Amor.

É tempo de rasgarmos nosso coração, nos abrirmos acolhendo a graça, o perdão e os ensinamentos de Deus e ir em direção ao outro. O jejum que o Senhor nos chama a praticar é o da justiça, do amor e do perdão.

1 – Justiça:

E o que é a justiça de Deus se não a sua Misericórdia? A justiça do homem analisa os fatos e determina a sentença, a justiça de Deus olha o homem como filho e derrama a sua misericórdia. E assim como o Senhor faz conosco, somos chamados a nos dirigir ao outro, com paciência, mansidão e amor. Mas só é possível realizar o “jejum” da justiça para com os homens, se antes nos sentirmos amados, queridos e perdoados por Deus. Desta forma a primeira obra que deve acontecer é em nosso coração, em nossa vida. Mas é uma obra que só o Espírito Santo poderá realizar (Mt 3,13-17), é só mergulhar no batismo de Jesus no rio Jordão, por João Batista, pois só depois Ele estava pronto para renunciar todas as propostas do Demônio (Mt 4,1-11), naquele momento é acolhido pelo Pai e sente-se profundamente amado.

A justiça de Deus para acontecer em nossa vida, é necessário a força do Espirito Santo, que nos levará ao encontro pessoal com a Pessoa de Jesus.

Podemos meditar o encontro de Jesus com Zaqueu (Lc 19,1-10), como encontro e prática da justiça. Zaqueu procurava ver Jesus, e foi necessário fazer um esforço, pois os obstáculos (multidão) eram muitos em sua vida. Este esforço físico nós poderemos comparar com algum jejum que façamos, nos abstendo de algum alimento, pois nosso jejum físico não é para que as pessoas nos aplaudam ou para cumprir normas, mas para nos ajudar a encontrarmos com Jesus. Vendo naquele homem, o desejo de seu coração, Jesus vai a casa de Zaqueu. Ele deseja adentrar em todas as nossas casas, em nossos corações e ali conversar, estar conosco. E fico imaginando o olhar de amor e acolhimento de Jesus para com aquele homem e ao mesmo tempo a mudança interior que foi acontecendo dentro de Zaqueu.

E a palavra nos diz que Zaqueu pondo-se de pé (assumiu sua dignidade de filho de Deus e sua missão), reconhece que estava errado e diz que irá restituir tudo que roubou. E Jesus diz que a salvação entrou naquela casa. Quantas vezes olhamos esta palavra e pensamos apenas em roubo material, mas quantos de nós roubam a paz, a dignidade, a salvação, a alegria, a liberdade, a vida dos irmãos, quando somos egoístas, adúlteros, individualistas, materialistas, omissos, condenando e perdendo a esperança na salvação do irmão.

É preciso trilharmos este caminho de Zaqueu, que encontrando Jesus, o leva para sua casa, e deste encontro, encontrar a prática de verdadeira justiça. E desta justiça encontraremos o Amor e o Perdão.

Janet Alves