Não, Jesus não era socialista

Não há nenhuma passagem no Novo Testamento que defenda a caridade governamental ou interferência do Estado na vida dos cidadãos.

Por Lawrence W. Reed

A afirmação de que Jesus Cristo era socialista se tornou um refrão comum entre os progressistas e até mesmo entre alguns cuja fé é, na melhor das hipóteses, morna. Mas há alguma verdade nisso?
A pergunta não pode ser respondida sem uma definição clara do que é o socialismo. Há um século, o socialismo era definido como a tomada, pelo governo, dos meios de produção. Jesus jamais sugeriu qualquer coisa parecida nem apoiou isso. Mas a definição de socialismo mudou ao longo do tempo. Depois que as críticas de economistas como Ludwig von Mises, F. A. Hayek e Milton Friedman acabaram com qualquer defesa intelectual do socialismo original e a realidade provou que eles estavam certos, os socialistas passaram a usar outra definição: o planejamento centralizado da economia.
Quem vasculhar o Novo Testamento não vai encontrar nenhuma palavra de Jesus pedindo que se dê poder aos políticos e burocratas para que eles distribuam recursos, escolham os vencedores e perdedores, digam aos empresários como administrar seus negócios, imponham salários mínimos e preços máximos, estimulem a sindicalização dos trabalhadores ou paguem impostos. Quando os fariseus tentaram manipular Jesus de Nazaré a fim de que ele apoiasse a sonegação de impostos, ele inteligentemente deixou para os outros decidirem o que pertence ao Estado, dizendo: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Ainda assim, uma das acusações que levou Jesus à crucificação foi mesmo a sonegação de impostos.
Mudando a definição
Com a reputação dos que defendem a economia centralizada no lixo em todo o mundo, os socialistas passaram a dar uma nova ênfase ao termo: o Estado de bem-estar social. O socialismo de Bernie Sanders e de sua aliada, a jovem Alexandria Ocasio-Cortez, diz respeito ao Estado-babá benevolente e igualitário, no qual se cobre um santo para descobrir outro. Ele se caracteriza por várias “coisas grátis” dadas pelo governo — coisas que, claro, não são nada grátis. Pelo contrário, elas são bastante caras, tanto em termos de custos burocráticos quanto na dependência desmoralizante que ele gera entre os beneficiários. Era isso o que Jesus tinha em mente?
Duvido. Sim, em meio às festas de fim de ano, é oportuno pensar na ajuda aos pobres. Afinal, essa era uma parte muito importante da mensagem de Jesus. Como essa ajudada é dada, contudo, é uma questão mais importante.
As Escrituras dizem para os cristãos amarem, orarem, serem caridosos, servirem, perdoarem, serem fieis, adorarem a Deus e aprenderem e amadurecerem em espírito e caráter. Todas essas coisas são muito pessoais. Elas não requerem políticos, medidas públicas, burocratas, partidos ou programas governamentais.
“Os pobres estarão sempre com vocês, e vocês podem ajudá-los sempre que quiserem”, diz Jesus em Mateus 26:11 e Marcos 14:7. As palavras-chave aqui são “podem” e “quiserem”. Ele não diz: “Vamos obrigá-los a ajudar, querendo ou não”.

Em Lucas 12:13-15, Jesus ouve um pedido de partilha. “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança”, pede um homem. Ao que Jesus responde: “Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?”. Daí ele repreende o homem por sua inveja.
O cristianismo não tem a ver com dar dinheiro ao governo quando se trata de amenizar o sofrimento dos pobres. Cuidar deles, o que significa ajuda-los a superar a pobreza, e não pagar para que eles permaneçam pobres, tornando-os dependentes do Estado, é um fato essencial na vida do verdadeiro cristão há mais de 2.000 anos. A caridade cristã, voluntária e sincera, é algo bem diferente das ordens obrigatórias e impessoais do Estado.
O que dizem as Escrituras?
Mas não acredite só em mim. Pense no que o Apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 9:7: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.
Já na Parábola do Bom Samaritano, o viajante é considerado “bom” porque ajuda um moribundo à beira da estrada com seu tempo e recursos. Se em vez disso ele tivesse dito para o pobre coitado esperar pela ajuda do governo, provavelmente o conheceríamos hoje como “O Inútil Samaritano”.
Jesus claramente considerava a compaixão um valor necessário, mas não conheço nenhuma passagem do Novo Testamento que sugira que a compaixão é um valor a ser imposto pela força ou ameaça – em outras palavras, por políticas socialistas.

Os socialistas gostam de dizer que Jesus desprezava os ricos, citando dois momentos específicos: a expulsão dos vendilhões do Templo e a fala de que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino do Céu. No primeiro caso, Jesus estava furioso com a violação da casa de Deus. Na verdade, ele nunca expulsou um comerciante de um banco ou mercado. No segundo, ele estava alertando para o perigo das tentações que acompanham as grandes riquezas.
Esses são alertas contra a escolha equivocada das prioridades, e não mensagens da luta de classes.
Gerar riqueza – e não redistribuí-la – é uma virtude
Na Parábola dos Talentos, Jesus fala de um homem dá toda a sua riqueza a três servos por algum tempo. Quando ele volta, fica sabendo que um dos servos cuidou da sua parte enterrando-a, outro pôs o dinheiro para circular e o multiplicou e o terceiro investiu e teve o maior retorno de todos. Quem é o herói dessa parábola? O terceiro homem, que gerou riqueza. O primeiro é repreendido e sua parte é tirada e dada ao terceiro.
Isso não parece socialismo, não é?
Da mesma forma, na Parábola dos Trabalhadores na Vinha, a história defende virtudes capitalistas, não socialistas. Quando alguns trabalhadores reclamam que outros ganham mais, o patrão defende o direito ao contrato voluntário, à propriedade privada e a lei da oferta e demanda.

Na época do Natal e ao longo de todo o ano, Jesus quer que sejamos generosos na ajuda aos necessitados. Mas, se você acha que isso quer dizer que os políticos têm de agir com poder de polícia a um custo duas vezes maior e com metade da eficiência da caridade privada, você não está lendo o mesmo Novo Testamento que eu.
Lawrence W. Reed é presidente emérito da Foundation for Economic Education.

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O que os jornalistas não sabem sobre ideologia de gênero

Afinal, a ideologia de gênero existe mesmo ou não passa de “uma invenção da Igreja Católica”? Será que o mundo em que vivem nossos jornalistas é o mesmo em que nós vivemos?

Equipe Christo Nihil Praeponere10 de Janeiro de 2019

“O jornalismo é popular, mas é popular principalmente como ficção. A vida é um mundo, e a vida vista nos jornais é outro”. Dizem que foi Chesterton o autor dessa observação genial sobre a veracidade dos periódicos, tablóides, revistas e diários que compõem a chamada grande mídia. De fato, o abismo entre o universo jornalístico e a vida cotidiana é uma coisa que parece se agravar ano após ano, sobretudo para a imprensa tradicional. Acostumados aos velhos jargões e ao ritmo frenético da modernidade — o que dificulta o estudo e a meditação séria sobre temas delicados —, muitos jornalistas acabam reféns da própria indigência e, de quebra, não conseguem fazer a mínima avaliação da realidade sem o auxílio de algum intelectual chique ou de cacoetes obsoletos.

Outro dia um jornalista dizia para seus ouvintes na rádio que a “ideologia de gênero” era — atenção — “uma invenção da Igreja Católica”. Como se os padres e leigos que lotaram as câmaras municipais há alguns anos, exigindo a retirada das questões de gênero dos planos de educação, não tivessem mais nada que fazer do que inventar “moinhos de vento” para combater a ferro e fogo.

“Qualquer pedaço de pau serve para bater na Igreja Católica.”

Declarações como essas, no entanto, aparecem aos montes nos jornais, e mesmo profissionais bem intencionados acabam cedendo à tentação neriana de colocar a culpa sempre nos cristãos. A regra é clara: se os casos de AIDS aumentam no país, a culpa é da Igreja e da sua doutrina medieval contra o sexo antes do casamento; se algum maluco abusa de uma moça no ônibus, a culpa é da Igreja machista que não aceita a ordenação de mulheres; se a economia está mal, é por causa do voto de pobreza dos santos católicos. Os exemplos variam e a história se repete: sim, senhores, “qualquer pedaço de pau serve para bater na Igreja Católica”.

Nada é mais ideológico do que isso. Trocando em miúdos, ideologia é uma forma de argumentação retórica para sustentação de uma tese obtida de antemão, ou seja, sem os devidos métodos filosóficos e empíricos de encontro da verdade. O ideólogo já está convencido da sua teoria, e vai usar qualquer estratagema para defendê-la, apesar da realidade e a natureza das coisas. Desse modo, ele não precisa ler, estudar ou ouvir os argumentos adversários. Para vencer o debate, basta-lhe acusar os oponentes de alguma coisa infamante, com base em algum preconceito generalizado, e pronto.

Esse tipo de atitude é prontamente repetida nas redações de quase todos os jornais da grande mídia. Afinal de contas, por que um jornalista perderia tempo com algum livro ou trabalho científico se pode simplesmente explicar uma situação pelo esquema ideológico do chefe? No caso da polêmica sobre o gênero, imaginem quantos desses profissionais leram, alguma vez, os textos da Conferência do Cairo, os livros de Judith Butler e Shulamith Firestone, ou estiveram em alguma sala de aula para observar in loco o tipo de “educação” sexual que as escolas oferecem aos seus alunos. Não se trata aqui de juízo temerário, mas de mera análise lógica dos fatos. Para um repórter negar a realidade gritante da “ideologia de gênero” na educação, ou ele nunca leu nem presenciou nada do tipo, ou sofre de grave dislexia e não consegue entender o que se passa debaixo do próprio nariz. E vejam que nem aventamos a hipótese de sordidez pura e simples, o que não é impossível.

A Igreja Católica considera ideológicas as discussões de “gênero e direitos reprodutivos” porque elas se baseiam justamente naquele tipo de proposição falsa que se sustenta por argumentos pseudocientíficos. Para negar a realidade biológica e a identidade sexual humana, os ideólogos do gênero afirmam que a expressão da identidade sexual humana é, antes de tudo, uma construção social. Nesse sentido, haveria a sexualidade física (pênis e vagina), a atração sexual (hetero, homo ou bissexual) e, finalmente, a identidade de gênero, que seria a forma como a pessoa se constrói socialmente e vive a sua sexualidade no cotidiano. Do ponto de vista do gênero, portanto, todo ser humano nasceria neutro e só descobriria a própria identidade mais tarde, após algumas experiências sexuais e sociais. De acordo com Judith Butler, a mais badalada ideóloga do gênero, “a família é também uma formação histórica: sua estrutura e seu significado mudam ao longo do tempo e do espaço”.

A teoria de gênero defende, grosso modo, a inexistência de uma substância humana que esteja presente em todos os homens e mulheres. Tudo estaria resumido às performances e às aparências. Para que um homem seja mulher, ele só precisa de algumas cirurgias remodeladoras e de diminuir o seu nível de testosterona. Não importa se a pessoa tem uma constituição feminina ou masculina, pois tudo depende apenas da vontade do indivíduo, que deve ser livre para se construir conforme o próprio gosto. De resto, os velhos papéis institucionais de pai, mãe e filho devem, aos poucos, sumir do horizonte social para dar espaço a uma nova forma de família plural e diversificada. Esse é o objetivo da teoria de gênero, segundo as palavras da própria Butler. Trata-se de “gerar mais liberdade e aceitação para a gama ampla de identificações de gênero e desejos que constitui nossa complexidade como seres humanos”.

Para a ideologia de gênero, tudo depende apenas da vontade do indivíduo, que deve ser livre para se construir conforme o próprio gosto.

Verba volant, scripta manent, diz um antigo provérbio latino. Popularizadas pela academia, as palavras de Butler e de outros teóricos de gênero “voaram” para bem longe de seus escritos e foram fazer estrago na realidade. O primeiro grande experimento de gênero de que se tem notícia é a trágica história da família Reimer, contada aqui no site inúmeras vezes. Para provar sua “teoria”, o doutor Money não pensou duas vezes antes de submeter o pequeno David Reimer a uma cirurgia, de modo que pudesse tratá-lo então de Brenda. O menino deveria ser educado como menina para se adaptar ao novo gênero. Resultado: o rapaz cresceu deprimido e acabou se suicidando. Mas esse, infelizmente, não seria o último destino fatal da ideologia de gênero. Os números de suicídio provocados, entre outras coisas, pela confusão mental decorrente das questões de gênero só aumentam, assim como o número de pessoas que se expõem a cirurgias arriscadas de mudança de sexo.

A confusão chegou até aos esportes também. Segundo as leis atuais do Comitê Olímpico Internacionalum homem pode concorrer contra mulheres desde que se declare do gênero feminino e, dentro de um ano, estabilize sua produção de testosterona a um nível aceitável. Ele nem precisa amputar o membro viril. Desse modo, marmanjos de 1,90m de altura estão jogando no vôlei feminino e dando porrada em mulheres do MMA.

Fotografia da exposição “You Are You”, tirada em um acampamento de verão para crianças “gender-nonconforming”. (Sim, é um menino.)

Para assegurar o bem-estar das crianças, a Associação Americana de Pediatras emitiu uma declaração gravíssima contra a presença desse tipo de teoria dentro das escolas. Segundo a organização, “condicionar crianças a acreditar que uma vida inteira de personificação química e cirúrgica do sexo oposto é normal e saudável, é abuso infantil”. A declaração adverte contra os bloqueadores de hormônios da puberdade, que têm se tornado um fenômeno entre muitos jovens, depois do advento das propagandas de gênero. Causou escândalo recentemente uma campanha da cantora Celine Dion em que a artista aparece colocando roupas “neutras” em bebês de uma maternidade. É justamente contra esse tipo de abuso que a Associação Americana de Pediatras e outras organizações mundo afora se levantaram, sobretudo agora que os casos de crianças com “disforia de gênero” estão crescendo vertiginosamente.

No Brasil, o Ministério da Educação trabalhou insistentemente nos últimos anos para incluir esse tipo de abordagem dentro do ensino escolar. No livro do MEC Sociologia em movimento, por exemplo, os alunos aprendem que “o peso cultural da família patriarcal e da Igreja em nossa sociedade continua a ser uma forte influência para a marginalização dos grupos LGBT. Isso leva à violência homofóbica e transfóbica, assim como à violência doméstica contra mulheres”. Também o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) cobra dos universitários que se comprometam com a inclusão das temáticas de gênero nas escolas. Se os pais não tivessem se posicionado em tempo oportuno contra toda essa loucura, as escolas do Brasil hoje seriam como as da Suéciaonde meninos e meninas se vestem de cor laranja e não podem ser tratados por ele ou por ela.

Mas certamente essas coisas não existem, diria o jornalista chapa-branca, e a nota da Associação Americana de Pediatras deve ter sido escrita por algum monge albino do Opus Dei, infiltrado na instituição para promover o caos. Essa insistência dos jornais em fechar os olhos para a realidade, negando-se a retratar na íntegra os fatos como eles são, tem lhes custado um alto preço. Depois do advento da internet, as pessoas não estão mais reféns da “espiral do silêncio” imposta pela grande imprensa, e agora elas recorrem a outros canais alternativos de informação, que prestam um excelente trabalho. Enquanto isso, os jornais tradicionais agonizam e lutam para manter viva uma ideologia antiquada e pedante. E eles juram que a culpa é da Igreja Católica.

Fonte: https://www.padrepauloricardo.org/

Meus sentimentos, minhas regras

Meus sentimentos, minhas regras
 por Francisco Razzo  [ 09/01/2019 ] [ 1:00 ] Atualizado em [ 09/01/2019 ] [ 13:07 ]
 Não me lembro direito em qual programa de rádio foi, mas esses dias ouvi um rapaz dizendo que a discussão sobre teoria de gênero não pode ter respaldo na biologia. Segundo ele, “a biologia estaria atrelada à moral cristã opressora” e por isso não pode servir de base para determinar a identidade de alguém. Homem e mulher não são o que são por causa de aspectos biológicos. O que determina cada um de nós são as nossas inclinações psíquicas.Na minha não tão humilde opinião, a sempre polêmica teoria da identidade de gênero tem um furo gigantesco: depende de uma concepção dualista da “natureza humana”, que é falsa. Dualista por reduzir o ser humano a duas realidades independentes e até conflitantes: o corpo biológico e a consciência subjetiva. E, por favor, isso não tem nada a ver com o filósofo René Descartes, que também tinha uma visão dualista do ser humano. Para Descartes, a alma humana é imortal e capaz de conhecer Deus como seu criador. Descartes, devoto de Nossa Senhora, não enclausurou o homem num psiquismo medíocre.
No caso da teoria da identidade de gênero, há uma confusão tanto no significado do corpo quanto no da vida psíquica. Reduzem os dois: o corpo é reduzido como objeto de estudo para o biólogo; a vida psíquica é vista como nada além da expressão do que sentimos internamente. Fora o maniqueísmo por baixo da causa: o corpo é mau; o sentimento de si, bom.Por exemplo. Uma menina, anatomicamente constatada menina, chega para os pais e diz: “me sinto menino”. Os pais, confiantes na pureza do desejo de seu única e linda filha, acatam a percepção interna que só a criança pode ter de si mesma e a bajulam com todos os mimos possíveis. Nada contra. Sou pai e por isso sei bem o quanto um pai zeloso tomaria a atitude de consultar um bom psicólogo antes de chamar a filha de filho. Na dúvida, recorrer a um especialista para ajudar nossos pequenos é a melhor atitude. Meu filho Davi, por exemplo, diz ser o Hulk. Não me oponho. Na infância eu gostava de me vestir como o Super-Homem, com cueca vermelha e tudo — mas vamos deixar isso pra lá.De qualquer forma, quem melhor do que a própria criança para compreender e fazer coincidir, por meio do charme e da doçura, sua percepção psicológica interna com sua natureza corporal externa? Psicólogos estão aí justamente para ajudar na batalha interior travada por cada um de nós. E fazem isso sem assumir responsabilidades pelas derrotas ou créditos pelas vitórias, pois o mérito em aceitar que “ter experiência psicológica interna do jeito que me satisfaz” como algo “normal” a ser “absolutamente compreensível pela sociedade” é apenas dos jovens. Não sei o que é olhar para o meu corpo e ver outra coisa senão a mim mesmo, portanto não tenho competência para falar dos dramas alheios.A experiência psicológica interna de se “sentir” alguma coisa diferente do que se é em carne e osso está baseada numa ideia de que o sentimento interno é infalível, pois fundamenta-se na pureza moral dos bons sentimentos. O corpo, determinado pela biologia, seria mais um obstáculo opressor que precisa ser subjugado pelas regras da experiência interior. A teoria da identidade de gênero paradoxalmente nega a identidade antropológica da relação “mente-corpo”. Ao negar, portanto, rejeita o corpo como realidade irrelevante para construção da própria experiência da identidade pessoal. Não sou meu corpo, sou o que sinto a respeito de mim mesmo. Meus sentimentos, minhas regras.A propósito, falando de dramas pessoais, eu recomendaria o leitor procurar uma página no Facebook chamada Special Books by Special Kids Group. Conta com um pouco mais de 2 milhões de seguidores. Na verdade, o SBSK, como são conhecidos, é uma organização criada pelo professor Christopher Ulmer, da Filadélfia, que faz vídeos com crianças de todos os lugares do mundo e com um objetivo nobre. Curiosamente, as crianças são portadoras de alguma necessidade especial severa que provoca grandes deformação no corpo. Os relatos dessas crianças têm o objetivo de garantir que nenhuma seja estigmatizada pelo que… são, enquanto encarnadas num corpo. A missão de Christopher é demostrar a preciosa relação entre corpo e identidade pessoal. Porque é disso que se trata: somos, literalmente, encarnados. Não faz sentido falar de identidade pessoal sem considerar o corpo.Uma concepção mais correta e abrangente de ser humano não faz a distinção entre corpo e mente como duas realidades antagônicas. Pelo contrário, de um ponto de vista da antropologia filosófica mais robusta, que eu pessoalmente prezo muito por seu apelo à singularidade pessoal, o corpo pode ser entendido de três maneiras: material, orgânico e intencional. Cada um de nós, na verdade, encarna essas três concepções sem excluí-las ou reduzir nosso “corpo próprio” a cada uma delas. Dessa forma, podemos pensar o ser humano a partir de uma visão universal, e isso para ficar apenas no componente “corporal” — sem considerar a vida psíquica e as capacidades intelectuais.Em alemão, há duas palavras para “corpo”: Körper e Leib, que os filósofos chamam de “corpo objeto” e “corpo sujeito”.O termo Körper se refere à estrutura, à construção ou ao suporte esquemático; enquanto Leib é a carne, o corpo vivido do interior por alguém. Körper é o “corpo objeto”, o corpo que eu tenho e cujo funcionamento depende de leis que não tenho controle. Trata-se do corpo que o biólogo estuda, por exemplo. O aspecto material corresponde à totalidade físico-química e do corpo e o orgânico à totalidade biológica. É um erro achar que somos só expressão desse corpo biológico. Já Leib, por sua vez, tem a ver com o caráter intencional da nossa experiência pessoal. Leib é o “corpo sujeito”, o corpo que eu sou e que você é e mediante o qual eu vivo minha vida e você a sua. Os filósofos chamam a essa dimensão intencional de corpo próprio. Para você que está vivo e lendo este artigo, ser e ter um corpo é vivê-lo da maneira intencional antes de vivê-lo como matéria física e orgânica.Eu fico impressionado como o debate público sobre teoria de gênero desconsidera essas dificuldades enquanto perde tempo discutindo se menino veste azul e menina veste rosa. Um tratamento mais adequado não só acerca da experiência de sofrimento psicológico, mas também sobre a própria noção de corpo ajudaria muito o debate, hoje reduzido em meras expressões de “corpo” como entidade biológica e “alma” como mera expressão de sentimentalismo tóxico.”Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/francisco-razzo/minha-sentimentos-minhas-regras/?webview=1

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“Mulher” trans no Miss Universo expõe as contradições do feminismo progressista

A adoção incondicional da ideologia transgênero permite que os machos biológicos usem o manto da feminilidade simplesmente afirmando que é seu direito inato. Nunca houve uma reivindicação mais patriarcal

Alexandra Desanctis National Review  [18/12/2018] [12h00] 

A mulher transgênero Angela Ponce, da Espanha, concorre durante o concurso Miss Universo 2018, em Bangcoc, Tailândia, em 16 de dezembro de 2018. LILLIAN SUWANRUMPHA/AFPNo famoso conto de Hans Christian Andersen, o imperador não tinha roupas. Hoje em dia, se o imperador coloca a roupa certa, ele pode se chamar de imperatriz. E todos nós temos que aplaudir. 

O concurso Miss Universo deste domingo apresentou, pela primeira vez na história de 66 anos do evento, uma mulher transgênero. Concorrendo como Miss Espanha, Angela Ponce entrou no concurso com muito aplauso, escrevendo em um post no Instagram: “Hoje estou aqui, orgulhosamente representando minha nação, todas as mulheres e os direitos humanos”.

Ponce não venceu, mas foi saudada pela mídia apenas por competir. “A Miss Filipinas, Catriona Gray, levou para casa a coroa no concurso de Miss Universo de 2018 na noite de domingo em Bangcoc, Tailândia, mas ela não foi a única vencedora da noite”, declarou o site da ABC News na manhã de segunda-feira. “A espanhola Angela Ponce se tornou a primeira transgênero da competição, um passo importante para o desfile de 66 anos.”

 “A espanhola Angela Ponce fez história como a primeira mulher transgênero a competir na Miss Universo”, afirmou o Yahoo News. A reportagem da NBC News sobre a competição nem sequer mencionou a vencedora até o quarto parágrafo do artigo, concentrando-se em celebrar como Ponce “quebrou barreiras”. 
Leia mais: O que é “ideologia de gênero”?
Toda essa fanfarra levanta a inevitável questão: Poderia Ponce realmente “representar todas as mulheres” sem ser uma mulher? Em nosso momento não científico, apenas ter a audácia de fazer essa pergunta é o suficiente para ser criticado em certos setores.

 Pense por um momento na realidade da biologia de Ponce — uma realidade que, não importa a quantidade de cirurgia plástica que Ponce consiga e independentemente de que Ponce realmente se pareça com uma mulher, não pode ser alterada. A tecnologia pode disfarçar essa verdade, mas nenhuma quantidade de remédio ou mutilação pode persuadir os cromossomos de Ponce à submissão.

 Leia mais: Presidenta e alunxs? O desafio da ideologia de gênero na sala de aula
Mas considere outra questão também, e talvez mais importante: Ponce pode viver como uma mulher transgênero sem nos forçar a entrar juntos nessa barca furada? O concurso Miss Universo, a mídia progressista e, cada vez mais, a ala esquerda da política americana, parecem acreditar que isso não é possível. 

Ponce disse à revista Time em novembro que ganhar o concurso seria simbólico: “As mulheres trans foram perseguidas e apagadas por tanto tempo. Se me derem a coroa, isso mostraria que as mulheres trans são tão mulheres quanto as mulheres cis ”. 
Essa é a farsa que estão nos forçando a aceitar. Não é suficiente dizer, como deveríamos, que a disforia de gênero é um fenômeno psicológico real, que uma sociedade justa e compassiva deve reconhecer a realidade da luta que pessoas como Ponce enfrentam, e que o bullying e o ódio dirigidos a tais pessoas são maus e errados. 

Leia mais: As consequências, no mundo real, de se submeter à ideologia de gênero
Nós também estamos destinados a cantar junto com a multidão que Ponce é uma mulher. Qualquer coisa menos que isso é transfobia. Decência e caridade já não são suficientes; afirmação e glorificação — idealmente diante de uma audiência tão grande quanto possível — são o único caminho aceitável. 

E o que essa nova fronteira do progressismo significa? O dogma inatacável de que as mulheres são constantemente oprimidas e subjugadas pelo patriarcado — que só podemos ser livres se reconhecermos e enfraquecermos a tirania do privilégio masculino branco que impede as mulheres de se expressarem e tomarem o controle de nossas vidas — exige que haja tal coisa como feminilidade, e que pode ser definida de forma consistente. 

A aparência muito elogiada de Ponce no concurso Miss Universo, por outro lado, implica a aceitação social da ideia de que os homens podem, de fato, ser mulheres. 
Leia mais: Ele mudou de gênero e se arrependeu. E conta as consequências
Essas duas doutrinas do progressismo brigam entre si. Mesmo se aceitarmos a noção de que alguns machos biológicos podem se sentir tão femininos que são essencialmente, de alguma forma intangível, mulheres, tal visão necessariamente entra em conflito com a afirmação feminista de que há algo único em ser mulher — e que a feminilidade merece ser protegida da invasão do poder masculino. 
A adoção incondicional da ideologia transgênero necessariamente, e intencionalmente, apaga a feminilidade. Ele permite que os machos biológicos usem o manto da feminilidade simplesmente afirmando que é seu direito inato. Nunca houve uma reivindicação mais patriarcal.

À medida que o partido democrata se aproxima da política de identidade, um choque dessas duas identidades se vislumbra no horizonte. Em um movimento “intersecional”, onde grupos minoritários recebem mais dinheiro por terem experimentado mais opressão, as mulheres que lutam contra o patriarcado poderiam facilmente ser excluídas por mulheres transexuais que insistem que seu status de minoria e experiência com estigma lhes dão o trunfo da vitimização. 
Talvez a extrema esquerda acredite que, se seus membros forçarem os céticos a concordar com a pompa de Ponce, eles podem evitar as cismas inerentes a um movimento que afirma valorizar o feminismo, enquanto insiste que ser mulher não tem nenhum significado.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/mulher-trans-no-miss-universo-expoe-as-contradicoes-do-feminismo-progressista-e888ezz4fzsflxab7fbtgtyrz/app

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Ideologia de Gênero: o que é, de onde vem, e por que você deve se preocupar com ela

28 DE SETEMBRO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

Já há algum tempo, no curso de um movimento iniciado no hemisfério norte, vem sendo disseminada nas escolas brasileiras a chamada “ideologia de gênero”. À revelia dos pais, crianças e adolescentes têm sido expostos a um discurso sobre os sexos que, além de os levar a interpretações errôneas da realidade, os torna confusos e vacilantes em relação à circunstância mais básica e evidente da existência humana: o fato de alguém ser homem ou mulher. O que vem ocorrendo é um verdadeiro abuso moral. Dada a importância do assunto, resolvi dedicar a ele uma série de artigos aqui no blog.

A “ideologia de gênero” é um emaranhado de postulados sem comprovação científica, desarticulados e muitas vezes contraditórios entre si, que transitam entre temas como “identidade de gênero”, “transgeneridade”, “orientação sexual” e “desigualdade de gênero”. Nesse artigo, vou tratar do primeiro tema, ou seja, da pressuposição de que ser homem ou ser mulher nada teria a ver com o fato de se nascer com um corpo masculino ou feminino, sendo antes matéria de decisão pessoal. Ou, alternativamente, de que uma pessoa pode “descobrir” que não é nem homem nem mulher, havendo um cardápio de mais de 50 gêneros já catalogados e disponíveis à escolha. O “gênero” seria não só algo descolado do sexo biológico, como teria o poder de anulá-lo.

É com base nessas ideias delirantes que os promotores da “ideologia de gênero” militam pela implementação de uma pedagogia escolar que estimula meninos e meninas a realizarem atividades, usarem roupas, e brincarem com objetos tradicionalmente associados ao sexo oposto. Em certas escolas, chega-se ao paroxismo de proibir o uso de pronomes distintivos de gênero, que são substituídos por um pronome “neutro” inventado artificialmente com esse fim. Segundo essa cartilha, as crianças devem ser educadas num ambiente de completa indistinção, alienadas, o máximo possível, de sua condição sexuada. Mas não nos deixemos iludir: essa ideologia é essencialmente política e nada tem de libertária.

Não se trata de dar liberdade para que as crianças sejam meninos ou meninas à sua própria maneira, e sim de fomentar dúvidas e questionamentos em relação à sua própria identidade. O objetivo não é combater discriminações e preconceitos, estimular o respeito às diferenças, etc, e sim planificar a visão de mundo das novas gerações, por meio da desconstrução do conceito tradicional de família e do ataque à heteronormatividade. Não por acaso, nas escolas cujos currículos já foram invadidos pela “ideologia de gênero”, os estudantes também são permanentemente expostos a um discurso de crítica ao modelo universal de família baseado na complementariedade entre marido e mulher.

De onde vem a “ideologia de gênero”? O que chega nas escolas é uma versão popularizada de ideias gestadas no contexto das disciplinas universitárias agrupadas sob o título de Humanidades, e posteriormente disseminadas com o auxílio da mídia. A partir da década de sessenta, essas disciplinas foram se tornando gradativamente comprometidas com a pauta da segunda onda feminista, focada na crítica aos fundamentos da cultura judaico-cristã, e na revolução dos costumes. Nos anos noventa, já haviam acolhido também os anseios da militância LGBT. Porém, apesar de sua origem acadêmica e de seu verniz pseudocientífico, a “ideologia de gênero” se baseia em formulações desprovidas de rigor intelectual e sem nenhum compromisso com a realidade dos fatos associados aos sexos. Vamos então aos fatos.

Meninos e meninas nascem diferentes, não só no que se refere à fisiologia genital e reprodutiva, mas também à composição hormonal e à estrutura psíquica. Numa visada geral, essas diferenças se refletem nos modos de se desenvolver e de se comportar, assim como em suas respectivas seleções recorrentes de interesses. A partir dos três anos de idade, quando as capacidades verbais e motoras já estão mais desenvolvidas e as crianças adquirem competência para expressar suas disposições e habilidades, alguns padrões se tornam evidentes.

Por exemplo, é fato notório que, em média, os meninos desenvolvem a coordenação ampla (relacionada aos atos de correr, pular, escalar, etc.) ligeiramente mais cedo, ao passo que as meninas se antecipam no desenvolvimento da coordenação fina (relacionada às habilidades de desenhar, escrever). A maioria dos meninos costuma vibrar com brincadeiras de lutar, escalar e deslizar pelo chão, ao passo que a maioria das meninas prefere movimentar-se de maneira mais estruturada, ou, pelo menos, não tão explosiva e arriscada. Do ponto de vista linguístico, é comum que as meninas falem e ampliem o vocabulário mais cedo, sendo também mais sensíveis aos sinais de comunicação não-verbal. Por fim, podemos citar ainda tendências diversas nas formas de sociabilidade, os meninos preferindo brincar em grupos maiores e mais erráticos, e as meninas sendo mais inclinadas a formar grupos coesos ou pares de afinidade.

Os promotores da “ideologia de gênero” alegam que esses padrões não seriam expressão de diferenças naturais entre os sexos, e sim resultado de um processo de socialização que induziria as crianças a se comportarem de acordo com os “estereótipos sexuais da sociedade ocidental”. Ora, ao defender essa ideia, eles fazem vista grossa para dois conjuntos de dados muito importantes. Por um lado, para toda a produção das neurociências a respeito das correlações entre o comportamento de homens e mulheres, e o modo como funcionam os seus respectivos sistemas hormonal e neuronal. Por outro lado, para o fato de que, a despeito de variações culturais de nível superficial, esses padrões se revelam histórica e etnograficamente recorrentes, estando longe de representar uma exclusividade da sociedade ocidental. Mas os promotores da “ideologia de gênero” não gostam de discutir dados que contrariem as suas teses e os seus projetos de engenharia social. Sendo assim, temos mais um motivo para impedi-los de participar da educação de nossas crianças, a saber, a sua desonestidade intelectual.

Educar uma criança consiste em oferecer-lhe os meios para que desenvolva, da maneira mais elevada possível, as suas potencialidades individuais, o que inclui dar plena expressão à sua condição sexuada. Nesse sentido, devemos ajudá-la a cultivar os seus melhores talentos não só para a vida em comunidade, mas também para a vida na intimidade da família que provavelmente irá formar. Nunca houve, em lugar ou tempo algum, exceto na mídia e nas universidades do Ocidente pós-moderno, quem deixasse de compreender o papel que as diferenças naturais entre homens e mulheres cumprem no sentido de prover a estrutura familiar com o máximo de recursos que concorram para o seu sucesso. Porém, para aqueles que desejam o esfacelamento da família tradicional, nada que propicie a complementariedade entre os sexos deve ser legitimado.

Isso explica, por exemplo, a aversão dos promotores da “ideologia de gênero” às clássicas brincadeiras de menina e menino, bem como a sua insistência em criticá-las. Para eles, uma menina pode brincar de ser médica, empresária, astronauta ou presidente de um país, mas a fantasia de ser mãe ou dona de casa precisa ser desconstruída. Melhor guardar a boneca e as panelinhas antes que ela tome gosto. Do mesmo modo, é preciso impedir que os meninos se percebam ágeis, fortes e resistentes. Urge proibir a brincadeira de luta e dar sumiço na capa de super-herói. Pois se um homem confiante e corajoso é um bem incalculável para uma família, para a ideologia de gênero ele representa um empecilho e tanto.

Mas o que dizer das meninas que não ligam para bonecas e dos meninos que não gostam de brincar de luta? Ora, não há absolutamente nada de errado com essas crianças. Evidentemente, não seria de se esperar que as diferenças naturais entre os sexos se atualizassem da mesma forma, e na mesma medida, nas predisposições e preferências individuais de todas os meninos e meninas. Escolhi citar tais brincadeiras menos por sua recorrência (que, no entanto, é real), e mais pelo fato de serem tão combatidas pelos promotores da “ideologia de gênero”. Mas deixo o assunto para o próximo artigo. Esse aqui já está muito longo e preciso finalizá-lo com um alerta.

Pais e mães, redobremos a nossa atenção. Não deixemos que os nossos filhos sejam usados como massa de manobra por pessoas que não hesitarão em se aproveitar de sua imaturidade intelectual e psicológica. Precisamos ficar de olho no modo como a escola lida com essas questões, e sempre atentos ao nível de transparência de suas ações pedagógicas. Não podemos abrir mão de nossas prerrogativas parentais, permitindo que crianças saudáveis e cheias de energia criativa sejam transformadas em pequenos militantes angustiados e ansiosos em relação ao seu próprio modo de ser. Seja ele qual for.

A educação feminista e a desfeminilização das meninas

30 DE NOVEMBRO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

Como já sugeri nos dois artigos anteriores, o propósito mais pervasivo da chamada “ideologia de gênero” é promover a dissolução das noções de feminino e masculino, minando o padrão conjugal de complementariedade entre os sexos. O programa consiste, basicamente, em desfeminilizar as meninas e desvirilizar os meninos. Neste artigo, vou tratar especificamente do caso das meninas, que estão sendo expostas sem nenhuma defesa a uma torrente de mensagens desfeminilizantes vindas da mídia, da escola, e da indústria cultural. No final das contas, descontados todos os vernizes e recadinhos secundários, o conteúdo dessas mensagens é o seguinte: “para que sua existência seja validada pela sociedade, você precisa abrir mão de sua feminilidade.”

Um dos alvos prioritários desse discurso é a escolha da profissão. É bem sabido que as mulheres têm as suas carreiras prediletas. Em geral, predominam as profissões ligadas à docência e à saúde, à organização doméstica, ao cuidado de terceiros, e ao atendimento ao público em geral. Obviamente, nem todas as mulheres se encaixam nesse esquema. E, embora haja também áreas profissionais atraentes para ambos os sexos, a diferenciação vocacional é uma realidade inquestionável, que pode ser explicada pelo simples fato de homens e mulheres serem diferentes.

Os promotores da ideologia de gênero insistem, porém, que a maior propensão das mulheres a buscar preferencialmente certas atividades resulta de um modelo de educação machista e impositivo, que as levaria a se conformar aos “estereótipos femininos tradicionais”. Ora, um tal raciocínio seria válido se estivéssemos discutindo casos como o das meninas da Índia, do Paquistão, da China ou da maioria dos países muçulmanos. Mas no Ocidente contemporâneo, principalmente nas zonas urbanas, esse viés já não existe há muito tempo. Ao contrário, todo o esforço da escola e da mídia, ao longo das últimas décadas, tem sido no sentido de borrar as diferenças entre os sexos e tratá-los como perfeitamente intercambiáveis. Ou seja, o que vem ocorrendo é o oposto do que quer nos fazer crer esse discurso vitimista.

As meninas vêm sendo bombardeadas, de longa data, com uma intensa propaganda feminista cujo objetivo é lhes convencer não só de que devem colocar a vida profissional no centro de suas atenções, como também de que as profissões tidas como masculinas são mais interessantes que as outras. E, ainda assim, a maioria continua buscando profissões tradicionalmente femininas. O velho e batido argumento de que somos eternas vítimas de um sistema social opressor, que restringe as nossas opções, cai por terra à luz dos fatos reais.

O caso dos países nórdicos é particularmente exemplar. Em 2008, a Noruega foi eleita o primeiro país do mundo em igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Trata-se da educação mais igualitária do mundo. Mas, como bem demonstrou o jornalista Harald Eia no documentário “O Paradoxo da Igualdade”, apesar de todos os esforços no sentido de se eliminar qualquer fator material ou simbólico que possa infletir as escolhas de futuro dos estudantes, apenas 10% dos enfermeiros noruegueses são homens, ao passo que apenas 10% dos engenheiros são mulheres. Ou seja, as escolhas profissionais das mulheres norueguesas não podem ser explicadas por nenhum tipo de discriminação.

Mas a forma especificamente feminina de estar no mundo não se atualiza apenas na escolha da profissão. Ela se revela também no tipo de relação que as mulheres estabelecem com a carreira. Mesmo quando exercem profissões tidas como masculinas, elas costumam colocar mais limites do que os homens à quantidade de tempo e de energia que disponibilizarão para o trabalho fora de casa. E isso porque sabem que as suas possibilidades de realização existencial plena dependem de serem capazes de construir um lar estruturado e harmônico. A verdade é que a maioria das mulheres não quer abrir mão de cuidar pessoalmente dos filhos, mesmo que a profissão seja um aspecto importante de suas vidas.

Qualquer pessoa esclarecida sabe que a coletividade só tem a ganhar com a presença e a atuação das mulheres na esfera pública. Foi com isso em vista que, no final do século XIX e início do XX, mulheres corajosas e inteligentes lideraram, na Europa e nos Estados Unidos, movimentos em prol da ampliação dos direitos e dos espaços de atuação social femininos. Porém, estando em perfeita sintonia com a perspectiva das mulheres que representavam, as primeiras “feministas” sabiam que as conquistas femininas precisavam ser conciliáveis com as conveniências da vida familiar. Caso contrário, não seriam conquistas, e sim mera permuta infeliz de papéis. Duas coisas fundamentais eram levadas em consideração. Primeiro, o fato das crianças precisarem da atenção de suas mães. Segundo, que parte significativa do bem-estar subjetivo das mulheres está atrelada às suas obrigações morais para com a família.

A partir dos anos 60, porém, houve uma ruptura e uma mudança de rumo. Com o respaldo intelectual de figuras então já consagradas, como a filósofa francesa Simone de Beauvoir, o chamado “feminismo da segunda onda” abraçou falsos pressupostos, dentre os quais o mais nocivo foi o de que cuidar dos filhos representa uma atividade menor. Em “O Segundo Sexo”, Beauvoir afirmou que a maternidade é uma espécie de maldição que pesa sobre a mulher, tornando-a “escrava da espécie” e confinando-a ao domínio da imanência. Ela desprezava a vocação materna com todas as suas forças e acreditava que qualquer possibilidade de transcendência feminina dependia da saída e do abandono do lar. Em certa ocasião, esse ícone do feminismo foi capaz de dizer a seguinte frase: “Nenhuma mulher deveria ser autorizada a ficar em casa e criar os filhos. A sociedade deveria ser totalmente diferente. As mulheres não deveriam ter essa escolha, precisamente porque se a tiverem, muitas vão fazer isso.”

Guardadas algumas pequenas diferenças individuais que não afetavam o conjunto da obra, as feministas da segunda onda comungavam dessa visão estreita de liberdade feminina e nutriam a mesma aversão à maternidade e ao trabalho doméstico. Elas ignoraram por completo, ou fingiram ignorar, o aporte de inteligência, vigor e inspiração necessário ao trabalho cotidiano de uma boa mãe. Não compreenderam que não pode haver maior expressão de poder criativo do que fomentar, dia após dia, noite após noite, durante anos a fio, a existência de outro ser. Aliás, elas não foram nem sequer capazes de enxergar a maternidade como uma responsabilidade social de amplas consequências. E assim, com base na opinião de mulheres nada razoáveis, que projetaram a imagem de uma nova sociedade movidas pelos seus ressentimentos em relação aos homens, e olhando apenas para o seu próprio umbigo, foi construída uma ideologia política falaciosa, individualista e autoritária.

Ao tratar a maternidade como um fardo e atacar a figura da “mãe de família”, o feminismo se distanciou do universo feminino e fechou os olhos, de maneira covarde e perversa, para as necessidades das crianças. Fez estragos significativos na vida de pelo menos duas gerações de mulheres, transformando-as em pessoas angustiadas, existencialmente partidas, que correm atrás de um prejuízo que na verdade nunca tiveram. A boa notícia é que mesmo tendo sido impregnadas conceitualmente pelos slogans e palavras de ordem feministas, e a despeito de toda a tensão introduzida em suas vidas, a maioria das mulheres ainda mantêm o coração conectado ao projeto familiar, mesmo que de maneira um tanto quanto aflita. Por outro lado, não podemos deixar nos perguntar: até quando a feminilidade resistirá a tantas forças antagônicas?

Nos últimos anos, temos assistido a uma intensificação do proselitismo feminista em novas bases, com a introdução da ideologia de gênero no domínio da educação das crianças. Talvez pelo fato do discurso da auto vitimização e da acusação aos homens não ter sido suficiente para tirar as mulheres da rota do casamento e da família, a estratégia foi modificada e aprofundada. Na pauta feminista atual, influenciada pelo desconstrucionismo radical de autores ligados ao Movimento Queer, como Judith Butler, inclui-se o objetivo de solapar os próprios fundamentos da auto identificação sexual das meninas, privando-as do acesso a conceitos, imagens e símbolos que lhes permitam dar sentido cultural e expressar de maneira positiva a sua condição feminina.

Essa agenda está em andamento. Em muitos lugares, as meninas já não têm mais modelos positivos de feminilidade para imitar. Não podem mais se vestir de princesa, cuidar da boneca ou brincar de casinha sem que isso seja politicamente problematizado. Não devem dizer que sonham em se casar e ter filhos, sob pena de serem ridicularizadas. Só têm acesso a formas de literatura que questionem os chamados “estereótipos tradicionais”. E estão crescendo sem recursos cognitivos e culturais que lhes possibilitem desenvolver uma percepção clara de si mesmas como meninas e futuras mulheres. Aliás, em algumas escolas, já não se usa mais pronomes femininos para se referir a elas. Com tantas mensagens e injunções contrárias, é bem possível que, de tão sufocada, um dia a sua feminilidade natural já não tenha mais forças para emergir e direcionar suas escolhas.

Afetividade Consciência parental Dica de livro para as crianças Dica de livro para os pais Imaginação Orientação para a vida

Cristiane Lasmar

Sou casada e mãe de dois meninos. Doutora em Antropologia, diretora de escola e autora do blog Infância Bem Cuidada.

BLOG NO WORDPRESS.COM.

A Guerra contra a masculinidade

Neste artigo, o quarto e último da série sobre a ideologia de gênero, vou falar sobre os meninos. Mais precisamente, sobre o modo como as suas disposições naturais vêm sendo depreciadas pela cultura feminista que domina a cena educacional contemporânea. No artigo anterior, mostrei que as meninas são educadas para a auto vitimização e a desfeminilização, e crescem com a falsa percepção de que os homens são inimigos potenciais. Os meninos, por sua vez, são levados a acreditar que aquilo que neles é mais espontâneo e específico, ou seja, a sua masculinidade, é nociva ao mundo e, principalmente, às mulheres.

As mensagens feministas dirigidas aos meninos devem ser entendidas como parte de um projeto político e ideológico mais amplo, cujos fundamentos, objetivos e métodos já foram dissecados por autoras como Christina Hoff Sommers, no livro “The War Against Boys” (2000) e Suzanne Venker, em “War on Men” (2013). Embora descrevendo o fenômeno a partir dos dados relativos à sociedade americana, essas análises descortinaram as bases do programa de ataque à masculinidade que está em curso em praticamente todos os países ocidentais. Vou me concentrar aqui no modo como esse programa é posto em prática na educação das crianças, começando por esclarecer quais são as disposições infantis que estou chamando de “masculinas” e que o projeto feminista tanto se esforça por neutralizar.

Sabemos que, durante a vida intra-uterina, o cérebro dos meninos é banhado por uma quantidade muito maior de testosterona do que o das meninas, e que isso determina, em ampla medida, a forma masculina de estar no mundo. Não é difícil perceber, por exemplo, que, em média, os meninos desenvolvem a coordenação ampla antes das meninas, ao passo que estas se antecipam no desenvolvimento da linguagem e da coordenação fina. E que, desde a mais tenra idade, a maioria dos meninos manifestam mais interesse imediato por objetos do que por pessoas, preferem brinquedos que possuem barulho e movimento, e mostram-se ávidos por brincadeiras que envolvam exploração, confronto corporal e dispêndio explosivo de energia.

A maior propensão dos meninos a recorrer à violência física para resolver conflitos também faz parte desse pacote. Quem os educa tem, portanto, diante de si, a importante tarefa de ajudá-los a mitigar e canalizar o seu potencial agressivo para formas de ação civilizadas e socialmente produtivas. Esse esforço de culturalização das disposições naturais masculinas é absolutamente necessário e jamais houve sociedade que deixasse de realizá-lo. Mas o que vem acontecendo no Ocidente contemporâneo é algo sem precedentes. Temos reprimido, em nossos meninos, todo tipo de comportamento que manifeste vigor combativo e espírito abertamente competitivo, sufocando assim traços essenciais de sua masculinidade. Em suma, os meninos estão sendo impedidos de ser meninos plenamente. E, quando resistem, seu modo de ser é problematizado, estigmatizado. Em muitos casos, chega a ser tratado como algo patológico.

É verdade que não se pode culpar a “ideologia de gênero” por absolutamente tudo. Alguns fatores sociológicos também contribuem para esse cerco à masculinidade. Um deles é a intensificação do padrão de vida urbano. A residência em apartamentos, a impossibilidade de brincar na rua ou em quintais, em contato íntimo com a natureza, assim como o fato das crianças precisarem estar sob a vigilância constante de um adulto, tudo isso restringe as suas possibilidades de experimentar situações não premeditadas de aventura, competição e confronto. A oportunidade de se movimentar amplamente ficou restrita à prática de esportes em clubes e academias, ou seja, a eventos de curta duração, rotinizadas e supervisionadas diretamente por professores e instrutores, ou seja, sem uma liberdade real. Em muitos casos, porém, nem isso é concedido aos meninos. Uma boa parte das crianças vive a triste realidade do sedentarismo absoluto. Durante o tempo em que não estão na escola, ficam paralisadas diante das telas dos aparelhos eletrônicos, assistindo por horas a fio as aventuras de personagens virtuais que lutam, correm e se arriscam. Tudo o que lhes resta é o exercício vicário da masculinidade.

Outro fator importante que concorre para esse processo é a dinâmica própria da escola. Por seu caráter universalista e homogeneizante, a escola moderna não pode permitir a expressão plena das individualidades dos alunos, e precisa mantê-los quietos pelo maior período de tempo possível. Além disso, com o fenômeno da judicialização crescente das relações sociais, as escolas têm se tornado alvo potencial de processos por parte dos pais, o que leva os gestores a tentar reduzir o risco de acidentes a zero, aprofundando o controle sobre a corporalidade exuberante dos meninos. Eles não podem brincar de luta, envolver-se em competições espontâneas e, em muitos casos, não são nem mesmo autorizados a correr no recreio. Devem ficar sentados por horas a fio, mimetizando a duras penas o comportamento das meninas, que, embora mais conversadeiras, são, em geral, mais maduras e capazes de se manter quietas e concentradas quando necessário. Por serem mais empáticas, elas também têm mais facilidade para desenvolver relações de cumplicidade com os professores.

Além de não possuírem meios para dar expressão às suas necessidades de movimento, ação e competição, os meninos ainda recebem poucos estímulos imaginativos na escola. Os professores são, em sua maioria, mulheres, e os currículos escolares têm se distanciado cada vez mais da sensibilidade masculina típica. Pensemos, por exemplo, na nova onda de desenvolver nos alunos “competências socioemocionais”. Não é preciso ser PHD em desenvolvimento infantil para saber que esse tipo de conteúdo será, já de saída, muito mais atraente para as meninas, as quais têm mais facilidade e desenvoltura para falar de seus próprios sentimentos, e gostam de fazê-lo. Não obstante, a matéria é introduzida como se atendesse a uma necessidade geral e irrestrita, e sem nenhuma consideração relativa às diferenças entre os sexos. É claro que isso não ocorre por desconhecimento ou descaso. O objetivo é exatamente o de transformar a sensibilidade dos meninos, da mesma forma como acontece com a seleção da literatura a ser trabalhada em sala de aula. Onde estão as histórias de batalhas, aventuras e heroísmo que tanto encantam a imaginação masculina? Foram substituídas por narrativas politicamente corretas e eivadas de ideologia de gênero.

Em condições normais, esses dois fatores de cerco à masculinidade – a vida urbana e a dinâmica escolar  – poderiam ser relativamente contornados pela adoção de estratégias de compensação e adaptação por parte da família e da própria escola. Porém, as chances de se encontrar caminhos alternativos que beneficiem os meninos têm sido limitadas pela interferência de um terceiro fator, que é dentre todos o mais perverso, justamente por impedir o ajuste dos outros dois. Refiro-me à influência nefasta do discurso feminista que apresenta o modo de ser masculino como potencialmente “tóxico”, como algo de que os homens precisam se livrar, para o bem das mulheres e para o seu próprio bem. Nesse ponto, já não estamos mais falando de um constrangimento à masculinidade criado por circunstâncias históricas e sociológicas, e sim de um juízo de valor ideológico e politicamente interessado.

O discurso da “masculinidade tóxica” já se embrenhou em todos os níveis da atividade educacional, impregnando a visão de mundo de boa parte das famílias e de quase todos os gestores e agentes escolares. Em seu nome, os meninos têm sido submetidos a um processo de desvirilização de amplas consequências individuais e sociais. Um exemplo é a redução significativa de suas chances de sucesso escolar. Ao exercer tamanha pressão sobre a masculinidade, a educação atual coloca os meninos em notória desvantagem acadêmica em relação às meninas. Eles são os campeões nos índices de suspensão, expulsão e reprovação. Entre a população menos favorecida economicamente, essa situação tem resultados cruéis. Diminui as chances de mobilidade social e, em casos de maior vulnerabilidade, pode levar à marginalização e à exclusão social.

Do ponto de vista individual, abafar a expressão da sensibilidade natural dos meninos e impedir que ela se desenvolva em formas socialmente legítimas e valorizadas, significa despersonalizá-los e restringir as suas perspectivas de vida. Do ponto de vista coletivo, significa deixar de prepará-los para assumir as suas responsabilidades futuras como cidadãos e pais de família. Em muitas ocasiões cruciais, e para certas atividades específicas permanentes, uma comunidade precisa contar com a energia viril, do mesmo modo como uma família precisa contar com um homem que seja capaz de assumir riscos e obrigações pesadas para provê-la e protegê-la. É nas situações de calamidade, nos eventos de emergência, e no enfrentamento das ameaças externas, que nos damos conta do quanto a força física, a intrepidez e a objetividade masculinas são predicados imprescindíveis e admiráveis. Como escreveu C. Hoff Sommers, no livro já citado: “A história nos ensina que a masculinidade sem moralidade pode ser letal. Mas quando a masculinidade é imbuída de moralidade, ela se torna poderosa e construtiva, e uma dádiva para as mulheres (grifo meu).”

Mas os promotores da “ideologia de gênero” não estão preocupados com nada disso. O que nós percebemos como um problema sério, para eles é o corolário de um projeto que foi laboriosamente posto em prática ao longo de cinco décadas e cujos efeitos começam a se tornar mais visíveis agora. O cenário que temos hoje diante de nossos olhos – meninos pressionados em sua masculinidade, meninas confusas em relação à sua feminilidade – vem sendo idealizado, planejado e executado desde o início da segunda onda feminista nos anos 60, quando as universidades, as escolas e os meios de comunicação começaram a ser ocupados por agentes dedicados à pauta da desconstrução.

Em suma, o projeto de desvirilização dos meninos é a outra face do projeto de desfeminilização das meninas. As meninas são convencidas de que a sua feminilidade as transforma em vítimas dos homens. Ressentidas, elas se desfeminilizam para competir com eles. Os meninos são convencidos de que a sua masculinidade os torna algozes das mulheres. Culpados pela dor que alegadamente lhes causariam, eles se desvirilizam para tentar agradá-las. E, desse modo, chega-se mais perto da desestruturação da família heterossexual monogâmica, por meio do ataque a um de seus principais fundamentos, a complementariedade entre os sexos.

Na ONU, Brasil vota SIM em proposta de retirar dos pais a “autoridade sobre a educação sexual dos filhos”

30 nov 2017

Por Carmadélio Souza
O controle dos pais sobre o modo como as crianças serão expostas à educação sexual na sala de aula foi debatido na semana passada numa comissão das Nações Unidas dedicada ao tema da infância.

A proposta era que, após a leitura do Terceiro Comitê da 72ª Sessão, fosse aprovada uma resolução recomendando que crianças pequenas pudessem ser expostas a aulas sobre sexo sem a necessidade de os pais serem informados. Entre os favoráveis estava o Brasil.

A maneira como votou cada país pode ser visto aqui. Y (sim) é para barrar as resoluções e N (não) é para sua aprovação.

Contudo, após a manifestação contrária dos Estados Unidos, que sob o governo Trump tem impedido o avanço das agendas liberais, os países do continente africano votaram em massa uma emenda contrária. A exceção foi a África do Sul, que ficou ao lado dos países europeus, que sugeriram a mudança.

Sendo assim, a autoridade dos pais sobre a educação sexual dos filhos está, temporariamente, garantida.

O Center for Family and Human Rights, uma ONG pró-vida, explica que o bloco africano e a pequena nação caribenha de Santa Lúcia orquestraram a votação que barrou – com 90 votos a favor da mudança e 78 contrários – as três resoluções abusivas.

Os africanos, liderados pelo Egito, foram inflexíveis, deixando claro que se oporiam a qualquer resolução das Nações Unidas que não levassem em conta a necessidade de “orientação dos pais e dos responsáveis legais”.

Santa Lúcia foi a primeira a propor uma alteração em parágrafos que falavam sobre crianças e adolescentes, que para a ONU são pessoas a partir dos 10 anos de idade.

“Os pais e a família desempenham um papel importante na orientação das crianças”, disse a delegada de Santa Lúcia na Assembleia Geral, insistindo que a linguagem original da resolução não era “adequada”, pois colocava a opinião dos pais em pé de igualdade a das crianças e dos professores.

Ela lembrou a todos do tratado da própria ONU sobre os direitos da criança, que reconhece o papel dos pais no direcionamento da educação de seus filhos.

Visivelmente frustrados, os delegados europeus e latino-americanos pediram uma votação sobre essas emendas. Acabaram vendo prevalecer a vontade dos países mais conservadores.

A União Europeia disse que não “virou a página” sobre educação sexual, indicando que o tema voltará a ser votado. Na mesma linha, os delegados da América Latina chamaram o texto final de “altamente problemático”.

O representante do Canadá disse: “não podemos aceitar isso”. Um delegado australiano afirmou que eles estavam “extremamente decepcionados”.

O delegado da Noruega foi o mais transparente, deixando claro que não podiam aceitar a premissa da emenda porque “as crianças devem decidir de forma livre e autônoma” sobre assuntos que envolvam saúde sexual e reprodutiva.

O representando egípcio, falando em nome dos países africanos, respondeu com igual transparência: “Nossa cultura africana respeita os direitos dos pais” e “rejeita as tentativas de alguns países de impor seu sistema educacional sobre nós”.

Os Estados Unidos e o Vaticano se pronunciaram, enfatizando o papel dos pais na educação sexual e rejeitaram o aborto como um componente da saúde sexual e reprodutiva.

As agências das Nações Unidas continuarão promovendo “educação abrangente sobre sexualidade” através de seus escritórios em todo o mundo. A falta de consenso sobre a questão na comissão frustrou as tentativas de legitimar a erotização precoce como um programa oficial da ONU.

Via G prime, Fonte; ONU e Center for Family and Human Rights

Ideologia de gênero e as novelas

Por que as novelas fazem tanto sucesso?
Como explicar que, por causa de uma telenovela, uma questão como a ideologia de gênero se torne, de uma hora para outra, a nova modinha entre os brasileiros?

Não se fala em outra coisa. Desde que a Rede Globo resolveu aderir ao discurso da ideologia de gênero, colocando uma personagem “trans-homem-gay” na sua principal telenovela, A Força do Querer, o assunto voltou a causar sensação na opinião pública, que, levada pelos sofisticados mecanismos de sedução midiática, se mostra mais uma vez suscetível às campanhas de “conscientização ética” promovidas pela emissora carioca. Só no Twitter, a novela das 9 já foi comentada 2,5 milhões de vezes.

Mas o que explica que uma questão como a ideologia de gênero, repudiada em todo o Brasil nas várias audiências públicas sobre os Planos de Educação, se torne, de uma hora para outra, a nova modinha entre os brasileiros? Por que, afinal de contas, as novelas fazem tanto sucesso?

Na história das civilizações, os homens sempre criaram fábulas para narrar acontecimentos importantes ou transmitir alguma lição de moral às novas gerações. Mitos como o Labirinto de Creta ou a lendária figura do Rei Arthur não tinham apenas a tarefa de entreter uma sociedade fatigada pela rotina do cotidiano, mas também a de oferecer respostas concretas aos dramas existenciais, de sorte que, olhando para o desfecho dessas histórias, o homem pudesse superar seus desafios e crescer como pessoa, conforme explica o mitologista Joseph Campbell: “A função primária da mitologia e dos ritos sempre foi a de fornecer os símbolos que levam o espírito humano a avançar, opondo-se àquelas outras fantasias humanas constantes que tendem a levá-lo para trás” [1].

Baseado nos estudos de psicanálise, Campbell concluiu que as figuras míticas seriam, na verdade, produtos da própria espontaneidade humana, que procura nessas histórias a razão de sua existência, bem como as respostas éticas e políticas necessárias ao seu sadio desenvolvimento. Isso explicaria por que os mitos, por mais diferentes que sejam, contam sempre uma única e mesma história: a jornada do herói — chamado à aventura, iniciação, auxílio de algum sábio ou amigo, batalhas preparatórias, desafio final, morte e ressurreição — até o seu retorno à normalidade da vida; porque seriam projeções da vida real que, como retratam os mitos, também precisa passar por várias transições de morte e ressurreição. Daí que Joseph Campbell tenha dado ao seu mais importante livro o sugestivo título de O herói de mil faces.

Essa missão de oferecer os arquétipos adequados ao comportamento social foi, em nossa época, assumida pelo cinema e pela novela, como produtos da cultura de massa, isto é, aquilo que é artificialmente fabricado para o consumo da população. De acordo com o sociólogo Edgar Morin, “todo um setor das trocas entre o real e o imaginário, nas sociedades modernas, se efetua no modo estético, através das artes, dos espetáculos, dos romances, das obras ditas de imaginação” [2]. Eis o motivo de as novelas fazerem tanto sucesso. Em tese, elas deveriam ser como que um espelho em que cada pessoa poderia encontrar refletida a própria identidade.

A cultura de massa, explica Morin, “constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida prática e à vida imaginária”, cuja tarefa essencial é a de alimentar “o ser semi-real, semi-imaginário, que cada um secreta no interior de si (sua alma)” [3]. Desse modo, os filmes e as novelas repetem as fórmulas típicas das narrativas mitológicas, apresentando, com leves alterações, sempre uma única estrutura de roteiro, com o objetivo de prender a atenção do público por meio de um sistema de “projeção e identificação”. Morin afirma:

Assim, feita de modo estético, a troca entre o real e o imaginário é, se bem que degradada (ou ainda que sublimada ou demasiado sutil), a mesma troca que entre o homem e o além, o homem e os espíritos ou os deuses que se fazia por intermédio do feiticeiro ou do culto. A degradação — ou o supremo requinte — é precisamente essa passagem do mágico (ou do religioso) para a estética [4].
Com efeito, os produtos da cultura de massa transformam-se em um perigoso instrumento de subversão, quando decidem alterar o sentido da mitologia tradicional para oferecer, em seu lugar, as fantasias que levam o ser humano para trás. Esses produtos corrompem o coração do homem que está à procura de arquétipos viris como um Heitor ou um Aquiles e, em vez disso, encontra o duvidoso “trans-homem-gay”, uma figura absolutamente instável e sem identidade clara. O efeito desse esquema de manipulação sobre uma determinada sociedade é devastador, como denuncia Campbell: “Pode ser que a incidência tão grande de neuroses em nosso meio decorra do declínio, entre nós, desse auxílio espiritual efetivo (os mitos)”, coisa que nos mantém “ligados às imagens não exorcizadas da nossa infância, razão pela qual não nos inclinamos a fazer as passagens da nossa vida adulta” [5].

O “trans-homem-gay” , longe de oferecer as condições para que um rapaz se torne um homem maduro, prende-o, ao contrário, às suas rebeldias de adolescente, época em que seu maior “inimigo” era a própria família. Por meio de um tratamento super apelativo, os telespectadores são induzidos a considerá-lo um herói, ao passo que seus pais se tornam objeto de repúdio, porque não aceitam a mudança do filho. A ideia que fica é esta: a mudança de sexo é uma coisa absolutamente “tranquila” e “necessária” para a realização pessoal da personagem, cuja única ameaça ao horizonte de sua felicidade seria, como sugere a novela, a “homofobia” dos familiares. Acontece exatamente o que Edgar Morin denuncia como um dos efeitos malignos da cultura de massa: ela “destituiu parcialmente a família, a escola, a pátria, de seu papel formador, na medida em que os ‘modelos’ do pai, do educador, dos grandes homens foram vencidos pelos novos modelos de cultura que lhes fazem concorrência” [6].

Em qualquer sociedade mentalmente sadia e consciente do alto número de suicídios entre “transgêneros” — causados, atenção, pela angústia que o processo de mudança de sexo gera na intimidade da pessoa, não por uma suposta homofobia —, a novela A Força do Querer seria ridicularizada. Mas estamos no Brasil e “a novela”, como declarou a escritora Glória Perez à revista Veja, “é a crônica do nosso cotidiano” [7]. Ou, ao menos, busca sê-lo.

A influência das produções globais sobre o comportamento dos brasileiros está para além do mero entretenimento. Folhetins como Roque Santeiro, Verão Vermelho e, mais recentemente, Amor à Vida tiveram a missão de introduzir na sociedade debates a respeito do celibato, do divórcio e do homossexualismo, temas antes considerados “tabus” para a maioria da população. Não por acaso, uma pesquisa realizada em 2008 pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento revelou que as novelas da Rede Globo estão intimamente relacionadas com a redução da natalidade e com o aumento no número de separações no país. Agora é a vez da ideologia de gênero.

“Se no futuro alguém pesquisar como se vivia no Brasil”, enfatizou Glória Perez à revista Veja, “será ela (a novela) que vai ensinar isso” [8]. Que as próximas gerações tenham pena de nós!

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

Joseph Campbell, O herói de mil faces. (Trad. de Adail Ubirajara Sobral). São Paulo: Pensamento, 2007, p. 21.
Edgar Morin, Cultura de Massas no Século XX: Neurose. (Trad. de Maura Ribeiro Sardinha). 9.ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009, p. 79.
Id., p. 15.
Id., p. 78.
Joseph Campbell, op. cit., p. 21.
Edgar Morin, op. cit., p. 168.
Marcelo Marthe, “O país recupera seu espelho”, in: Veja, São Paulo, n. 35, pp. 91-99, ago. de 2017.
Ibidem.
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O marxismo desmascarado por um Papa

Numa época em que a ideologia socialista ainda faz a cabeça de muitos, principalmente nas universidades, foi de um Papa que veio a resposta a um dos problemas fundamentais do marxismo: o materialismo econômico.

Normalmente, não se espera que venha do Papa uma reconstrução completa da história do socialismo desde o fim do século XIX. O Papa Bento XVI brindou-nos, no entanto, com um admirável e necessário lembrete do que foi e ainda é o socialismo, e por que ele deu errado. O que fazer senão render-se à sua capacidade intelectual? Ele discerniu o problema fundamental de que inúmeros acadêmicos têm fugido já há 100 anos.

Ele fez isso, mais ainda, numa época em que a ideologia socialista parece ter resistido intacta ao colapso do experimento comunista. Visite os departamentos de ciências humanas da maioria dos campi universitários, por exemplo, e você ainda encontrará intelectuais elucubrando sobre as glórias da teoria socialista. Os estudantes, por sua vez, ainda são encorajados a pensar que ela possa dar certo.

E a União Soviética? Dizem-nos que não era socialismo de verdade. Que tal o nazismo — a palavra alemã para “nacional-socialismo”? Isso tampouco. E quanto ao crescente empobrecimento de países uma vez ricos e agora com governos social-democráticos? Ou ao fracasso do microssocialismo nos Estados Unidos, onde comunidades inteiras vivendo de subsídios governamentais estão sendo agora castigadas com níveis assustadores de patologia social? Nada disso, eles dizem, é socialismo.

Bento XVI não. Ele quer falar sobre o assunto. O tema se encaixa perfeitamente na sua mensagem de esperança. Devemos esperar, afinal, que a nossa salvação venha de Deus ou de alguma transformação material?

As passagens se encontram em sua excelente encíclica Spe Salvi, de 2007. Ele trata desta virtude cristã fundamental e explica o que são a esperança e a salvação, bem como o que elas não são.

A história está repleta de intelectuais que imaginaram poder salvar o mundo — e como resultado criaram o inferno na terra. O Papa inclui os socialistas entre eles, e Karl Marx em particular. Eis um intelectual que imaginou serem possíveis a salvação sem Deus e a criação de algo próximo ao Reino dos céus na terra, bastando que se ajustassem, para tanto, as condições materiais do homem.

A história, na visão de Marx, não é nada mais do que os choques e desmantelamentos dessas forças materiais. Não haveria algo como uma “natureza humana ordenada”. Deus como autor da história certamente não existiria. Tampouco assuntos que seguissem determinadas linhas de moralidade. Somos antes puxados de um lado para o outro por grandes forças impessoais. Mas seria possível submetermos essas forças ao nosso controle, para nosso próprio proveito, se déssemos os passos certos.

E que passos seriam esses, na visão de Marx? As classes trabalhadoras desapropriadas deveriam tomar de volta o que é seu por direito das classes capitalistas exploradoras. Chamem isso de “roubo em massa”, se quiserem — o importante seria dominar as forças produtivas da sociedade. De qualquer forma, é nesse rumo que caminharia a história, segundo Marx; só precisaríamos dar-lhe um empurrão na direção certa para que atingíssemos a glória do socialismo. E como isso funcionaria? Bem, Marx nunca chegou a pensar muito nisso. E por que ele deveria? As grandes forças impessoais da história cuidariam de tudo. Seu único trabalho era descrever os grandes eventos que culminariam no ambiente revolucionário. O que viria logo depois não seria tanto uma questão de “ciência burguesa”, mas algo que deveríamos aceitar simplesmente com base na fé… a fé de que, em algum lugar, algum dia e de alguma forma, o socialismo começará a funcionar brilhantemente.

Pode parecer bizarro, mas não é tão estranho assim. Olhando para o mundo antigo, vemos que muitos dos maiores intelectuais imaginavam que chegaria um momento em que os problemas de economia — como escassez, propriedade, cálculo e dinheiro — todos desapareceriam, dando lugar à utopia. Alguém poderia dizer que isso não passa de um anseio pelo Jardim do Éden, mas há um fato crítico sendo ignorado: a natureza humana é a mesma agora como sempre foi. Haverá sempre uma necessidade de avançar para além do estado de natureza. O problema econômico é insolúvel. Afirmar simplesmente que um novo mundo irá magicamente surgir traz à tona outras questões cruciais como, por exemplo, como iríamos nos alimentar, nos vestir e abrigar as pessoas.

O Papa Bento XVI sintentiza perfeitamente o problema:

Com a vitória da revolução, porém, tornou-se evidente também o erro fundamental de Marx. Ele indicou com exatidão o modo como realizar o derrubamento. Mas não nos disse como as coisas deveriam proceder depois. Ele supunha simplesmente que, com a expropriação da classe dominante, a queda do poder político e a socialização dos meios de produção, ter-se-ia realizado a Nova Jerusalém. Com efeito, então ficariam anuladas todas as contradições; o homem e o mundo haveriam finalmente de ver claro em si próprios. Então tudo poderia proceder espontaneamente pelo reto caminho, porque tudo pertenceria a todos e todos haviam de querer o melhor um para o outro.
O socialismo não inclui um plano para o mundo pós-revolucionário. Uma vez que os economistas descobriram essa falha central, eles tiraram vantagem disso e mostraram que o socialismo não tinha em mente um sistema nem para resolver o problema econômico fundamental de alocar recursos escassos para necessidades ilimitadas, nem certamente para criar a nova riqueza que seria necessária para sustentar uma população em crescimento.

Mesmo assim, a revolução aconteceu:

Assim, depois de cumprida a revolução, Lenin deu-se conta de que, nos escritos do mestre, não se achava qualquer indicação sobre o modo como proceder. É verdade que ele tinha falado da fase intermediária da ditadura do proletariado como de uma necessidade que, porém, num segundo momento ela mesma se demonstraria caduca. Esta “fase intermediária” conhecemo-la muito bem e sabemos também como depois evoluiu, não dando à luz o mundo sadio, mas deixando atrás de si uma destruição desoladora. Marx não falhou só ao deixar de idealizar os ordenamentos necessários para o mundo novo; com efeito, já não deveria haver mais necessidade deles.
A “destruição desoladora” a que se refere Bento XVI é uma alusão à guerra ocorrida logo após a revolução. Milhões morreram de fome e chacinados. Ficou claro para Lenin que ele deveria recuar, antes que não houvesse mais ninguém a ser governado. Foi o que ele fez — e na hora certa, com a Nova Política Econômica. Mas a ditadura continuou. E, com ela, o empobrecimento maciço da população.

Então, por que Marx nunca explicou como funcionaria o socialismo?

O fato de ele não dizer nada sobre isso é lógica consequência da sua perspectiva. O seu erro situa-se numa profundidade maior. Ele esqueceu que o homem permanece sempre homem. Esqueceu o homem e a sua liberdade. Esqueceu que a liberdade permanece sempre liberdade, inclusive para o mal. Pensava que, uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria. O seu verdadeiro erro é o materialismo: de fato, o homem não é só o produto de condições econômicas nem se pode curá-lo apenas do exterior criando condições econômicas favoráveis.
Assim o Papa colocou os problemas de economia no seu devido lugar: trata-se de um assunto prático que precisa ser resolvido dentro de uma moralidade e de uma antropologia sadias. O socialismo fracassa por uma razão simples e específica: ele não possui um sistema que dê preço aos fatores de produção e que torne o cálculo econômico possível. Os preços advêm da troca entre a mesma propriedade privada e aquilo que o socialismo distribui.

E, mesmo assim, o problema moral com o socialismo é ainda mais profundo: ele exalta o furto como uma ética e ignora o direito humano à liberdade.

Seria muito bom que todos os católicos interessados em economia lessem esta encíclica. Alguns já estão entendendo a mensagem: a Igreja Católica na Venezuela trabalhou duro contra o perigoso plano de Hugo Chávez para a nacionalização e planificação da economia. Um dia, o mundo virá a aprender as lições que a história do socialismo ensinou — e que o Papa emérito Bento XVI com tanta maestria já deixou explícitas.

Por Rev. Robert A. Sirico — Crisis Magazine | Tradução e adaptação: Equipe CNP
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